A aposta em práticas de agricultura regenerativa, como o uso massivo de produtos biológicos e aplicação por drones, resultou em um “ganho” de 3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar nesta safra para a Tereos, que sofreu com o impacto da forte seca que atingiu os canaviais paulistas. A empresa fez a comparação com a safra 2021/22, quando também faltou chuva e os canaviais do grupo produziram apenas 15 milhões de toneladas de cana. A expectativa era de que a moagem fosse de 20,5 milhões de toneladas.
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Felipe Mendes, diretor de Sustentabilidade, Novos Negócios e Relações Institucionais da Tereos, diz que a produção deste ano também sofreu com os efeitos das queimadas do ano passado, que atingiram 30 mil dos 170 mil hectares de cana própria da empresa — o impacto financeiro doas chamas foi de cerca de R$ 100 milhões, sem contar os prejuízos nos 130 mil hectares dos fornecedores. Ainda assim, foi a estiagem o fator determinante para o declínio da produção dos canaviais.
A Tereos já implantou práticas de agricultura regenerativa em mais de 30% de suas operações agrícolas. O objetivo da companhia, diz o executivo, é manter o equilíbrio da vida no solo, controlar pragas, ter eficiência agrícola e equilibrar o meio ambiente.
Segundo Mendes, ainda há muito caminho a percorrer, mas o uso dos biológicos e de outras práticas da agricultura regenerativa já ajudou a elevar a resiliência dos canaviais em anos de poucas chuvas, como tem sido 2025.
Segundo José Olavo Vendramini, superintendente de excelência agronômica e negócios agrícolas da empresa, em anos de regime normal de chuvas, a Tereos já obtém produtividade superior à de outras usinas. “Vemos atualmente uma recorrência maior de anos de seca do que há dez anos. Nesse quadro, o trabalho que estamos fazendo nos nossos canaviais e também em boa parte dos nossos parceiros tem feito a diferença”, avaliou.
Vinhaça na produção
Segundo Vendramini, a grande virada nos tratos culturais da empresa começou em 2017, com a aplicação da vinhaça de maneira localizada. No trabalho, caminhões jogam o produto diretamente em seis linhas de plantio, no volume adequado a cada talhão.
O mesmo caminhão carrega também um tanque menor com fertilizantes especiais. A aplicação desses insumos ocorre separadamente, de acordo com a necessidade do solo, em áreas em que ainda não é possível usar a vinhaça. Esses produtos emitem menos gases de efeito estufa do que os fertilizantes convencionais, são aplicados em dosagens menores e são mais eficientes.
O superintendente conta que drones de asa fixa mapeiam as linhas de cultivo dos canaviais. Essa opção, explica ele, torna possível o uso do piloto automático nas operações de plantio, colheita e tratos culturais.
No preparo do solo, a companhia revolve minimamente a terra para preservar a palhada e fomenta a rotação de culturas, ações que visam a controlar erosão, pragas e ervas daninhas. Também entra no preparo do solo o uso de calcário para correção e condicionamento e a aplicação do composto formulado com os resíduos oriundos da indústria.
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No plantio, a Tereos adotou há cinco anos o uso de nematicidas e fungicidas 100% biológicos. Cerca de 70% dos inseticidas também são biológicos. Só ficam fora do pacote biológico os herbicidas porque ainda não há moléculas viáveis no mercado. A empresa também usa inoculantes e bioestimulantes.
Com a intenção de usar bioinsumos cada vez mais, a companhia assinou em 2024 um acordo de três anos com a Koppert que prevê trabalho de pesquisa e desenvolvimento de insumos biológicos.
Segundo Vendramini, a empresa faz análise de solo todos os anos e já observou um aumento da matéria orgânica, mas tem consciência de que é um trabalho constante e de longo prazo.
Há quatro anos, a Tereos trocou os aviões agrícolas por drones para fazer pulverização mais precisa. A liberação de produtos biológicos, como vespas, que era manual, passou a ser feita por drones. A companhia também adotou os robôs Solix, da Solinftec, que combinam sensores e inteligência artificial para identificar e pulverizar as plantas daninhas com precisão.
O diretor de sustentabilidade afirma que a Tereos já tem a melhor pegada de carbono entre as empresas do segmento no Brasil e tem como objetivo ser neutra em emissões em 2050. Até 2033, a companhia quer reduzir em 50% suas emissões industriais, em 36% as emissões agrícolas e em 36% as emissões de escopo 3 (as emissões indiretas, de clientes).
“A agricultura regenerativa tem um papel fundamental nas nossas metas de descarbonização. Usar fertilizantes orgânicos e bioinsumos e cuidar do equilíbrio do solo é vital para reduzir a necessidade de correção do solo e o uso de produtos químicos”, explicou.
A empresa já tem um produto com emissões 40% menores, o que a levou a fechar 20 contratos com clientes da Europa que precisam dos fornecedores para atender suas metas de descarbonização. Outros 80 contratos estão em negociação. O valor extra por tonelada é de 2% a 3% superior aos preços de mercado.
A jornalista viajou a convite da Tereos