
O agronegócio é um grande risco para o mercado de crédito brasileiro, algo que vem sendo subdimensionado pelos bancos, segundo Daniel Goldberg, principal executivo e executivo-chefe de investimentos da Lumina Capital.
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“A gente está enfrentando um problema grande no agro por conta da sobrealavancagem com o advento do mercado de capitais, dos Fiagros e dos produtos estruturados, com a chegada da Faria Lima no agro”, comentou Goldberg, ao participar de evento do J.Safra, em São Paulo. “Eu não conheço muitos fazendeiros e empresários que pensam em hedge para um cenário em que o câmbio se aprecia.”
Mesmo que o preço da soja se mantenha constante, mas em reais cair, “o que aconteceria se o dólar fosse para a casa dos R$ 4,80?”, questionou o gestor. “Eu acho que os bancos estão subapreciando o tamanho do problema do agro que ainda está por vir, basta acompanhar as RJ [recuperações judiciais] que estão vindo”, afirmou.
O gestor ponderou que, com o juro real no Brasil na casa dos 10% ao ano, o ciclo de crédito piorou nos últimos meses, com a economia muito esticada e as pessoas se protegendo em operações de liquidez.
Precatórios
Para Goldberg, a melhor exposição em crédito hoje no país é em precatórios federais de dois anos, após a emenda constitucional 66 facilitar “muito a vida de Estados e municípios do ponto de vista da capacidade de pagar e parcelar” suas obrigações.
“Investir num precatório federal hoje para pagamento em 2027 é muito menos arriscado do que era há oito semanas. E os preços — é até tolice falar isso numa palestra — até agora não tinham se ajustado muito.”
Por outro lado, prosseguiu, investir em precatórios estaduais e municipais a partir da mesma emenda mudou completamente o calendário de solvência e liquidez desses entes, “virou um negócio muito mais arriscado”.
Saiba-mais taboola
Globalmente, ao se monitorar os preços em tela de cerca de US$ 1,5 trilhão negociados diariamente, Goldberg comentou que os padrões de concessão de crédito parecem relaxados e que os preços são “pouco remunerativos”.
“Eu acho que o retorno prospectivo da classe crédito não grau de investimento hoje é ruim, mas está longe de ser assustador, complacente, terrível”, comentou o gestor da Lumina.
Tomando-se como exemplo a média de inadimplência dos últimos 30 anos, em 3,3%, e uma recuperação na casa de US$ 450 mil para cada US$ 1 milhão investido, num cenário de estresse no padrão da covid-19, quando a economia passou por uma breve recessão e taxa de calote foi a 6%, o quadro permanece benigno.
Mas se for no nível da crise das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos, em 2008, quando oscilou entre 11% e 15%, muda de figura. “O que vai ter de fundo de crédito, seguradora e banco quebrando não está no gibi. E se tiver um evento à la 2001 [de 13%], pior ainda.”






