Associar o azeite de oliva apenas à gastronomia adulta é um equívoco. O alimento vem ganhando versões com baixa acidez e sabor delicado para agradar o público infantil, que é exigente, e também os pais, na tentativa de introduzir alimentos saudáveis desde cedo nas refeições dos pequenos.
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O chamado “azeite kids” é uma resposta a essa crescente preocupação com a dieta das crianças por ser rico em antioxidantes naturais e gorduras boas, essenciais para o desenvolvimento cerebral e prevenção a doenças cardiovasculares e obesidade, afirma o Olive Oil World Congress.
A importância é tamanha durante a primeira fase da vida que, na pirâmide da dieta mediterrânea, o consumo é indicado com frutas, vegetais, leguminosas, nozes e grãos naturais.
“Os pilares tradicionais continuam a ser a base do modelo. Mas, pela primeira vez, incorpora conceitos essenciais, como a sustentabilidade alimentar, promovendo o consumo de produtos locais e sazonais. Também destaca o papel fundamental do exercício físico, do descanso adequado e da saúde emocional no bem-estar”.
No Brasil, duas marcas que decidiram ingressar no segmento já colhem frutos do trabalho: Vinícola Essenza e Estância das Oliveiras. Ambas tiveram o azeite desenvolvido para o público infantil premiado no Olivinus, um dos concursos mais importantes do mundo, no mês de setembro, com a distinção máxima “Gran Prestigio Oro”.
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Experiência pessoal
Produtor de azeites e proprietário da Vinícola Essenza, em Santo Antônio do Pinhal (SP), Herbert Sales desenvolveu o MantiKids inspirado no filho Henrique, de três anos. Ele queria oferecer um alimento saudável, de alta qualidade e, claro, saboroso, assim como o já consumido e muito apreciado pelos pais.
E a ideia que, num primeiro momento era familiar, se expandiu, transformando-se num rótulo de sucesso que não agrada apenas o herdeiro, mas inúmeras outras famílias.
“Durante as atividades nas oficinas gastronômicas do projeto ‘Chefinho da Mantiqueira’, em 2024, percebemos o encantamento das crianças com o universo dos azeites e decidimos fazer essa vivência ser real, visto que nossa colheita é mais prematura e com frutos ainda um pouco verdes. A sensação de picância e amargor não agradava 80% delas”, conta.
Outro objetivo ia mais além – e também foi conquistado: aproximar as novas gerações da cultura do azeite. Se os adultos usufruíam do alimento por escolha própria em diferentes preparações da gastronomia, por que não incentivar as crianças ao hábito?
“Observamos que, apesar de o azeite ser um dos pilares da dieta mediterrânea, poucas marcas se dedicavam a desenvolver um produto pensado para o paladar e com as necessidades nutricionais corretas. Essa lacuna inspirou a criação de um azeite que fosse, ao mesmo tempo, didático, sensorialmente leve e nutricionalmente rico, como um convite para ser provado”, diz Sales.
Ajustes na produção
O processo de fabricação do MantiKids, que leva azeitonas das variedades Arbequina e Koroneiki, as mesmas utilizadas na produção dos outros azeites da marca, é semelhante. Mas, para que ficasse suave e pudesse ser consumido puro ou adicionado às papinhas e frutas sem causar rejeição, o produtor fez dois ajustes. O primeiro foi no tempo de colheita. Depois, na malaxagem, etapa de mistura da pasta de azeitona.
“Realizamos uma extração mais fria e mais rápida, o que suaviza notas amargas e picantes e preserva compostos aromáticos mais delicados. A colheita é feita quase no fim do período, visto que nossa altitude muito colabora, pois os frutos amadurecem de forma mais lenta e tardia. Com isso, processamos todos os monovarietais e blends mais intensos e depois dedicamos tempo só para processar o azeite kids. Todo o processo é acompanhado por análises sensorial e gustativa”, detalha o produtor.
Empresas elevam o sabor frutado e reduzem amargor e picância
Divulgação
Mais saúde na garrafa
A Estância das Oliveiras, de Viamão (RS), lançou a versão kids do azeite de oliva extravirgem em 2022 como parte da programação de aniversário da Quinta da Estância, fazenda de turismo rural e pedagógica junto à Estância, após notar que o público infantil evitava o azeite tradicional consumido pelos pais, explica Rafael Goelzer, sócio-diretor da empresa gaúcha.
A ideia da marca, então, foi alterar as características marcantes do líquido, elevando o sabor frutado, adorado pelos pequenos, e reduzindo a picância e o amargor.
“Quando a gente percebeu que havia essa questão de paladar, e tendo em vista que muitas vezes os pais não utilizavam extravirgens verdadeiros pela picância e amargor na alimentação das crianças, decidimos criar o azeite kids. Não foi uma oportunidade específica de mercado, mas para atender a demanda do nosso público”.
Saiba-mais taboola
A principal dificuldade durante o processo de fabricação foi trabalhar a análise de qual azeitona seria utilizada. E, após testes, a Estância escolheu a Arbequina. A Koroneiki, variedade também cultivada pela família no Rio Grande do Sul, está presente na composição, mas em menor quantidade.
Outro cuidado foi definir o tempo de maturação do fruto. Isso porque, os azeites desenvolvidos na olivícola são feitos com azeitonas colhidas precocemente.
“Colhemos a azeitona com uma maturação média, ao invés de verde, assim reduzimos a picância e o amargor e aumentamos muito o frutado. Isso trouxe um sabor sensorial de floral para o azeite de oliva. Além disso, reduzimos mais a temperatura das azeitonas antes de entrarem no processo produtivo, evitando a oxidação e mantendo a acidez do azeite muito baixa”, descreve.
Com esses cuidados, tomados desde o plantio, o azeite Estância das Oliveiras Kids ganhou sabor e clientes fieis. E não apenas as crianças, mas também os pais que buscam transformar a alimentação em saúde.
“Não introduzimos em nosso azeite nada que não seja a azeitona. Ele é realmente o néctar da fruta e tem milhares de benefícios. É uma explosão de sabor dentro de uma garrafa. O propósito é levar saúde para as crianças e confiança aos pais, porque sabemos que o azeite é um dos alimentos mais fraudados do mundo. Queríamos fazer um azeite que fosse palatável para as crianças e que os pais tivessem a certeza absoluta que é de altíssima qualidade”, destaca Goelzer.