O trágico desabamento do Edifício Andrea, localizado no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza, completa seis anos nesta quarta-feira (15). O episódio, marcado por dor, repercussão política e judicial, chama atenção até hoje por levantar questionamentos graves sobre fiscalização urbana, segurança estrutural e responsabilidade civil.
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Era 15 de outubro de 2019, Dia do Professor, quando por volta das 10h28 da manhã o edifício colapsou abruptamente. Com sete pavimentos mais a cobertura, o Edifício Andrea ficava na rua Tibúrcio Cavalcante, área nobre da capital cearense. O impacto da queda foi tão repentino que lojas vizinhas e mercadinhos foram atingidos pela poeira e pelos escombros.
Desde os primeiros instantes, equipes de resgate correram ao local. Foram mobilizados mais de 130 bombeiros, agentes da Defesa Civil, cães farejadores, equipes de apoio médico e voluntários que se revezaram durante 103 horas de operação contínua.
Ao final, nove pessoas morreram, entre elas moradores do prédio e uma vítima externa — Frederick Santana dos Santos, que trabalhava num mercadinho ao lado no momento do colapso. Ainda foram resgatadas com vida sete pessoas, em meio à angústia e ao desespero de familiares.
Causas e falhas apontadas
A perícia e investigações posteriores indicaram uma série de fragilidades estruturais e falhas de manutenção. Entre os problemas identificados estão oxidação em pilares, desagregação do concreto, intervenções inadequadas e falta de reforços compatíveis.
Um detalhe apontado pela apuração é de que o edifício nunca havia passado por vistoria oficial, nem mesmo após a promulgação da lei municipal que, em 2012, tornou obrigatórias as inspeções periódicas em edificações em Fortaleza. O Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou três pessoas — dois engenheiros e um pedreiro — por homicídio doloso, sob a alegação de que assumiram o risco de morte com sua conduta negligente.
Também foi apontada possível contribuição de reformas recentes e rachaduras prévias nos pilares, alertas que haviam sido discutidos em reuniões do condomínio sem a adoção de intervenções corretivas eficazes.
Justiça e indenização
A longa batalha judicial para definir responsabilidades, indenizações e desapropriação do terreno se arrastou por anos. Em agosto de 2023, os proprietários dos imóveis destruídos receberam cerca de R$ 1,7 milhão pagos pela Prefeitura de Fortaleza como indenização pelo terreno onde estava o edifício. O valor foi distribuído entre 12 famílias, com parcela um pouco maior destinada ao proprietário da cobertura duplex.
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Renascimento
O estudante Davi Sampaio é um dos sobreviventes e não consegue esquecer os momentos de aflição após o desabamento. Ele enviou uma selfie aos familiares enquanto estava preso sob os escombros do prédio.
“A ideia de mandar uma foto no meio daquela situação toda foi justamente para avisar aos meus parentes, amigos e familiares que, apesar do acontecimento, eu estava bem, estava tecnicamente seguro, e que eles não precisavam se preocupar tanto pois tinham muitas pessoas trabalhando incansavelmente para me tirar dali o mais rápido possível, então foi mais um meio de informar e tranquilizar os meus amigos e parentes”, afirmou Davi Sampaio ao Grupo Cidade de Comunicação à época do desabamento.

Foto: Arquivo Pessoal
Vítimas do desabamento
As nove pessoas mortas não representam apenas números ou nomes. Foram histórias e sonhos interrompidos de forma abrupta, sem sequer ter a chance de uma despedida. Morreram no desabamento:
- Maria da Penha Bezerril Cavalcante
- Vicente de Paula Menezes
- Eriverton Laurentino Araújo
- Rosane Marques de Menezes
- Frederick Santana dos Santos
- Izaura Marques Menezes
- Antônio Gildásio Holanda Silveira
- Nayara Pinho Silveira
- Maria das Graças Rodrigues, síndica do prédio
Solidariedade
O ocorrido, além de mexer com a vida da cidade, que estava atenta às informações sobre o resgate às vítimas, expôs também a solidariedade dos fortalezenses em meio à tragédia. Dezenas de pessoas deixavam alimentos e água nas proximidades do local e ajudavam a controlar a entrada e saída de quem circulava. Além disso, um ponto de apoio com alimentos e água foi montado para os profissionais que ajudavam nas buscas.

Foto: Governo do Ceará
A fisioterapeuta Ana Carolina Furtado viveu de perto o voluntariado durante o resgate às vítimas.
“Chegando lá, eu presenciei aquela cena que parecia um cenário de guerra, nunca tinha vivenciado aquilo. Conforme foi passando o tempo, foram chegando mais profissionais e a gente montou uma equipe para prestar todo o apoio não só aos bombeiros, mas também a todos que estavam naquele trabalho de resgate, que é muito exaustivo. A gente tem uma missão na vida que é ajudar sempre o próximo. Eu fui como uma profissional da saúde mas não apenas isso, eu estava ali realmente de coração para ajudar o próximo”, finaliza Ana Carolina.
O resgate às vítimas durou cinco dias, com a ajuda de cães farejadores, sem interrupção, até que todas fossem retiradas dos escombros. A atuação do Corpo de Bombeiros rendeu homenagens de órgãos políticos, clubes de futebol e das famílias das vítimas.
Do Edifício Andrea à Companhia 15 de Outubro
No local onde antes ficava o Edifício Andrea, hoje funciona o Quartel 15 de Outubro do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBM-CE), uma homenagem e sinal simbólico de compromisso com a prevenção e resposta emergencial. O Quartel tem uma área construída de 831 metros quadrados, dentro de uma área de 580 metros quadrados, dividida em três pavimentos e subsolo.
O projeto inclui sistema de energia solar, cobertura verde, entre outros equipamentos. A estrutura vai permitir reforço operacional dos bombeiros na região dos bairros Aldeota, Dionísio Torres, Meireles, Varjota, Cocó, Guararapes e outros bairros adjacentes.

Foto: Estácio Júnior/Governo do Ceará
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