
A Farmtech, startup que atua como gestora de fundos de crédito rural em operações originadas por empresas parceiras, acaba de ampliar seu leque de serviços ao criar sua própria instituição financeira. Com a nova estrutura, a companhia passa a oferecer crédito diretamente aos produtores rurais.
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A nova operação foi estruturada como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), um tipo de fintech regulada pelo Banco Central que concede crédito com capital próprio, sem intermediação de um banco tradicional. A empresa passará a atuar nesse novo segmento sem deixar de oferecer os serviços que já compunham seu portfólio.
Para a concessão de empréstimos, a startup vai utilizar uma tecnologia que é capaz de analisar o perfil do produtor rural somente com o CPF. Segundo Rafael Pilla, o principal executivo da Farmtech, é possível analisar, em segundos, milhares de produtores ao mesmo tempo, e sem necessidade de cadastro prévio.
É possível utilizar a tecnologia em diferentes canais de distribuição de insumos agrícolas, especialmente nas revendas, que são o principal ponto de contato com os produtores, disse Pilla. “O processo de uma revenda em Rondônia não é igual ao de uma em Santa Catarina. A plataforma foi feita para se encaixar nas rotinas do parceiro”, afirmou.
Em um trabalho com distribuidores parceiros, a empresa testou o modelo durante seis meses, período em que os desembolsos de empréstimos somaram R$ 400 milhões. Passada essa fase, a startup tem a meta de liberar R$ 7 bilhões em crédito até o fim de 2025, sendo R$ 1,2 bilhão via operação direta. Daqui a um ano, a Farmtech quer chegar a R$ 2 bilhões em desembolsos diretos.
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Em oito anos de operação, a Farmtech já atuou, por meio de parceiros, em mais de 260 mil operações de crédito rural, que envolveram 24 mil produtores e totalizaram R$ 25 bilhões. “Isso tende a se acelerar bastante agora. A expectativa da empresa é que o volume de crédito cresça em torno de 50% já em 2025”, afirma Pilla.
Com a nova frente de atuação, a Farmtech passará a conceder crédito pré-aprovado na hora em que o produtor rural for decidir sobre a compra, o que tende a facilitar a operação para o tomador e a atrair mais negócios para a startup, avalia o executivo. “Historicamente, o crédito rural é mal distribuído. Pequenos e médios produtores têm pouco acesso e enfrentam muita burocracia, sem contar que os volumes do Plano Safra não acompanham a demanda real”, diz.
Na concessão de crédito, os produtores rurais de médio porte serão o público-alvo da Farmtech, mas a empresa vê potencial de atrair também uma parte dos pequenos agricultores. Para acelerar a expansão de sua atuação como instituição financeira, uma das apostas da startup é sua rede de relacionamentos. Segundo Pilla, a empresa tem parcerias com fabricantes que detêm, somadas, 85% do mercado brasileiro de de insumos agrícolas.
“No modelo tradicional, o produtor vai ao banco, pede uma linha de crédito, espera a liberação e só então compra o insumo. No nosso modelo, antes mesmo da compra, nós já analisamos o histórico do produtor e apresentamos o limite de crédito para que ele possa tomar sua decisão. Isso transforma a experiência”, diz.
Uma parte essencial da nova fase foi a rodada de investimento que a empresa fez em 2024. Na ocasião, o fundo Bewater aportou US$ 10 milhões na agfintech. Essa foi a primeira e única rodada de investimento da Farmtech até agora.