
Enquanto os preços do feijão disparam, ao ponto de chegarem em setembro aos maiores valores desde abril, grandes grupos começam a voltar os olhos para essa cultura. A Brasilagro, uma das maiores produtoras de grãos e cana-de-açúcar do país, é um exemplo.
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A companhia decidiu plantar feijão-carioca pela primeira vez na safra 2025/26, além de manter uma parte de suas terras com caupi (feijão-de-corda). Segundo o diretor de operações, Wender Vinhadelli, a empresa está testando a inserção desses grãos em áreas de Mato Grosso e Bahia, em janelas distintas das culturas principais, como soja, milho, algodão e cana.
“Na segunda safra, entre o fim de fevereiro e meados de março, o feijão tem exigência hídrica menor e ciclo mais curto, o que permite ganhos em áreas que não comportariam milho ou algodão”, explica. Além de ampliar a geração de receita, a rotação contribui para a fertilidade do solo.
O caupi, por exemplo, ajuda a fixar nitrogênio, embora multiplique nematoides. Vinhadelli observa que em algumas áreas a produtividade da soja subsequente aumentou mais onde se cultivou caupi do que em áreas com braquiária. “É uma conta agronômica que estamos refinando”, diz.
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Cerca de 10% da área da Brasilagro é dedicada a pulses, número que varia conforme condições de mercado e climáticas. A companhia exporta todo o feijão-caupi produzido em Mato Grosso. A Índia é o principal destino, e a empresa prospecta clientes no Egito e em países asiáticos. O que é colhido na Bahia vai para o Nordeste.
O feijão carioca, mais demandado no mercado interno, começou a ser testado nesta safra em dois pivôs irrigados na Bahia, que somam 300 hectares. A produtividade é superior à do caupi, mas o custo de produção é até quatro vezes maior. “É uma cultura que exige mais investimento e estrutura, como câmaras frias para armazenagem, para aproveitar os melhores preços.”
Os desafios de mercado também pesam. Como o preço do feijão é muito sensível à oferta, entradas maciças de produtores rapidamente derrubam as cotações. Ainda assim, a Brasilagro pretende manter o cultivo como parte da estratégia de diversificação, aproveitando oportunidades pontuais. “Já testamos gergelim e mamona, mas não avançamos. O feijão, pela demanda interna e externa, se mostra mais promissor no momento”, conclui Vinhadelli.
O movimento ocorre em um contexto de preços firmes. Segundo o Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea), o feijão-carioca subiu quase 10% em setembro, impulsionado pela menor oferta. Ontem, no noroeste de Minas Gerais, o feijão-carioca de melhor qualidade estava a R$ 252,08 a saca de 60 quilos.
A segunda safra da leguminosa em Minas Gerais e Goiás teve quebra de 30% devido à incidência de mosca-branca, segundo o Instituto Brasileiro dos Feijões e Pulses (Ibrafe). “No noroeste mineiro, produtores relatam colheitas de [feijão] carioca com produtividade de apenas 20 sacas por hectare, menos da metade do normal”, diz Marcelo Lüders, presidente da entidade.
A Conab prevê que a produção das três safras de feijão deste ciclo será de 3,1 milhões de toneladas, alta de 0,8%. Porém, no caso do feijão carioca, o Ibrafe indica que a safra deve ser a menor em 20 anos.