
A 13ª edição do Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) iniciou hoje (15/10) e segue até sábado (18/10), em Juazeiro (BA). O evento, promovido pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), reúne pesquisadores, agricultores, povos e comunidades tradicionais para discutir como a convivência com os territórios pode oferecer soluções concretas diante da crise climática.
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Com o tema “Agroecologia, Convivência com os Territórios Brasileiros e Justiça Climática”, o congresso é realizado no campus da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e em diversos espaços da cidade.
“O fato de ser na região evidencia o potencial do Semiárido como um dos territórios que mais produzem alimentos saudáveis no país, resultado de políticas de acesso à água, tecnologias sociais e fortalecimento das famílias rurais”, diz Clériston Belem, coordenador institucional no Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), um dos organizadores do evento.
Entre as atividades do congresso estão a Conferência de Abertura, o Terreiro de Inovações Camponesas, a Feira da Biodiversidade e o Festival de Cinema Agroecológico, além de apresentações culturais que aproximam saberes tradicionais e científicos. Realizado a cada dois anos, o CBA, que é considerado o maior encontro sobre agroecologia da América Latina.
Estudo
Uma das atrações do evento é o lançamento de um estudo coordenado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) em parceria com a Fiocruz, AS-PTA, Associação Agroecológica Tijupá e Fase.
O mapeamento “Agroecologia, Território e Justiça Climática”, produzido entre abril e junho de 2025, identificou 503 experiências agroecológicas em 307 municípios de todos os Estados brasileiros, envolvendo mais de 20 mil pessoas entre agricultores familiares, povos indígenas, quilombolas, jovens e comunidades tradicionais.
Segundo o estudo, quase metade (48,1%) das experiências agroecológicas do Brasil já registrou perda de alimentos devido às mudanças climáticas.
Para 66% das experiências, as mudanças no clima passaram a ser percebidas nos últimos dez anos. O aumento da temperatura foi um fenômeno citado por mais de 73% dos consultados. Além disso, produtores também identificaram transformações no ciclo da água, com alteração no calendário de chuvas verificado por 70,8% das experiências; diminuição das chuvas, em 57,3%; chuvas extremas, em 37%; alagamento de áreas em 26%; e aumento das chuvas em 25% dos grupos.
Estudo sobre impacto das mudanças climáticas sobre a agroecologia
Divulgação
De acordo com Helena Lopes, pesquisadora da Fiocruz e coordenadora do estudo, diversas experiências de enfrentamento às mudanças climáticas podem ser minadas se não receberem o devido apoio do Estado. Apesar disso, as comunidades têm encontrado caminhos sustentáveis de adaptação por meio de práticas como manejo do solo, diversificação produtiva, reflorestamento, compostagem e tratamento ecológico de esgotos.
Perfil
Além dos aspectos ambientais, o estudo identificou que mulheres e pessoas negras lideram mais de 70% das experiências, com destaque para as mulheres negras, responsáveis por 19% das iniciativas.
A maioria das ações (35% das experiências) está voltada à produção, beneficiamento e comercialização de alimentos. Outros importantes focos das experiências são a conservação da agrobiodiversidade e a convivência com os territórios (31,4%), que incluem salvaguardas de sementes e raças de animais, práticas de regeneração ecológica, como manejo do solo, salvaguarda de espécies e sistemas agroflorestais (SAFs).