Com os recursos definidos para financiar a primeira leva de projetos de conversão de pastagens degradadas dentro do programa Caminho Verde Brasil, o desafio agora será garantir que as taxas de juros aos produtores rurais fique próxima do almejado pelo Ministério da Agricultura: dentro de um dígito.
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Para Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional, boa parte das instituições financeiras contempladas no segundo leilão do programa EcoInvest, linha de “blended finance” estruturada pelo Tesouro Nacional para apoiar o programa, deverá conseguir oferecer aos produtores rurais taxas de juros de um dígito.
“São dez instituições financeiras concorrendo pelo mesmo portfólio de projetos. Isso vai fazer com que as taxas fiquem apertadas. Muitas dessas instituições deve conseguir entregar [a taxa] ainda em dígito para o tomador final”, afirmou Ceron para jornalistas nos bastidores de evento promovido pelo Cubo Itaú, dentro da São Paulo Climate Week.
De acordo com o resultado do leilão divulgado na quinta-feira (7/8), foram homologadas dez instituições financeiras que apresentaram propostas de financiamento dentro do EcoInvest. O Tesouro deverá conceder R$ 16,5 bilhões para os empréstimos a uma taxa subsidiada de 1% ao ano, o que deve alavancar até R$ 30,2 bilhões em crédito para os investimentos. No primeiro leilão, as instituições apresentaram uma demanda por R$ 7 bilhões em capital catalítico para ofertar R$ 45 bilhões em crédito final.
Diferentemente do primeiro leilão do EcoInvest, neste segundo leilão o governo federal não limitou a taxa de juros para o tomador final, mas reduziu a alavancagem – volume de recursos que as instituições financeiras devem buscar no mercado para complementar o capital catalítico oferecido pelo Tesouro, justamente para reduzir a exposição aos custos financeiros do mercado.
“A taxa final [dos projetos do segundo leilão] vai depender da [proposta de] alavancagem do banco. Aquelas alavancagens menores podem sair mais em conta, mas também elas podem fazer projetos mais simples”, observou Ceron.
Expectativa
A expectativa do governo é que os primeiros contratos de financiamento dentro do segundo leilão do EcoInvest ocorram em 30 dias, com os primeiros desembolsos ocorrendo entre 45 a 60 dias. Segundo Ceron, o Tesouro deve priorizar as instituições que ofereceram a maior alavancagem de recursos.
Para Pedro Fernandes, diretor de agronegócios do Itaú BBA, alguns projetos vão acabar tendo taxas finais acima de um dígito. “Para alavancagens mais elevadas, tem algum desafio de [a taxa] permanecer em um dígito. Para alavancagens menores, a gente acha que eventualmente é possível.
A composição que terá que ser feita é a quanto os recursos externos serão captados e a quanto os recursos de tesouraria são utilizados”, afirmou. O executivo do Itaú observou, porém, que há 45 dias, quando o edital do leilão estava em discussão, a taxa de juros pré-fixada de mercado estava maior do que agora. “O leilão possibilitava uma série de ofertas em diferentes níveis de alavancagem. Temos que esperar o resultado oficial”, ressaltou.
O custo também dependerá do perfil dos projetos selecionados. “O valor médio por hectare recuperado varia muito entre as instituições. E é natural e saudável que assim seja, porque tem projetos vem estruturantes e levam tempo maior e tem outros que são mais simples”, afirmou Ceron.
O secretário do Tesouro adiantou durante debate no evento que mais de 10% dos projetos apresentados pelas instituições referem-se a iniciativas de reflorestamento de áreas degradadas. Também foram apresentados nos portfólios projetos de fomento a cadeias de biocombustíveis, como combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), projetos de integração com pecuária e de intensificação da pecuária.
Embora o fomento, nesses casos, possa ser a um grande investimento em biocombustível, o recurso pode chegar mais pulverizado na ponta. “Pode ter um investidor interessado em implantar uma fábrica de biocombustível e fazer uma cadeia de recuperação de áreas degradas com pequenos produtores”, disse. “O que tomamos conhecimento são projetos interessantíssimos, que vão criar cadeias novas”, acrescentou.
Ainda segundo Ceron, o Cerrado foi o bioma com a maior quantidade de projetos de recuperação de áreas degradadas apresentados pelas instituições financeiras. A Amazônia, por sua vez, foi alvo de mais de 10% de alocação, houve apresentação de projetos na Mata Atlântica, e a Caatinga cumpriu com o mínimo de 10% de recursos que o governo almejava para esse leilão.