
Produtores de banana de dez Estados, representantes da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e de associações como Confederação Nacional dos Bananicultores do Brasil (Conaban), Associação dos Bananicultores do Norte (Abanorte), Associação Brasileira dos Varejistas de Hortifrutigranjeiros (Abavar) e Federação Brasileira dos Bananicultores (Febanana) tentam convencer o governo a rever a decisão de abrir o mercado brasileiro para importações de banana do Equador.
Os produtores também pedem ao governo a realização de uma nova análise de risco de pragas antes da entrada da fruta equatoriana. Em agosto deste ano, após um encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente do Equador, Daniel Noboa, foi sinalizada a abertura do mercado brasileiro para a fruta. A entrada do produto no Brasil seria gradual, chegando a até 100 mil toneladas em dois anos.
O grupo participou de uma reunião na terça-feira (30) com os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, momento em que reportou ao governo a preocupação com os riscos fitossanitários e socioeconômicos resultantes da abertura comercial ao maior exportador global de bananas.
Hilda Loschi, diretora técnica da Abanorte, que participou da reunião, disse que o Equador tem registro de pragas como Fusarium Oxysporum s. sp. cubense raça tropial 4 (TR4), que não existe no Brasil e exige quarentena para evitar contaminação por meio da própria fruta e das embalagens.
A TR4 causa perda de até 100% nas lavouras afetadas, representando uma ameaça à produção brasileira, especialmente das variedades do grupo Cavendish, como banana prata e banana nanica, mais produzidas no Brasil, segundo a diretora. No Brasil, há registro da raça 2 do fungo. A raça 4 é mais severa.
A Embrapa tem um projeto de desenvolvimento de banana prata resistente à TR4. Já para banana nanica não existe nenhum material resistente à doença, não há luz no fim do túnel
Mariana Marotta, analista de agronegócios do Sistema Faemg Senar, observou que o Equador também convive com doenças como o mosaico das brácteas da banana (Banana bract mosaic virus – BBrMV), que não está presente no Brasil, e Moko da Bananeira (Ralstonia solanecearum) – este último, contido em Estados do Norte e Nordeste.
“O Norte de Minas Gerais chegou a liderar a produção de banana prata no Brasil mas foi perdendo mercado com o passar dos anos por causa da TR2, que se dispersou na região e contaminou os bananais”, exemplificou Loschi. O receio do setor, segundo a diretora, é que o país apresente perdas ainda maiores caso a raça TR4 chegue no Brasil.
Letícia Barony, assessora técnica da CNA, observou que, diante da ameaça da vinda de uma doença nova para a produção brasileira de bananas, as ações de prevenção precisam ser reforçadas.
“A gravidade da situação se intensifica diante da inexistência de materiais genéticos resistentes à TR4 e da falta de tratamentos eficazes. Trata-se de uma doença de solo que, uma vez presenta, torna a área imprópria para o cultivo da fruta, pela ausência de tratamento”, afirmou Barony.
Riscos econômicos
Outra preocupação do setor produtivo é com os riscos socioeconômicos da abertura do mercado para as bananas do Equador. No Brasil, a cadeia produtiva é composta por cerca de 200 mil produtores em todos os Estados, sendo que mais de 80% são agricultores familiares. “Por ser uma cultura que não é mecanizada demanda muita mão de obra. Ela gera 2 milhões de empregos”, diz Loschi.
Atualmente, o país é autossuficiente na produção de bananas. Em 2024, o Brasil produziu 7,05 milhões de toneladas de bananas, cultivadas em 470 mil hectares, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A produção movimentou no país R$ 16,1 bilhões. Os principais Estados produtores são São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Santa Catarina.
Na avaliação da Confederação Nacional dos Bananicultores (Conaba), a abertura das importações de bananas do Equador ignora riscos de disseminação de doenças, podendo causar perdas de até R$ 2 bilhões por ano na bananicultura brasileira. afetando 500 mil famílias.
Os ministros reafirmaram o compromisso do Brasil com a defesa sanitária. Fávaro afirmou que não há casos de TR4 no Equador e garantiu que as análises de risco serão realizadas. “O sistema sanitário brasileiro é muito robusto e já superamos diversos desafios. Ninguém no mundo tem um sistema tão eficiente. Também tratamos das oportunidades no mercado externo para a fruta brasileira. Não vamos deixar nenhum produtor precarizado”, afirmou Fávaro.
Os ministros afirmaram que em caso de risco de ingresso de pragas quarentenárias, o mercado não será aberto. Teixeira acrescentou que é possível trabalhar com o setor oportunidades de ampliar os mercados para a banana brasileira. “Não vamos pensar apenas as políticas defensivas, mas também as ofensivas, para aumentar a capacidade de exportação e espaço para a banana brasileira nos mercados interno e externo”, afirmou Teixeira.
Bananicultores pedem para governo rever abertura de mercado ao Equador
Divulgação Faemg/Senar