
O Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou na sexta-feira (5/9), por unanimidade, a fusão entre BRF e Marfrig, em sessão extraordinária. Para analistas, a decisão abre caminho para que a MBRF, a companhia que nascerá a partir da união das duas empresas, possa listar suas ações nos Estados Unidos, assim como fez neste ano a concorrente JBS.
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“Apresentando-se como um grupo só, BRF e Marfrig ganham mais liquidez e uma categorização melhor em termos de tamanho de receita. Elas poderão entrar em mais índices com o intuito de se mostrar para o mercado, como a JBS fez ao ir para a bolsa americana, e também se apresentar como uma gigante internacional”, disse Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Para Régis Chinchila, analista-chefe da Terra Investimentos, com a aprovação no Cade, as empresas superaram o maior desafio que ainda enfrentavam para sacramentar a fusão. “Agora o processo segue para as assembleias, registros na CVM, reestruturação societária e, por fim, a consolidação das ações e possível abertura de capital nos EUA”, afirmou, também avaliando que a nova empresa pode seguir os passos da JBS.
Com receita líquida de R$ 152 bilhões e presença em 117 países, a MBRF será uma das maiores empresas de alimentos do mundo. Terá um portfólio robusto de carne bovina, suína e de aves e também de produtos industrializados, reunidos em marcas como Sadia, Perdigão, Qualy, Banvit e Bassi.
As empresas já mapearam sinergias comerciais e logísticas decorrentes da fusão que somam R$ 805 milhões por ano. Desse total, entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões seriam possíveis nos primeiros 12 meses, e o restante, no médio e longo prazo.
A decisão do Cade foi unânime. O aval saiu depois de o conselheiro Gustavo Augusto, presidente do órgão antitruste, mudar seu voto, o que ocorreu quando ele levou em consideração a decisão do Saudi Agricultural and Livestock Investment Company (Salic) de vender sua posição na BRF.
A empresa informou na terça-feira (2/9) que o fundo, que pertence ao governo saudita, vendeu sua posição em ações na BRF, mas comprou derivativos que representam a mesma fatia que o Salic negociou.
Questionamento
Foi a Minerva, concorrente da Marfrig, que questionou no processo sobre a fusão no Cade a participação societária do Salic. Segundo a companhia, poderia haver influência relevante do fundo sobre concorrentes diretos no mercado de carne bovina in natura, uma vez que o Salic também tem participação na Minerva.
No voto que apresentou na sexta-feira, o conselheiro Carlos Jacques reconheceu que a divergência com o voto do relator é mais simbólica que real, já que o presidente do Cade também votou pela aprovação sem restrições. Para Jacques, as questões relativas a fundos são pertinentes, mas deveriam ser informadas por ofício aos interessados que não fizeram parte do caso.
Gustavo Augusto alterou seu voto observando que o Salic vendeu sua posição na BRF depois do início do julgamento, exercendo o direito de sair da empresa e trocando por uma opção de compra, sem direitos políticos. “Quando ela exercer essa posição é outra operação”.
A transação pela qual a Marfrig incorporou a BRF foi anunciada em 15 de maio deste ano. A operação prevê que cada ação da BRF será convertida em 0,8521 ação da Marfrig.