A adoção de tecnologias de automação na agricultura foi comprovadamente mais rápida do que na pecuária nos últimos cinco anos. É o que mostra o Índice Agrotech da Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil), que fez uma análise de 2019 a 2024.
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A agricultura apresentou um aumento de 33% — de 0,18 a 0,24 em uma escala de 0 a 1 — no nível de automação dentro da porteira. Já a pecuária registrou crescimento de 0,17 para 0,22, ou 29%. Foram analisadas todas as atividades numa fazenda, como preparo e manejo de solos, tratos culturais, irrigação, colheita, criação, alimentação de animais.
Na avaliação de Marina Pereira, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da GS1 Brasil, o movimento se justifica porque a agricultura enfrenta mais desafios externos, como o clima.
“Na agricultura, é preciso ser preditivo para gerenciar fatores que afetam a produtividade”, afirma. Ela ressalta que culturas como a soja demandam certificação e rastreabilidade, “o que puxa a adoção de tecnologias”. Segundo a executiva, a pecuária também enfrenta desafios, mas opera em ambientes mais controlados, como confinamentos ou granjas.
O avanço da automação na agricultura foi ditado pelas principais culturas do Brasil — como grãos, cana-de-açúcar, horticultura e algodão —, nas quais a pesquisa detectou “aumento dos investimentos em tecnologias de precisão”.
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De forma geral, a adoção de tecnologia na agropecuária brasileira avançou 35% nos últimos cinco anos, de 0,17 para 0,23 no nível de tecnologia dentro das porteiras. A especialista avalia que é um crescimento relevante, mas diz que o custo é a principal barreira. “É caro comprar equipamentos, treinar pessoas, mudar processos de plantio, colheita”, exemplifica.
Outro desafio é a gestão dos dados. “Ainda temos 62% dos produtores fazendo controle no papel”, afirma ela, citando a falta de conectividade como gargalo para a digitalização nas fazendas.
Para Pereira, o campo brasileiro tem um parque tecnológico antigo, mas há um movimento de renovação de tratores, colheitadeiras, drones e outros maquinários. Quanto à renovação de equipamentos, a pesquisa registrou um avanço de 0,04 para 0,07, ou alta de 75%, o que indica um movimento tímido, mas promissor.
Ainda que o trator seja a base do maquinário dos produtores, o drone ganha espaço. “Hoje os drones fazem avaliação de pragas, ajudam em colheita, monitoram rebanho, e isso gera estatísticas e aumenta a produtividade.”
O índice ponderou três fatores nas fazendas: gestão dos dados e informações coletadas por equipamentos tecnológicos; práticas sustentáveis; e parque tecnológico, que avalia a adoção de tecnologia em tratores, máquinas, drones, sensores e outros dispositivos.
De acordo com a pesquisa, 71% dos produtores do Centro-Oeste têm apetite por investir em tecnologia. Nas regiões Sul, Nordeste e Sudeste, o interesse dos produtores ficou em média de 66%. Já na região Norte, o apetite por tecnologia está entre 56% dos produtores.
A pesquisa questionou se os produtores pretendem investir mais de 5% de seu faturamento em automação. Do total de respostas, 29% eram de agricultores que previam essa perspectiva, e 36% de pecuaristas com essa projeção.
E o foco é investir em rastreabilidade, dada a iminência da aplicação da lei antidesmatamento da União Europeia. “O produtor entende que adotar tecnologias inovadoras que tragam informações corretas, padronizadas e disponíveis de ponta a ponta é fundamental”, afirma.