
O Grupo Leste, gestora global de investimentos alternativos que administra US$ 3,2 bilhões ao redor do mundo, firmou uma parceria com o Ramax Group, produtor e exportador de carne bovina, estrear na participação no setor agropecuário no embalo do cenáro positivo no mercado externo para os frigoríficos brasileiros.
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Criado por Emmanuel Hermann, ex-sócio do BTG Pactual, o Grupo Leste adquiriu participação minoritária da Ramax, cujos percentuais e valores não foram revelados, e vai aportar até R$ 600 milhões em um financiamento estruturado ao longo dos próximos três anos para acelerar o plano de expansão companhia, que prevê faturar R$ 3 bilhões neste ano.
Com a possibilidade de alocar os recursos da Leste também para financiar pecuaristas e a expertise do grupo em gestão e governança, a Ramax planeja consolidar sua participação no mercado brasileiro, expandir operações de abate ou processamento de carnes em outros países e se cacifar, com melhorias internas e na relação com o mercado, para ser a quarta companhia do setor a ter capital aberto na bolsa no médio prazo.
“Estamos fazendo o que devemos fazer, com muita diligência, com muito foco em termos bons resultados, porque no fim das contas a coisa acaba acontecendo naturalmente”, disse Gaia, CEO da Ramax ao Valor. “Isso significará para o Brasil ter uma quarta via. Vemos isso com muita clareza e vamos lutar para que seja Ramax”.
A operação combina private equity e crédito capazes de impulsionar em mais de 100% a receita da Ramax em 2026, para R$ 7 bilhões. A companhia comandada por Gaia tem seis frigoríficos — em Mato Grosso, Pará, Goiás e São Paulo — e exporta cortes bovinos para China, Chile, Argélia, Israel, Egito e outros.
Internacionalização
Segundo Gaia, a parceria vai permitir à companhia acelerar a presença internacional, não apenas com mais vendas, mas com a abertura de negócios em outros países do continente americano e em nações mundo afora onde já há negócios solidificados com mercados que pagam mais.
“Os países que já estão aprovados para vender para o Japão, Coreia do Sul e Indonésia são muito estratégicos para o ecossistema da Ramax. Temos a oportunidade de estar com um pé nesses mercados, produzindo e mantendo relacionamento e sinergia com os importadores, o que nos dá vantagem quando o Brasil for habilitado”, afirmou. O Brasil tem a expectativa de abrir o mercado japonês ainda em 2025. Na China, os planos da Ramax envolvem refinar o produto acabado e chegar diretamente ao consumidor final.
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Parte do crescimento da empresa virá da tração na produção dos seis frigoríficos do grupo. A Ramax planeja ainda expandir a atuação para outras unidades já mapeadas em regiões estratégicas do país. O plano consiste em assumir frigoríficos inativos ou subutilizados e transformá-los em exportadores. Gaia não revelou quantas plantas planeja incorporar.
Na visão do CEO, a parceria com o Grupo Leste é uma “janela de oportunidade” para a consolidação da governança corporativa da empresa e o aumento da competitividade a nível global. A Ramax já é auditada e quer consolidar boas práticas contábeis e financeiras perante o mercado, com balanços auditados trimestralmente. “Vamos nos preparar para estarmos aptos a nos apresentar de uma forma mais sólida no mercado financeiro e de capitais”, disse.
“Com tudo isso no lugar, poderemos tomar a decisão se devemos ou não partir para uma abertura de capital. É meu desejo que, em três anos, consigamos pavimentar o caminho para isso”, disse. A Ramax tem capacidade instalada para exportar 67 mil toneladas de carne bovina por ano. Cerca de 60% do faturamento em 2025 virá das vendas externas.
A Ramax começou a operar em 2017 como trading, com a compra de carnes e envio para o exterior. Só depois passou a operar abatedouros diretamente e confinamento, com produção própria.
Potencial
Segundo Fabrício Bossle, sócio de Private Equity do Grupo Leste, a parceria com a Ramax foi motivada pelo potencial de crescimento da empresa em função do modelo de negócio. “O Brasil já é um dos maiores exportadores de carne do mundo e acreditamos que a Ramax está pronta para conquistar seu espaço entre as gigantes do setor”, afirmou Bossle.
“Estamos colocando o pé no agro, que tem um viés forte de crescimento nos próximos anos”, disse ao Valor, acrescentando que o movimento é “ambicioso”, mas está bem estruturado e com respaldo da qualidade industrial da Ramax.
O Grupo Leste tem investimentos na Billor, fintech de gestão de frotas nos Estados Unidos, e na Prestige, distribuidora de perfumes e cosméticos de luxo no Brasil. Com a Ramax, a ideia é estruturar linhas para “institucionalizar” a relação da empresa com pecuaristas.
Eduardo Karrer, sócio de Private Equity do Grupo Leste, disse que pode ser analisada a criação de fundo de direitos creditórios (FIDC) ou outra ferramenta mais bem adaptada à realidade do negócio e para suportar o crescimento da empresa. O desembolso não será de uma só vez.
“Colaboramos para preencher essas lacunas que a empresa eventualmente tenha para poder entregar um plano de negócio. Chamamos de fundos estruturados, que muitas vezes ajudam a acessar mercado de capitais”, disse Karrer. “É uma perspectiva um pouco maior do que a questão do equity, do capital ou da dívida, ou seja, é um diagnóstico e uma ajuda em toda a representação que a empresa precisa para poder entregar o crescimento de pé”, concluiu.