
Marcílio Laurindo Drescher sempre foi produtor de tabaco em Cunha Porã, no Paraná, mas há dois anos assumiu o cargo de presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e se afastou da lavoura. Segundo ele, a maioria dos fumicultores são pequenos agricultores familiares com pouca terra ou área arrendada que sustentam a família com o tabaco cultivado em áreas médias de três hectares.
Leia também
Tarifaço dos EUA só deve impactar exportações do tabaco brasileiro em 2026
Brasil deve ultrapassar US$ 3 bilhões em exportação de tabaco em 2025
“Falta mão de obra, que representa de 40% a 50% do custo de produção, para a atividade e o produtor empresarial não se dá bem nos anos em que o tabaco não consegue bom preço.”
Apesar dos desincentivos patrocinados pelo combate ao fumo, Drescher diz que na última safra mais de 5 mil famílias aderiram ao plantio, somando 38 mil famílias produtoras, devido aos bons preços do tabaco nos últimos três anos e à queda de preço de outras culturas.
Neste ano, a Afubra chegou a fazer campanha alertando os fumicultores a não aumentar sua área de plantio para não causar um desequilíbrio entre a produção e a demanda do produto, que tem 90% do seu volume embarcado para 113 países, incluindo os Estados Unidos.
Desde a Convenção Quadro da OMS de 2005, diz o dirigente, a exportação brasileira se estabilizou em 400 mil a 500 mil toneladas. A produção no ano passado teve uma quebra de quase 20% devido aos problemas climáticos, mas a expectativa na safra que está sendo plantada é de produzir 690 mil toneladas.
O dirigente destaca que, diferentemente do que se apregoa na mídia, a cultura mudou sua forma de produção e atualmente é uma das que menos usa veneno. Além disso, a cadeia do fumo é pioneira na produção integrada há mais de cem anos, o que garante uma segurança financeira a cerca de 90% dos produtores. Segundo ele, só quem tem bem mais estabilidade planta tabaco por sua conta e risco, sem contrato com as indústrias.
Marcílio Laurindo Drescher, presidente da Afubra
Afubra/Divulgação
Drescher destaca que uma pesquisa realizada em 2023 pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEPA/UFRGS), constatou que o produtor de tabaco ganha 117% a mais do que a média do trabalhador brasileiro.
Segundo o levantamento da Afubra, o rendimento com o cultivo de tabaco na região Sul do Brasil supera o registrado com importantes culturas de verão, como a soja e o milho. Por hectare, a renda do produtor de tabaco é de R$ 45.989,85. Na soja, um hectare rende R$ 5.755,88 e no milho, R$ 7.008,80.
“A renda líquida se torna maior porque o próprio produtor assume todo o trabalho e não há custo com mão-de-obra. No tabaco, o agricultor pequeno ainda encontra uma vida digna e, mesmo com as campanhas antitabagistas e a migração para o cigarro eletrônico, que também tem tabaco, acredito que nossa geração ainda vai ter muito tempo de produção”, diz o dirigente, que se declara não-fumante.
Drescher garante que, nos últimos anos, houve muitos incentivos da Afubra e das próprias indústrias para os fumicultores diversificarem sua produção e, hoje, 45% da renda das propriedades que plantam tabaco vêm de outras culturas ou criações.
“A Afubra incentiva a diversificação porque qualquer monocultura produz perdas quando o preço do produto fica instável. Não se pode colocar todos os ovos em uma só cesta.”
O Brasil se mantém há 32 anos como maior exportador de tabaco do mundo
Felipe Krause/SindiTabaco
Exportação
Valmor Thesing, presidente do SindiTabaco, que representa 14 grandes indústrias do setor, diz que o Brasil vai muito bem nas exportações, apesar do tarifaço de 50% imposto pelo presidente americano, Donald Trump, aos produtos brasileiros. Neste ano, o país antecipou seus embarques de 40 mil toneladas para os EUA (9% do total) e já busca novos compradores para esse volume em 2026, caso o tarifaço não seja revertido.
O Brasil embarca quase 90% do que colhe e se mantém há 32 anos como maior exportador de tabaco do mundo, com o dobro do volume do segundo do ranking, a Índia. União Europeia e Extremo Oriente são os destinos principais, com 34% do volume. Em 2024, o tabaco representou 0,88 % do total das exportações brasileiras, com US$ 2,977 bilhões.
Fumante, o dirigente diz que, após a Convenção Quadro em 2005, houve um acordo no Brasil para não desincentivar o produtor de tabaco, a maioria composta por agricultores familiares, mas o acordo não foi cumprido e houve ataques frequentes à produção para reduzir a prevalência de fumantes.
“O setor ofereceu 44 mil empregos diretos e gerou R$ 17,8 bilhões de tributos no ano passado. O fato é que estamos transferindo impostos, empregos e renda para outros países. Enquanto o Brasil se manteve estável na produção nos últimos 30 anos, a África aumentou 40% a produção e vendeu tudo.”
Thesing faz questão de ressaltar que as áreas que produzem tabaco têm mais cobertura vegetal e há um incentivo para não haver desmatamento.
Na questão dos venenos, diz que é a segunda cultura que menos usa agrotóxicos. Segundo ele, uma pesquisa da Esalq-USP apontou que os produtores usam 1 kg de ingrediente ativo enquanto outras culturas como batata e tomate usam até 70 kg.
Valmor Thesing, ´presidente do SindiTabaco
Felipe Krause/SindiTabaco
Carla Andreia Schuh, assessora de política agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), concorda com Thesing.
“As narrativas não retratam a realidade da produção do tabaco. Estudos mostram que não é a cultura que mais usa agrotóxicos. Hortifrútis usam muito mais e há um esforço das empresas integradoras em relação ao manuseio dos agrotóxicos e uso de EPIs, embora, é claro, não haja 100% de adesão porque alguns produtores amarrados à cultura do passado acham que não é necessário.”
Segundo o presidente do SindiTabaco, o tabaco também se destaca no combate ao trabalho infantil, com campanhas e termos assinados com o Ministério Público do Trabalho, sendo um exemplo desde a década de 90, e a cultura não provoca suicídios.
“Isso é uma grande mentira. Passo Fundo tem um índice de suicídios muito maior do que Venâncio Aires (um dos pólos de produção de fumo) e não planta tabaco”, diz Thesing.