
Após a American Soybean Association (ASA) declarar que os EUA têm perdido participação no comércio de soja da China para o Brasil nos últimos anos, ainda não será agora que o grão americano vai ganhar espaço no mercado asiático. Segundo analistas, além de a China estar bem abastecida, o Brasil deverá seguir como principal fornecedor.
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Na avaliação de Leonardo Martini, analista em gestão de risco da StoneX, a reclamação da entidade que representa os sojicultores dos EUA é válida. Porém, o Brasil seria naturalmente o principal fornecedor do grão aos chineses nessa época do ano.
“Ainda que a China retire a tarifa de 10% sobre as importações de soja dos EUA, o nosso produto ainda sai mais barato para o mercado asiático. Isso é algo natural dada a sazonalidade das exportações brasileiras, que devem seguir firmes até dezembro, devido à safra recorde no país”, disse.
Para William Osnato, diretor de inteligência de mercado da Barchart, a China está numa posição confortável em relação às compras de soja internacionais.
“Os estoques de soja da China estão no pico da temporada e a maior parte das compras para outubro já foi feita. Portanto, eles podem esperar um pouco para fechar um acordo com os EUA”, pontuou Osnato, acrescentando que não acredita em uma venda significativa de soja americana para a China sem um acordo comercial.
No último dia 11 de agosto, EUA e China anunciaram uma pausa de 90 dias sobre as tarifas de exportação.
Enquanto as duas potências não chegam a um entendimento comercial, os EUA já estão perdendo parte de sua janela ideal de exportação, adverte Leonardo Martini, da StoneX.
“O pico de exportação de soja dos EUA para China acontece de outubro a dezembro, mas até agora os chineses não compraram nada da safra 2025/26 dos Estados Unidos. Não haverá tempo hábil para essa mercadoria chegar em outubro, então restarão apenas os dois últimos meses do ano para essas negociações acontecerem, já que em janeiro o Brasil já terá soja para negociar com os chineses”.
O analista da StoneX lembra, ainda, que diante da ausência do seu principal comprador de soja, os Estados Unidos poderão ter dificuldades para exportar as 46,40 milhões de toneladas previstas pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) para a temporada 2025/26.
Para Osnato, da Barchart, com a China fora do mercado de soja americano, e sem compradores suficientes para absorver todo o potencial de oferta, os preços podem responder negativamente na bolsa de Chicago.
“Sem um acordo comercial [com a China], os EUA exportarão um pouco mais para outros parceiros na Europa, Ásia e Américas. Mas não o suficiente para compensar a perda de demanda da China. Milhões de toneladas de soja permanecerão nos EUA, pressionando os preços domésticos”, afirma o analista.