Em meio às discussões sobre rastreabilidade, descarbonização e uso sustentável da terra, temas que dominam as pautas do agronegócio às vésperas da COP30, há um tema técnico e estratégico que ainda permanece à margem dos grandes debates, embora seja decisivo para o futuro da pecuária: a resistência parasitária.
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O controle eficiente de verminoses e parasitas é fundamental para a manutenção da produtividade animal. O uso repetitivo e indiscriminado de antiparasitários tem acelerado a seleção de vermes resistentes, comprometendo a eficácia de princípios ativos amplamente utilizados, como os derivados da ivermectina.
Estudos indicam que as parasitoses representam um custo anual estimado de US$ 14 bilhões para a pecuária brasileira, sendo as verminoses responsáveis por cerca de 50% desse prejuízo. Essas perdas são traduzidas em menor quantidade de arrobas produzidas, menor produção de leite, mais tempo necessário para o animal atingir seu peso de abate, maiores custos com tratamentos e mão de obra, além de morte de animais.

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Animais com cargas parasitárias elevadas apresentam redução significativa no ganho de peso e eficiência alimentar, impactando diretamente indicadores econômicos e ambientais. O prolongamento do ciclo produtivo resulta em maior consumo de recursos naturais e aumento das emissões de metano, ampliando a pegada ambiental da atividade.
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A resistência parasitária, portanto, está intrinsecamente ligada à agenda de sustentabilidade. A adoção de protocolos baseados em diagnósticos laboratoriais, rotação de princípios ativos e utilização de endectocidas de nova geração são estratégias comprovadas para mitigar a resistência, restaurar a eficácia dos tratamentos e otimizar a produtividade.
É imperativo que o setor reconheça a importância da gestão sanitária integrada como componente estratégico para a pecuária de baixo carbono. A colaboração entre produtores, indústria, academia e políticas públicas fundamentadas em evidências científicas é essencial para garantir a sustentabilidade econômica e ambiental do setor no longo prazo.
*José Peron é diretor da Unidade de Ruminantes da Zoetis
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