
O mercado de feijão atravessa um momento de ajustes entre oferta e demanda, com impactos distintos para cada variedade. A segunda safra (a leguminosa tem três) do carioca foi marcada por perdas severas em Minas Gerais e Goiás, onde a incidência de mosca-branca reduziu a produtividade em cerca de 30%. Na outra ponta, a oferta de rajado e vermelho cresceu em relação aos últimos anos. No entanto, não há dados para comprovar a impressão dos produtores.
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Em regiões como o noroeste mineiro, produtores relatam colheitas de carioca com produtividade de apenas 20 sacas por hectare, menos da metade do volume considerado normal. O quadro levou a pedidos para que governos estaduais reconheçam estado de calamidade, medida que permitiria renegociações de dívidas com bancos.
Mesmo antes da quebra de safra, a área plantada de feijão-carioca já vinha em retração, ao passo que rajado e vermelho ganharam espaço, estimulados por preços atrativos no passado recente.
Segundo dados da Conab de setembro, a produção total de feijões-cores prevista é de 1,642 milhão de toneladas, menor que em 2016. Mas há um detalhe: em 2016 quase tudo era feijão-carioca, enquanto agora parte expressiva é de vermelho, rajado e jalo. Cálculos do Instituto Brasileiro dos Feijões e Pulses (Ibrafe) indicam que a safra só de carioca será é a menor em 20 anos.
“Sem contratos de venda firmados, muitos produtores apostaram na expansão dessas variedades de cores especiais, em um típico ‘efeito manada’ que agora pressiona o mercado com excesso de oferta”, explica Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe. No caso do feijão-rajado, por exemplo, há lotes sendo negociados a R$ 200 por saca, enquanto aqueles que firmaram contratos antecipadamente estão conseguindo até R$ 260.
No caso do feijão-rajado, há lotes sendo negociados a R$ 200 por saca
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Preços
O feijão-carioca, variedade mais consumida no Brasil, teve os preços pressionados nos últimos meses, mas tem visto uma recuperação gradual. Depois de cair para R$ 220 por saca, voltou a ser negociado perto de R$ 240. A liquidez, porém, é restrita.
“É difícil encontrar compradores dispostos a pagar esse valor”, afirma Lüders. Segundo ele, até o primeiro trimestre de 2026 há espaço para manutenção de preços remuneradores, mas a primeira safra não deve ampliar área em Minas Gerais ou no Paraná, em função da concorrência com a soja.
Do lado da demanda, o consumo doméstico segue estável há anos. Com o carioca mais caro — já chegou a R$ 5 por quilo no varejo — e o feijão-preto vendido a R$ 3, o consumidor começa a migrar para variedades antes restritas a nichos, como o rajado e o vermelho. “Ao experimentar, muitos se apaixonam e tendem a repetir a compra”, diz Lüders.
Esse movimento também abre espaço para exportações. O Brasil consolidou posição relevante no mercado global, apoiado na qualidade do produto e na regularidade da oferta. O feijão-mungo verde e preto liderou as vendas externas em 2025, com 135,7 mil toneladas embarcadas — quase metade de todas as exportações do país. O feijão-preto também alcançou volume recorde, de 50 mil toneladas, o segundo maior da história.
Ainda assim, o alerta do setor é para evitar repetir ciclos de superoferta. “Contrato primeiro, plantio depois”, recomenda Lüders.