Com planos de ampliar sua atuação em áreas como proteínas vegetais e ração para animais, o grupo argentino Molino Fénix, mais conhecido pela moagem de trigo, busca alternativas para viabilizar novos investimentos. O Brasil pode ser um caminho, por meio da linha do BNDES para exportação de equipamentos. A Kepler Weber, especializada em soluções pós-colheita, esteve recentemente na Argentina para tentar viabilizar essa linha e vender novos silos.
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Durante visita às instalações do grupo, em um dia gelado de julho no interior da Argentina, foi possível perceber que a relação com a empresa brasileira vai além dos negócios. As companhias mantêm parceria desde a década de 1990, quando a Fénix passava por um processo de recuperação e precisou construir uma planta em tempo recorde para atender a um contrato com a Arcor. A reestruturação incluiu um acordo com a Kepler e a empresa argentina Cinter. “Nunca montamos nada tão rápido”, contou o proprietário da empresa, Tomas Herfarth, à nossa reportagem, que acompanhou a conversa amistosa entre as partes — aquecida por um chá quente e lembranças compartilhadas.
A experiência positiva impulsionou o crescimento da companhia, que mantém até hoje uma postura de fidelidade a fornecedores. “Mantemos as parcerias porque sabemos que, em momentos de dificuldade, contar com quem conhece nossa operação faz toda a diferença”, disse o executivo.
Apesar disso, nos últimos anos, a escassez de dólares e a burocracia para autorizações de importação obrigaram a Molino Fénix a recorrer a fornecedores locais para realizar expansões. “Agora mudou, e o governo argentino permite pagar 20% no ato da compra e o restante após a nacionalização. Algumas empresas aceitam, outras não”, explicou Herfarth. No caso da suíça Bühler, outro fornecedor da companhia, a solução encontrada foi oferecer garantias no exterior para liberar os equipamentos.
A Fénix tenta viabilizar infraestrutura para dobrar a capacidade de moagem de trigo e de armazenagem. A empresa opera hoje quatro grandes moinhos, com capacidade de moagem de 1,8 mil toneladas por dia, além de unidades menores que estão sendo incorporadas ou ampliadas. Um novo moinho, com capacidade para 450 toneladas por dia, foi adquirido recentemente em Chivilcoy, próximo à fábrica de massas secas. O grupo também atua na produção de massas frescas, com unidades em Rosário e Chivilcoy, e fornece insumos para indústrias como a Paladini.
A capacidade de armazenagem atualmente é de 72 mil toneladas em Salto e mais 60 mil toneladas em Villa María. Os projetos estão condicionados à obtenção de financiamento, seja por meio de instituições financeiras locais, como o Banco Nación, seja via crédito externo.
Além do setor de trigo e massas, o grupo investe fortemente em nutrição animal. Possui fábricas em Córdoba, voltadas a grandes rebanhos, e em San Luis, com foco em pequenos animais. “Antes as pessoas compravam qualquer ração; hoje querem super premium, com composição especial e ingredientes como óleo de soja em vez de carne, para evitar alergias aos pets”, descreveu Herfarth.
A produção de alimentos para pets é vista como um dos negócios mais rentáveis do grupo. “Vendemos um saco de ração por US$ 200. Para atingir esse valor com farinha, teríamos que vender três caminhões. É impressionante”, disse, comentando o quanto o consumidor argentino prioriza a alimentação dos animais de estimação.
Outra aposta recente é o processamento de leguminosas, como lentilha, feijão, grão-de-bico e ervilha. O grupo já processa cinco produtos e estuda, junto à empresa Gastaldi, a criação de uma unidade de extrusão voltada à produção de ingredientes vegetais para substituir carne em produtos industrializados. O objetivo é avançar até a produção de concentrado e isolado proteico. “Há uma tendência clara de migração da proteína animal para a vegetal. Estamos preparando nosso portfólio para isso”, afirmou Herfarth. Na área de bebidas, a empresa mantém uma vinícola em La Rioja, onde produz vinhos para a Peñaflor.
Sobre o Brasil, o executivo afirmou que já foi grande consumidor da farinha de trigo do grupo, mas começou a produzir o cereal internamente com mais qualidade e reduziu as compras. Apesar disso, segue como um foco estratégico para a Fénix.
*A jornalista viajou a convite da Kepler Weber