A colheita de milho e de cana-de-açúcar avançou em julho, com auxílio do clima favorável, apontou relatório assinado pelos analistas de commodities agrícolas do Citi, Gabriel Barra e Pedro Gama. Os analistas alertam, no entanto, para a elevação nos preços dos fertilizantes, o que pode comprometer a rentabilidade dos produtores na safra 2025/26.
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Os preços dos fertilizantes dispararam no fim de julho, em meio às tensões geopolíticas crescentes no Oriente Médio, alcançando os níveis mais altos desde novembro de 2022. A alta de preços fez muitos distribuidores suspenderem temporariamente as ofertas.
A combinação de volumes fracos de exportação da China e da decisão da Índia lançar novas licitações de importação fora da temporada aumentou a pressão altista sobre os preços, segundo os analistas.
A ureia continua sendo o ponto focal, mas outros nutrientes também estão reagindo à mudança na demanda global. Os preços dos fertilizantes de potássio estão impulsionados pelas compras americanas. A equipe de commodities do Citi espera suporte nos preços dos fertilizantes devido à falta de progresso no cessar-fogo da Rússia e da Ucrânia.
Milho e soja
A colheita do milho avançou para 69,1% da área até o fim de julho, segundo o relatório do Citi. O progresso médio da colheita no Centro-Sul atingiu 56,4%, acima da média dos últimos cinco anos de 51,2%, mas abaixo do ritmo de 2024. A rentabilidade continua sólida, com prêmios firmes pagos pelo milho, refletindo uma demanda externa resiliente.
As condições no fim de julho sugerem uma preparação de solo favorável para o plantio da safra 2025/26 de soja, a partir de setembro, desde que os níveis de umidade permaneçam dentro das médias históricas. Os preços da soja no mercado interno apresentaram leve tendência de alta em julho, com demanda firme no mercado interno e no exterior oferecendo suporte às cotações.
Os volumes de exportação estão acima da média histórica, com prêmios positivos permanecendo mesmo durante o pico da safra. A valorização recente do dólar em relação ao real adicionou mais suporte aos preços no Brasil.
No campo, os custos médios de produção diminuíram e a maioria dos Estados produtores relatou ganhos de produtividade na safra 2024/25. Com isso, apontam os analistas, a lucratividade dos produtores será melhor na atual safra. O aumento da mistura de biodiesel no diesel de 14% pra 15% também ajuda a dar suporte aos preços no médio prazo.
“Já considerando o cenário para 2025/26, não vemos uma perspectiva clara para os produtores aumentarem suas margens para o próximo ciclo, visto que estamos observando aumento nos custos de fertilizantes”, afirmaram em relatório.
Açúcar e etanol
O clima seco também favoreceu a moagem ininterrupta de cana-de-açúcar e as operações de campo na maior parte do Centro-Sul. A moagem atingiu 2 milhões de toneladas na primeira quinzena de julho, 14,8% acima do registrado um ano antes. As estimativas sugerem que mais de 48 milhões e toneladas tenham sido processadas na segunda quinzena do mês.
O mix de açúcar na produção atingiu 53,68% do total, 3,8 pontos percentuais acima do registrado no ano anterior. A produção de açúcar foi de 41 milhões de toneladas, alta de 15,1%.
A produção de etanol, observou o Citi, continua a se recuperar com a aceleração da moagem, com uma produção sustentada de hidratado e anidro. No cenário doméstico, a demanda segue sustentada pela paridade com a gasolina nos postos de combustíveis.
Com as condições de clima permanecendo favoráveis, a produção de etanol deve permanecer forte no início de agosto, estima o Citi. As usinas continuam priorizando a produção de açúcar, mas espera-se que a produção de etanol permaneça resiliente, com a elevação de etanol na gasolina para 30% impulsionando o mercado.
Em relação à tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, a equipe do Citi observou que os EUA importam de 2,5 milhões a 3,5 milhões de toneladas de açúcar por ano, com o Brasil respondendo por 47% das importações americanas no ciclo 2023/24.
Na avaliação dos analistas, as tarifas de importação atuais provavelmente não impactarão os preços no curto prazo, dada a pequena quantidade que precisa ser fornecida aos Estados Unidos após agosto.