
A Petrobras tem planos de comprar ainda neste ano uma empresa produtora de etanol de milho, apurou o Valor. O negócio, se confirmado, vai marcar o retorno da estatal ao setor, do qual saiu em meados da década passada, com a venda de ativos. Esse segmento de mercado é crescente e visto como alternativa à cana-de-açúcar na produção do biocombustível. Projetos em andamento na área de etanol de milho somam R$ 23 bilhões em investimentos, conforme mostrou o Valor no fim de agosto.
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A Petrobras afirmou, em nota, que conduz estudos e análises de possibilidades de negócios nos segmentos de bioprodutos, que incluem cadeias de etanol.
A companhia acrescentou que o atual plano de negócios, de 2025 a 2029, prevê investimentos no segmento de etanol, “preferencialmente por meio de parcerias estratégicas minoritárias ou com controle compartilhado, com ‘players’ relevantes do setor.” Embora não negue os planos, a empresa diz que ainda não há definições sobre projetos de etanol a partir do milho.
“A companhia esclarece que não há definição quanto à matéria-prima a ser utilizada nos projetos de produção de etanol”, disse a empresa.
O potencial retorno da Petrobras ao etanol se dá no contexto de um movimento mais amplo da empresa no segmento de distribuição de combustíveis. Desde o começo do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobras sinaliza o interesse em retornar ao mercado de distribuição.
Essas indicações levantaram a questão de que a estatal poderia vir a fazer alguma operação de fusão e aquisição (M&A, na sigla em inglês) no segmento. Em agosto, o Valor noticiou que os acionistas da Raízen — Shell e Cosan — buscam novo sócio para a empresa.
Dias depois, o jornal O Globo publicou que a Petrobras estudaria comprar uma fatia na Raízen. A estatal negou. “Não há qualquer projeto ou estudo de investimento em etanol ou distribuição com a Raízen”, disse a Petrobras na ocasião. Fontes próximas à empresa disseram que a companhia analisa oportunidades de negócios com várias empresas, mas que a Raízen, até agora, não estava na lista.
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Outra hipótese citada no mercado seria uma possível operação da Petrobras com a Vibra, ex-BR Distribuidora, privatizada no governo de Jair Bolsonaro. Mas eventual transação com a Vibra parece remota, na visão de analistas e agentes da indústria. Uma das razões é que, para entrar no capital da Vibra, a Petrobras teria que fazer uma oferta por toda a companhia.
Também haveria restrições do ponto de vista da defesa da concorrência por possível concentração de mercado. No encerramento do pregão da B3 na sexta-feira (5), o valor de mercado da Vibra era de R$ 27,9 bilhões. Procurada, a companhia informou que não comenta o assunto.
Apesar dessas restrições, a Petrobras tem criticado, desde o começo do governo Lula, a privatização da BR, afirmando que a operação afastou a estatal dos clientes finais e tem buscado fazer acordos com grandes consumidores para vender diretamente derivados, como diesel. Com a Vale, a Petrobras mantém contratos de venda de combustível de navegação com adição de 24% de biodiesel (“bunker B24”). A Petrobras também já sinalizou o retorno ao mercado de gás de cozinha (GLP).
Fontes do setor avaliam que comprar outra distribuidora ou implantar uma nova rede do zero pode não ser uma tarefa fácil para a Petrobras, uma vez que existe cláusula do contrato de marca firmado com a Vibra que estabelece regra de não-competição entre as duas empresas até 2029. Até esse ano, a Vibra tem direito de uso da marca BR, que era da Petrobras.
Mercado
A Vibra cresceu nos últimos anos com a compra de empresas em diferentes segmentos, de olho na transição energética. Adquiriu a Comerc Energia (mas colocou à venda), até então a maior comercializadora independente de energia elétrica (sem ligação com grandes grupos), e a Zeg Biogás, de produção de biogás e biometano. Entrou no capital da startup EZVolt, de recarga de veículos elétricos, e criou uma joint venture com a Copersucar para comercialização (trading) de etanol.
Vibra e Raízen, junto com a Ipiranga, detêm 61,3% do mercado de distribuição, de acordo com o Painel Dinâmico do Mercado Brasileiro de Combustíveis Líquidos, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), segundo dados de 3 de setembro.
Os movimentos no setor acontecem ao mesmo tempo que o mercado de combustíveis tenta combater a atuação irregular de empresas no segmento. As grandes distribuidoras têm perdido, mês a mês, fatia de mercado para agentes que recorrem a subterfúgios como fraudes, adulterações e evasão fiscal, entre outras práticas.
Na semana passada, operações articuladas entre autoridades do governo federal e dos Estados fecharam o cerco sobre esquemas bilionários de fraudes e sonegação fiscal no setor de combustíveis atribuídos ao Primeiro Comando da Capital (PCC), principal grupo criminoso do país.