O setor global de insumos biológicos, que abrange desde fabricantes de produtos de biocontrole, bioestimulantes e até biofertilizantes, está passando neste ano por mais transações de fusão e aquisição (M&A), investimentos e parcerias do que em 2024, o que interrompe uma trajetória de desaceleração que vinha ocorrendo nos últimos dois anos. O momento, porém, é marcado menos por aquisições, e mais por parcerias de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e acordos de distribuição.
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Em 2024, o setor de biológicos registrou 71 operações financeiras, das quais 20 foram de fusão e aquisição. Já neste ano até outubro, o número de transações em geral já supera todo o número do ano passado. Entraram nestes números a parceria entre a Nitro e a startup Symbiomics para o desenvolvimento de inoculantes, anunciada em julho, e o investimento da Corteva na argentina Puna Bio. O valor financeiro total das operações, porém, tende a ser inferior ao de anos anteriores.
Os dados são da consultoria DunhamTrimmer. Segundo levantamento da empresa, o ano com mais transações no setor foi em 2022, quando foram registradas 82 transações, das quais 23 envolviam fusões e aquisições e aportes financeiros. A partir de 2023, o movimento perdeu força e a quantidade de operações caiu para 74.
De acordo com Ignacio Moyano, vice-presidente da DunhamTrimmer para a América Latina, o crescimento das operações neste ano isso indica uma retomada, porém com um perfil menos agressivo.
Segundo Moyano, isso acontece porque o mercado entrou em uma fase mais madura. “Hoje, as empresas buscam aquisições menores, com produtos já testados e desempenho comprovado. Os investidores não estão procurando mais unicórnios, mas camelos, que podem cruzar todo o caminho e resistir às adversidades”, disse. “As transações serão mais seletivas. Empresas precisam estar preparadas, com dados organizados e processos claros. Isso vale tanto para quem quer vender quanto para quem busca crescer”, acrescentou.
Moyano aponta que, no pós-pandemia, houve um entusiasmo generalizado com o mercado de biológicos, com expectativas altas de crescimento rápido, semelhantes às de startups de tecnologia. No entanto, a realidade do setor, que demanda validações técnicas, regulamentações e ciclos agrícolas mais longos, impôs outro ritmo.
Fatores econômicos também pesaram. Com custos mais altos e juros em elevação, há mais seletividade na alocação de capital. Segundo Moyano, a curva de crescimento anterior foi “exagerada”, e o momento atual é de estabilização.
Outras formas de colaboração vem ganhando relevância. Em 2023 e 2024, acordos de distribuição e parcerias comerciais representaram a maioria das transações. Entre os fatores que moldam esse ciclo estão a busca por retornos mais previsíveis, validação técnica de produtos e foco em integração operacional.
De acordo com o vice-presidente, enquanto antes havia uma tendência de compra direta de empresas, atualmente há mais interesse em manter equipes experientes e adaptar estratégias à realidade local, especialmente no Brasil. Afinal, no setor de biológicos, as equipes têm conhecimentos únicos sobre metodologias de comercialização, modelos de garantias oferecidas aos produtores, prazos de pagamento e regulamentações específicas.
Moyano vê o Brasil como protagonista no mercado de biológicos, principalmente após a aprovação da lei de insumos biológicos em 2024. Outros países latinos também estão se destacando. México e Peru tiveram crescimento significativo, e Colômbia e Chile aparecem com movimentações consistentes. Já a Argentina é observada com cautela devido ao contexto macroeconômico, diz Moyano