
Em um momento de aperto de margens e aumento na restrição de crédito pata o produtor, a norueguesa Yara aposta nos bioinsumos. Guilherme Schmitz, vice-presidente de Marketing e Agronomia, reconhece que o desafio principal é convencer o agricultor da importância desses produtos, especialmente num cenário em que o orçamento está mais restrito.
Leia também
Produtores dos EUA enfrentam pior poder de compra de fertilizantes desde 2010
Eventual sanção por comércio com Rússia faz preço do adubo subir
Grupo Roncador eleva aposta em mineração e compra áreas em Mato Grosso
“Para ele [o agricultor] plantar, ele precisa de semente, ele precisa de fertilizante, ele precisa de defensivo. Não necessariamente, no entendimento do agricultor, ele precisa de um bioestimulante, né? Hoje não temos um conceito de essencialidade [de biológicos] pela agricultura. A gente precisa gerar esse entendimento de essencialidade por parte dele. Isso requer um investimento em geração de demanda muito grande”, afirmou Schmitz. “O agricultor vai cortar aquilo que ele entende que não é tão essencial”, disse.
No entanto, o executivo opina que parte do trabalho de apresentar os produtos biológicos ao produtor é o de oferecer uma percepção de valor, com a possibilidade de o investimento gerar ganhos de produtividade e, consequentemente, de rentabilidade.
Mesmo assim, a expectativa é de crescimento. Schmitz diz acreditar que, apesar da retração na rentabilidade, o mercado seguirá em expansão. “Talvez ele não vá crescer a taxas como a gente viu em outros anos, crescendo até 30%, 35%. Mas ainda vai ver em dois dígitos esse crescimento, mesmo em anos mais desafiadores de rentabilidade”.
A expectativa é de crescimento entre 10% e 20% neste ano. Em um ano com aumento dos preços de fertilizantes, Schmitz avalia que os produtos biológicos podem atuar em sinergia para um “uso mais racional e consciente” de adubos.
“Os bioinsumos, de modo geral, otimizam a parte de melhor eficiência de nutrição, então a gente consegue ter um uso mais eficiente dos nutrientes”, explicou. Em algumas situações, disse, é possível até recomendar o uso de menor volume de fertilizante, sem comprometer o desempenho agronômico, ao melhorar a absorção dos nutrientes já presentes no solo.
O Brasil ocupa papel central na estratégia da Yara no segmento de biológicos. A companhia estima que o país representará até 50% da margem global da empresa com bioinsumos até 2030. O mercado brasileiro já cresce acima da média global, com 19% ao ano, contra 12% no mundo, segundo dados da Abisolo e McKinsey.
Saiba-mais taboola
Na última semana, a empresa anunciou um novo investimento de US$ 40 milhões exclusivamente na área de bioinsumos globalmente. O recurso será usado integralmente para novas contratações, com foco em ampliar a equipe técnica e consultiva responsável por acelerar a adoção dos biológicos em campo.
A planta de Sumaré (SP), inaugurada em 2018 com investimento de R$ 100 milhões, é a segunda maior da companhia no mundo para produtos com componentes de origem orgânica e a única fora do Reino Unido. Com capacidade instalada de cerca de 50 milhões de litros, a unidade atualmente opera com aproximadamente 60% dessa capacidade. A unidade já exporta para os Estados Unidos, mas Schmitz, que vê também potencial de atender outros mercados da América Latina a partir dessa base.
A Yara tem hoje dez produtos biológicos já registrados na Europa, onde os bioinsumos da companhia são inicialmente desenvolvidos, e que passam por processo de registro no Brasil, que envolve uma adaptação às condições locais. “Em cima das pesquisas locais que a gente faz para ver se ele tem adaptabilidade aqui para as nossas culturas”, explicou Schmitz.
Essa estratégia inclui testes em centros de pesquisa no Brasil, como o de Sumaré, e em parceria com quase 50 instituições locais. “A tecnologia ela funciona com diferentes retornos. Vai da gente entender naquela realidade como aplicar ela”, afirmou.
Nos últimos dois anos, a empresa investiu US$ 42 milhões globalmente no segmento de biológicos, sendo metade do valor destinada ao Brasil. A companhia também estruturou uma equipe dedicada à área no país, além de sua equipe tradicional de vendas. Para os próximos anos, a Yara prevê a introdução de cerca de 30 novos produtos no pipeline global.