Os problemas enfrentados pela Raízen em suas operações de cana, decorrentes da quebra na safra, somaram-se a uma queda em seus resultados de refino na Argentina e ao aumento das despesas com juros. Essa combinação resultou em um prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão no primeiro trimestre da safra — um ano antes a empresa lucrara R$ 1,1 bilhão —, e em uma alavancagem acima do nível considerado “saudável” pelo mercado, de 3 vezes.
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O resultado refletiu tanto a queda de 6,1% na receita, que ficou em R$ 54,2 bilhões, como o aumento das despesas financeiras, que tiveram um salto de 47,1%, para R$ 2,2 bilhões.
Nesse contexto, a companhia reiterou em comunicado que seus controladores — Cosan e Shell — “estão avaliando ativamente uma potencial capitalização”. A Raízen informou que “as discussões estão em andamento, incluindo a possibilidade de um aporte de capital que poderá envolver os atuais ou novos acionistas”, mas não deu mais detalhes. A meta é acelerar a redução da alavancagem, que chegou a 4,5 vezes no fim de junho.
Essa indicador refletiu uma piora operacional, que resultou em um consumo de caixa de R$ 7,1 bilhões. No fim do trimestre, a Raízen tinha R$ 15 bilhões em caixa, e US$ 1 bilhão em crédito rotativo. Os R$ 2,6 bilhões que a empresa vendeu em ativos só virarão caixa nos próximos trimestres.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) do negócio de etanol, açúcar e bioenergia caiu abaixo de R$ 1 bilhão, a R$ 862 milhões (recuo de 23,7%), enquanto o Ebitda de distribuição de combustíveis no Brasil alcançou R$ 1 bilhão, alta de 3,3%. No total, o Ebitda ajustado da companhia no trimestre recuou 23,4%, para R$ 1,9 bilhão.
A Raízen já havia antecipado uma redução em sua moagem de cana, que afetou sua produção de açúcar e etanol e aumentou o peso dos custos fixos. Com uma queda de moagem de 20,7%, para 24,5 milhões de toneladas, o custo dos produtos vendidos (CPV) subiu 18,7%, para R$ 1.648 a tonelada de açúcar-equivalente.
Apesar da produção menor, a Raízen informou que aumentou suas vendas de açúcar próprio no primeiro trimestre, “em linha com a estratégia de vendas”.
Já o desempenho do segmento de distribuição no Brasil foi sustentado pelo maior volume de diesel e pelo aumento das margens de comercialização. Na Argentina, a parada para manutenção da refinaria fez com que a produção ficasse voltada a “derivados de menor valor agregado e rentabilidade”, afirmou a empresa. O Ebitda ajustado do negócio na Argentina caísse 54,8%, a R$ 54,4 milhões.
No lado financeiro, o custo da dívida bruta quase dobrou em um ano e alcançou R$ 2,1 bilhões. O resultado refletiu o CDI médio de 14,5% no último trimestre, em comparação a um CDI de 10,6% um ano atrás.
Além disso, a dívida líquida aumentou 55,8% e alcançou R$ 49,2 bilhões. Em comunicado, a Raízen informou que substituiu R$ 8,9 bilhões em linhas de capital de giro de curto prazo, que estavam ligadas a operações de risco sacado com fornecedores, por “instrumentos de dívida mais eficientes e de prazos mais longos”.