
A liderança da Coalizão de Agricultura para Descarbonização entregou nesta quinta-feira (9/10) ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, um plano para acelerar o processo de redução das emissões de carbono pela agropecuária. A meta é reduzir as emissões líquidas de carbono entre 59% e 67% até 2035 e alcançar a neutralidade em 2050, seguindo as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
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A coalizão é liderada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e pelas empresas Amaggi, Nestlé, Syngenta, Tereos e Bayer. Ao todo, a coalizão reúne 43 empresas, entidades e organizações da sociedade civil e tem como missão definir recomendações para avançar na descarbonização e ajudar a promover a mudança no setor.
De acordo com dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), a agropecuária é responsável por 30% das emissões líquidas nacionais de gases de efeito estufa, o que corresponde a cerca de 480 milhões de toneladas de carbono equivalente por ano, das quais 94% são emitidas pela pecuária.
Com o crescimento esperado da produção agropecuária até 2050, se o setor incorporar nas novas áreas de cultivo medidas para descarbonização já usadas pelo setor, como o plantio direto, as emissões líquidas podem chegar a 650 milhões de toneladas de carbono equivalente (CO₂e) em 2050. Se não for implementada nenhuma ação, as emissões líquidas chegarão a 790 milhões de toneladas de CO₂e.
Com a colaboração de instituições científicas como Embrapa, Fundação Getulio Vargas, Fundação Dom Cabral e Universidade de São Paulo, e mais de 1,3 mil entrevistas com produtores rurais, a Coalizão da Agricultura fez discussões com especialistas e lideranças do setor em mais de 30 reuniões. Ao fim desse processo, foram definidas 15 alavancas para acelerar a redução de emissões de CO₂e, que são ferramentas já adotadas por parte dos produtores.
Marina Grossi, presidente do CEBDS e enviada especial do setor empresarial para a COP30, diz que cinco dessas alavancas devem ser implementadas em 60 milhões de hectares de áreas degradadas atualmente, com aplicação posterior de medidas complementares. São elas: o sistema de plantio direto, plantio de cobertura, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), a expansão de pastos de alto vigor (com alta fertilidade e bem manejados) e o aumento da produtividade do rebanho.
Essas cinco alavancas têm potencial para mitigar 80% das emissões líquidas até 2050. As outras dez alavancas complementares têm potencial para reduzir os outros 20%.
“A principal mensagem é que o setor agropecuário pode atingir a neutralidade das emissões. Já existem milhares de soluções inovadoras e tecnologias que já são adotadas no Brasil pela agricultura. O que a gente precisa é acelerar a implementação”, afirma Grossi.
A coalizão defende uma primeira onda de investimentos para implantação das cinco alavancas principais, seguida de uma segunda onda de implantação das outras dez alavancas.
A segunda onda de ação incluiria adoção nas áreas de plantio direto, plantio de cobertura, sistemas irrigados, bioinsumos, agricultura digital, fertilizantes especiais, manejo de resíduos da produção animal, terminação intensiva, eficiência operacional e combustíveis renováveis e intensificação da produtividade do rebanho.
“São tecnologias conhecidas e já implementadas por parte dos produtores. O grande problema é ter o capital catalítico para fazer o investimento para a transição”, afirma Juliana Lopes, diretora de ESG, comunicação e compliance da Amaggi.
Investimentos necessários
Para adotar essas alavancas, a estimativa é que serão necessários investimentos entre US$ 120 bilhões e US$ 170 bilhões para viabilizar as alavancas quantificadas até 2050. Levando em conta uma continuidade de investimentos já existentes, como Plano Safra e Ecoinvest, a lacuna de investimento para neutralizar as emissões é de US$ 100 bilhões.
De acordo com a Coalizão da Agricultura, há potencial para converter 32,3 milhões de hectares de lavouras em áreas de agricultura regenerativa, que engloba as alavancas de descarbonização. O investimento inicial é estimado em US$ 2,9 mil por hectare, com retorno da lucratividade em até dez anos.
Lopes observa que hoje o Plano Safra é o principal capital catalítico, com US$ 2 bilhões destinados à descarbonização na safra 2024/25, mas com potencial de ampliação, incluindo a descarbonização aos programas de custeio, investimento e comercialização. O governo também oferece o Ecoinvest, programa que combina recursos do Fundo Clima e capital privado para financiar projetos sustentáveis, e já realizou dois leilões, totalizando US$ 13,7 bilhões em recursos.
“Os recursos existem, é uma questão de ter foco voltado para a descarbonização. O Plano Safra precisa vir direcionado à redução das emissões”, afirma a diretora.
Para reduzir essa lacuna, a Coalizão da Agricultura sugere algumas medidas, como aumentar o capital para catalisar o processo de descarbonização, garantir mais acesso a esse crédito, intensificar o suporte aos produtores, impulsionar pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de redução de emissões, beneficiar produtores que adotem práticas regenerativas, pagar ao produtor pelos serviços de conservação dos ativos naturais e regulamentar e consolidar o mercado de carbono.