Mesmo em tempos de “tarifaço dos EUA”, um estudo da Embrapa aponta boas oportunidades para a exportação da tilápia brasileira para o mercado premium americano por conta da qualidade do produto, rastreabilidade e a queda na oferta de tilápia da China.
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A tilápia é o carro-chefe da aquicultura nacional, setor que tem crescido de forma consistente nos últimos anos, e os Estados Unidos, onde o consumo per capita anual atinge 460 gramas, tem sido o principal destino da tilápia brasileira: recebeu mais de 85% do total embarcado em 2024.
No Brasil, a tilápia é o peixe preferido do consumidor. Em dez anos, o consumo cresceu 93%, saltando de 1,47 quilo por habitante por ano em 2015 para 2,84 quilos por habitante por ano em 2024, segundo dados da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe-BR), que apoiou a pesquisa da Embrapa.
O pesquisador que assina o estudo, Manoel Pedroza, admite que o tarifaço afetou as exportações, mas diz que a intensidade foi menor que a projetada pelo mercado. O resultado de agosto, primeiro mês com vigência da tarifa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros, indicou uma queda em volume de 32% nos embarques na comparação com agosto de 2024.
“Especialistas do setor esperavam uma queda maior e esse resultado mostra que o setor continua presente no mercado norte-americano, mesmo no cenário atual”, afirmou Pedroza em nota.
Segundo ele, chama a atenção a grande popularidade da tilápia junto aos consumidores americanos, o que tem proporcionado o crescimento do consumo de diversos produtos dessa espécie, tanto frescos como congelados. Naquele país, a tilápia rompeu os nichos de mercados asiáticos e latinos e hoje é um produto consumido de maneira ampla, diferentemente do que ocorre na Europa, onde o consumo da espécie é de apenas 39 gramas por pessoa por ano, sendo focado nos nichos de mercados étnicos e em produtos congelados com preços mais reduzidos.
Para aproveitar as oportunidades, Pedroza sugere uma aposta maior na exportação da tilápia congelada, mercado mais consolidado nos EUA, que tem custo menor pelo frete em navios do que o produto fresco que é embarcado em aviões, e a agregação de valor com novos cortes e produtos como empanados, tilápia vermelha e embalagens prontas para consumo.
O estudo aponta também os desafios para a exportação aos EUA, além do tarifaço. Pedrosa diz que é necessário reduzir os preços para um aumento da competitividade do produto, investir mais em logística para embarcar os produtos frescos e em certificação internacional.
A tilápia foi a segunda espécie de peixe mais importada em 2024 pelos Estados Unidos, com mais de 185,5 mil toneladas, ou 13% do total naquele ano. À frente da tilápia, esteve o salmão, com 468 mil toneladas.
Em termos financeiros, a tilápia importada pelos Estados Unidos no ano passado movimentou mais de U$ 740 mil, perdendo para o atum (U$ 860 mil) e para o salmão (U$ 5,760 milhões), segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A maior parte da tilápia consumida nos EUA vem da China. O Brasil ficou em quarto nesse ranking.
Consumo de tilápia cresce nos Estados Unidos
Envato
Europa
A pesquisa da Embrapa também apontou oportunidades e desafios da exportação da tilápia para a Europa, com a ressalva de que ainda é preciso reabrir o mercado europeu para a piscicultura nacional. Os embarques foram paralisados em 2018 pela União Europeia, que alegou falhas no sistema de controle sanitário brasileiro.
As melhores oportunidades na Europa, segundo Pedroza, se devem à elevação dos preços da tilápia chinesa, em razão do aumento nos custos de ração e transporte, e a valorização de produtos frescos no continente.
O baixo consumo desse peixe pelos europeus é um limitador devido à concorrência com as espécies panga, polaca do Alasca e perca do Nilo, que dominam o mercado de filés brancos.
“Percebemos na Europa um consumo de tilápia bem mais limitado, sendo focado nos nichos de mercados étnicos de origem latino-americana, árabe, asiática e africana e em produtos congelados com preços mais reduzidos”.
Pedroza avalia que os exportadores brasileiros podem se beneficiar da boa reputação do seu filé fresco de tilápia e também aproveitar a grande oferta de voos para diversos países da Europa, tendo em vista que o transporte aéreo é essencial para os produtos frescos, mas será preciso um trabalho robusto de comunicação e marketing dos produtos brasileiros, além da participação em eventos relevantes sobre pescado e da necessidade de desenvolver por lá a demanda pela tilápia fresca.
Outro ponto destacado pelo pesquisador é estabelecer preços competitivos para que seja mais viável acessar o mercado europeu.
De acordo com a Embrapa, a tilápia foi apenas a sexta espécie de peixe branco (de carne mais clara) mais importada pela Europa em 2024, com 36,6 mil toneladas num universo total de quase 1,4 milhão de toneladas. Além disso, o volume importado tem se mantido estável nos últimos dez anos, em torno de 35 mil toneladas por ano.
Entre 2013 e 2023, a produção mundial de tilápia cresceu 43%
UEL/AEN
Produção de tilápia no mundo
Entre 2013 e 2023, a produção mundial de tilápia cresceu 43%, passando de 4,75 milhões de toneladas para 6,78 milhões de toneladas. Segundo dados de 2023 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a China liderou o ranking, com 27% da produção (1,8 milhão de toneladas). Na sequência, vêm Indonésia (com 1,4 milhão de toneladas), Egito (que produziu 960 mil toneladas) e Brasil (440 mil toneladas).
No ano passado, de acordo com levantamento da Peixe-BR, a produção no Brasil chegou a 662,2 mil toneladas.