
A advogada Kelle Moreira passou a beber mais vinho nos últimos anos. “Desde a época da pandemia passei a tomar vinho de maneira mais informal, sem precisar de um evento específico”, conta a paulistana que, além da informalidade, também credita o aumento do consumo a um maior conhecimento sobre a bebida. “Conforme fui descobrindo meu paladar fui me interessando por diferentes vinhos como os brancos, roses e até mesmo um tinto mais leve” diz.
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Embora não se considere especialista no assunto, a advogada passou a experimentar novos rótulos, especialmente nacionais, e hoje consegue fazer algumas escolhas. “Saí da cerveja e do vinho doce, que costumava tomar quando era mais nova”. Aos 39 anos, Kelle prefere vinhos jovens e leves que custem próximo de R$ 50 a garrafa. “Consumo de uma a duas garrafas por semana, aos poucos, degustando”, diz.
A mudança no hábito de consumo da advogada não é um fenômeno isolado. Pelo contrário. Uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS) em parceria com o Sebrae Nacional identificou que o vinho nacional tem conquistado novos públicos, especialmente mulheres, com maior escolaridade e renda, e residentes nas regiões Sul e Sudeste.
Realizada entre janeiro e fevereiro de 2025, a pesquisa ouviu 1.709 pessoas que consomem bebidas alcoólicas e apontou que, entre 2019 e 2022, a fatia de jovens e mulheres no consumo nacional subiu de 47% para 54%, sendo que 69% desse público opta por vinhos brasileiros.
Segundo Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) e vice-presidente do Consevitis-RS, o levantamento mostra uma tendência de as pessoas entre 30 e 40 anos elegerem o vinho como a bebida de sua preferência. “Ela reflete o resultado de um longo trabalho para disseminar a cultura do vinho para todo o Brasil”, diz. O executivo explica que embora o volume total comercializado no País permaneça estável, em torno de 2,2 litros per capita ao ano, a participação de consumidores mais jovens e de mulheres cresce de forma consistente.
“Temos recebido cada vez mais visitas de mulheres com amigas”, conta a agrônoma Isabella Bonato, uma das sócias da Vinícola Brasília, formada a partir da união de 10 famílias viticultoras da região do Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD/DF), área rural no entorno da capital federal.
Com os primeiros vinhedos cultivados em 2018, a vinícola Brasília abriu, em 2024, as portas para visitação e apresentação de seus oito rótulos. “Temos aumentado anualmente nossa área de cultivo, que já soma 60 hectares e estamos fomentando o enoturismo na região de Brasília com a realização de diversos eventos aos finais de semana”, conta Bonato.
Vinícola Brasília abriu, em 2024, as portas para visitação e apresentação de seus oito rótulos
Divulgação
Embalagens mais modernas
Para ampliar o público, majoritariamente formado por pessoas acima de 50 anos, as vinícolas estão investindo tanto em comunicação dirigida aos jovens quanto em rótulos mais modernos. “O vinho deixou de ser só aquele produto da taça de cristal no restaurante. Hoje está na lata, na taça pronta para beber, na beira da piscina e até nos drinks”, afirma Panizzi.
A tendência acompanha um comportamento global de busca por bebidas mais leves e com menor teor alcoólico. “O jovem de hoje consome menos álcool e se preocupa mais com bem-estar e saúde”, acrescenta Ronaldo Triacca, produtor e presidente da Expovitis Brasil.
Outro fator que vem contribuindo para essa mudança de perfil é o enoturismo. Após a pandemia, viagens internas pelo País estimularam o interesse pelo vinho nacional, quebrando preconceitos e fortalecendo a imagem dos rótulos produzidos no Brasil. “Quando o brasileiro prova e conhece nossos terroirs, ele não só consome, mas se torna defensor do vinho brasileiro”, destaca Triacca.