
Campinas passou a contar com a maior biofábrica de mosquitos do mundo. A inauguração oficial ocorreu nesta quinta-feira (02/10), durante evento para autoridades regionais e do Ministério da Saúde, quando foi anunciada a meta ambiciosa da empresa Oxitec: a produção semanal de 190 milhões de “mosquitos do bem” – mosquitos Aedes aegypti inoculados com a bactéria Wolbachia, capazes de bloquear a transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya.
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Em conversa realizada previamente com a imprensa, Natália Ferreira, diretora da Oxitec, empresa britânica com atuação há 13 anos no Brasil, explicou que o projeto da fábrica faz parte da plataforma Sparks, lançada em 2024 pela empresa como resposta ao apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) por soluções escaláveis no combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
A implementação da biofábrica custou “centenas de milhares de reais”, segundo Natália, e contou com recursos próprios e aporte da Fundação Gates (fundação filantrópica americana fundada por Bill Gates).
O início da produção de mosquitos ainda depende, entretanto, de aprovação da Anvisa. A Oxitec informou que deu entrada à solicitação em março e espera ter a liberação ainda neste ano.
“Não tivemos questionamentos técnicos desde então. A informação que temos é que esse período se dá em função do grande número de processos em andamento na Anvisa. Mas temos expectativa de poder atuar ainda este ano, para darmos início ao combate do ciclo da dengue que começa já em outubro, com as chuvas”, comenta Natália.
Uma vez autorizada a produção, o objetivo da empresa é fazer parceria com o Ministério da Saúde, para fornecer os mosquitos como parte integrante do Programa Nacional de Controle da Dengue. O Brasil já faz uso da prática de liberação de mosquitos com Wolbachia há dez anos, com atuação em 11 municípios.*
“Por conta dos problemas logísticos para desenvolvimento dos ovos e soltura dos mosquitos, as biofábricas de hoje requerem a existência de fábricas menores perto do local de soltura. Para solucionar esses problemas, desenvolvemos uma tecnologia, na qual podemos enviar kits para todo o Brasil e exterior. Acreditamos ser um fator importante para disseminação do programa”, avalia Natália.
Entenda a tecnologia
A tecnologia com mosquitos Wolbachia consiste na liberação de Aedes aegypti modificados com a bactéria Wolbachia, que impede que o inseto transmita doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
Ao se reproduzirem com mosquitos selvagens (aqueles presentes da natureza), os insetos Wolbachia ajudam a reduzir drasticamente a circulação viral nas regiões tratadas. Isso porque os machos Wolbachia não geram descendentes, enquanto as fêmeas geram descendentes também Wolbachia.
A segurança e a eficácia do método já foram comprovadas em projetos-piloto realizados por instituições acadêmicas em parceria com governos.
* A reportagem aguarda resposta da Anvisa e do Ministério da Saúde para atualização.