O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, avaliou na noite desta quarta-feira (30/7) que a manutenção da taxação à carne bovina pode ser uma estratégia dos Estados Unidos para uma eventual negociação com o governo Lula por melhor acesso de seus produtos no mercado brasileiro. Ele rechaçou possibilidade de retaliação de Brasília e insistiu na necessidade de continuar tratativas com Washington.
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“Como estratégia negocial, os EUA podem ter deixado a carne em cima da mesa para que, em uma eventual negociação com o governo brasileiro, isso seja levado em conta. Podem dizer: tem a carne e tem outros produtos que EUA querem ter acesso ao Brasil, e assim fazer uma nova negociação”, avaliou em entrevista à Times Brasil.

Perosa reforçou que com a tarifa de 50%, que somada à alíquota já existente passará de 76%, o volume das exportações a partir de 6 de agosto será reduzido a zero. Ele disse que o prazo dado pelos EUA, para cobrança das novas tarifas a produtos enviados nos próximos sete dias apenas a partir de outubro, vai viabilizar a entrada de cargas que estão no mar ou em portos brasileiros.

Antes da taxação, a expectativa da Abiec é que o Brasil exportasse mais 200 mil toneladas de carne bovina aos EUA entre julho e dezembro, com negócios que poderiam chegar a US$ 1,2 bilhão. “Exportamos cortes e recortes do dianteiro do boi, que não são tão consumidos no Brasil e são essenciais na composição dos hambúrgueres dos americanos. Eles têm alta demanda por esse tipo de carne. Com essa tarifa de 50%, a exportação se torna totalmente inviável”, disse em entrevista mais tarde à CNN Brasil.
“As cargas que ainda estão no mar entrarão de acordo com prazo que foi dado, mas não há plano B, não existe nenhum mercado ali do lado que possa absorver carnes nessa especificidade”, completou.
Ele disse que o setor defende a ênfase no diálogo com os americanos. “As negociações estão sendo tentadas. O governo americano não estava aberto até agora, mas após a implantação da tarifa continua a negociar. É uma janela de oportunidade para o Brasil, para que as negociações continuem e haja possibilidade de retomar esse fluxo comercial (…) Acredito que o bom senso prevalecerá e que o entendimento entre os governos ocorrerá nos próximos dias”, acrescentou.
Perosa rechaçou possibilidades de retaliação pelo Brasil, medida lembrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em nota divulgada pelo Palácio do Planalto há pouco. “A minha sugestão é que continuem as negociações. Não devemos escalar os problemas e sim negociar para tentar chegar a um bom senso comum. Defendemos a continuidade das negociações com calma e cautela para não prejudicar ainda mais os setores afetados”, completou Perosa na entrevista.