
A cooperativa paranaense Castrolanda, tradicional no setor de grãos e de leite, está abrindo uma nova frente de atuação no norte do Tocantins, onde pretende desenvolver um projeto de produção de cacau. A iniciativa marca a entrada da cooperativa em uma cultura até então inédita para seus associados e abre caminho para a diversificação de atividades dos produtores cooperados.
Segundo Vitor Almeida, gerente de Estratégia da cooperativa, o cacau foi escolhido após dois anos de estudos que analisaram clima, logística e oportunidades agrícolas em quatro estados. O norte do Tocantins, especialmente a região de Colinas, se destacou pelas condições favoráveis ao cultivo — clima quente, terras com boa aptidão agrícola e acesso logístico ao Maranhão, que deve ser a principal rota de escoamento da produção.
“O cacau não é viável no Sul, por causa do frio. Mas no Tocantins, especialmente no norte do estado, o clima é ideal. Visitamos uma fazenda no Bico do Papagaio e vimos que a produção responde muito bem”, afirmou um representante da cooperativa.
Projeto-piloto e capacitação técnica
A Castrolanda deu início a um projeto-piloto com dois produtores cooperados, que serão os primeiros a testar o cultivo na região. Eles preferiram não falar neste momento. A cooperativa está contratando um especialista em cacau para acompanhar o processo e orientar os produtores nas etapas de plantio, manejo, fermentação e secagem das amêndoas.
“O cacau é novo para nós. Ninguém sabe direito como manejar. Estamos começando do zero, com apoio técnico, porque queremos fazer direito desde o início”, afirmou o executivo. O cronograma prevê o início dos plantios em 2026, e a primeira colheita em quatro ou cinco anos.
Beneficiamento e padronização
Caso o projeto se mostre viável, a cooperativa planeja construir uma unidade de beneficiamento na região, algo raro fora das propriedades rurais. Hoje, o processo é feito de forma improvisada nas fazendas, sem estrutura adequada e com grandes variações de qualidade.
Fruto do cacau é uma das estratégias da Castrolanda para diversificar negócios
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O objetivo é padronizar a amêndoa e atender à demanda crescente da indústria de chocolate. “As empresas estão interessadas em cooperativas que consigam organizar a produção e garantir qualidade. A indústria precisa de amêndoas boas, mas hoje enfrenta perdas grandes”, disse o dirigente.
A Cargill é uma das empresas que manifestou interesse em apoiar o projeto e discutir mecanismos de estabilidade de preço. “Há um risco, claro, porque o cacau já deu prejuízo no passado, com problemas como a vassoura-de-bruxa. Mas, se tivermos uma base técnica sólida e segurança comercial, pode se tornar uma cultura muito interessante para o cooperado”, afirmou Almeida.
Nova fronteira agrícola
A escolha do Tocantins também reflete o movimento de expansão das famílias cooperadas da Castrolanda, que precisam dividir suas áreas no Paraná e enfrentam o alto custo da terra no Sul. “É natural que busquem novas fronteiras. A região de Araguaína tem estrutura, hospital, escolas e boa logística. É praticamente a capital do Matopiba”, disse o executivo.
Por lá, a Castrolanda já anunciou o investimento de R$ 124 milhões em uma unidade de recebimento de grãos. Segundo a cooperativa, o projeto é apenas o primeiro passo de uma estratégia de longo prazo para consolidar a presença fora do Paraná e estimular a diversificação das culturas cooperadas. “Somos pioneiros por tradição. Assim como nossos fundadores holandeses foram desbravadores no Paraná, queremos ser também os primeiros a profissionalizar o cacau no Tocantins”, completou Almeida.