A sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente americano, Donald Trump, às exportações de todos os produtos brasileiros preocupa os produtores rurais, mas não paralisa negócios na 26ª Coopercitrus Expo, em Bebedouro (SP). A feira começou na segunda-feira (21/7) e termina nesta sexta-feira (25/7).
Leia também
Sobretaxa dos EUA acentua queda da carne no mercado brasileiro
Agro brasileiro vê impacto de US$ 5,8 bilhões com tarifaço dos EUA
Queda nas exportações deve baixar preço interno do mel
A expectativa dos organizadores é encerrar o evento com visitação e movimentação recorde, de R$ 2 bilhões em negócios. Só nos dois primeiros dias, segundo o CEO da cooperativa, Fernando Degobbi, a movimentação foi de R$ 612 milhões.
Ele destaca que, até sexta-feira, o evento deve receber cooperados de Goiás e Minas Gerais, além dos de São Paulo. A cooperativa contratou 72 ônibus para o transporte gratuito. No ano passado, foram 55. A entrada na Expo também é gratuita.
Degobbi diz acreditar que os 20 mil visitantes e os negócios de R$ 1,8 bilhão de 2024 serão batidos, porque, apesar do tarifaço, os produtores paulistas estão atrasados na compra dos insumos.
“Esse atraso é histórico, mas o mercado está destravando porque o produtor tem que plantar. Nesse momento a gente percebe o agricultor preocupado em garantir os custos de produção, que é o que está na mão dele garantir. Nós não sabemos efetivamente o que vai acontecer a partir do dia 1º de agosto”, afirma.
Tratores e implementos
O pecuarista Ivo Luiz de Almeida, que mora em Jaboticabal (SP), disse à reportagem que o produtor enfrenta dificuldades todos os dias, como a queda no preço da arroba, o aumento de preços do óleo diesel e insumos. Para ele, o tarifaço não passa de “uma jogada política”.
Ele estava negociando a compra de um trator de 120 cv para renovar maquinário em sua fazenda de cria e recria de gado em Tocantins. Associado da Coopercitrus, ele conta que visita a feira todos os anos, em busca de novidades. E que fica mais barato comprar no evento e negociar o frete do que procurar uma revenda na região Norte.
Ivo Luiz de Almeida estava negociando a compra de um trator
Eliane Silva/Globo Rural
O produtor de cana-de-açúcar e criador de gado Pedro Antônio Octaviano, de Porto Ferreira (SP), visitou a feira em busca de implementos. Ele diz que participa todos os anos porque encontra bons preços e pode pagar equipamentos e insumos em cinco ou seis parcelas sem juros.
A Coopercitrus Expo, que tem uma característica diferente da maioria das feiras agropecuárias. Toda a comercialização de máquinas, insumos e outros produtos e serviços passa pela cooperativa. As vendas, segundo Degobbi, são todas em reais, com taxas de juros e tabela de preço diferenciadas, exclusivas para os cooperados.
O evento deste ano reúne 162 expositores, todos parceiros da Coopercitrus. Entre as indústrias de máquinas, há gigantes como as multinacionais Jacto, New Holland, Massey Ferguson e Valtra, mas também há empresas de porte menor como a Minami, de Biritiba Mirim, e a Kamaq, de Araras, ambas de São Paulo.
As duas indústrias de implementos têm uma história semelhante à da Jacto, também sediada no interior paulista: foram fundadas por imigrantes japoneses ou descendentes, em 1972.
Cafeicultura atrai investimentos
A Minami, do imigrante Tadataka Minami, teve como primeira máquina uma lavadora de cenouras. Hoje, fabrica implementos para café e citros, com destaque para as adubadeiras de café, que variam de R$ 25 mil a R$ 100 mil.
Segundo o vendedor Allan dos Santos, o produtor está desconfiado neste ano por conta da ameaça das tarifas, mas, com o bom desempenho do café, a indústria projeta pelo menos repetir os negócios do ano passado, quando vendeu cinco máquinas na feira.
Allan dos Santos, vendedor da Minami, diz que a indústria projeta pelo menos repetir os negócios do ano passado
Eliane Silva/Globo Rural
A Kamaq, fundada por Fujio Kawai e Takezo Seguchi, lançou como primeiro produto um pulverizador de inseticida líquido para algodão e soja. Na feira, ele expõe seu portfólio de mais de 40 roçadeiras, que variam de R$ 13 mil a R$ 127 mil, além de adubadeiras para café, citros e cereais.
No estande da Jacto, o gerente nacional de vendas, Armando Carlos Maran, disse que, mesmo sendo uma feira regional, a marca está expondo seu portfólio completo para todos os perfis de produtores. O destaque é um pulverizador autônomo, que segundo ele, está em testes em unidades da Citrosuco, mas ainda não está à venda.
Maran avalia que o momento é de incerteza, devido ao tarifaço, mas também espera repetir os bons resultados do ano passado. O carro-chefe das vendas da indústria é o pulverizador Uniport, mas na feira o foco é a colhedora de café para arábica e conilon.
“O cafeicultor está preocupado com a ameaça das tarifas americanas, mas continua investindo. Além disso, ele já criou independência de bancos, só busca financiamento quando tem boas taxas, e ainda tem a opção do barter”, explica.
No país, a empresa aumentou em pelo menos 10% as vendas no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período de 2024, mas a comercialização da colhedora de café cresceu de 30% a 40% devido aos bons preços da cultura e já representa de 15% a 18% do faturamento do ano.
Natal Garrafoli, diretor de relações institucionais da Corr Plastik, empresa de tubos e conexões de PVC e polietileno com faturamento na casa de R$ 1,5 bilhão que também expõe na Coopercitrus há mais de 15 anos, disse que o mercado parou após o anúncio de Trump. A empresa atende o agronegócio com soluções para irrigação, e os mercados de saneamento, construção civil e infraestrutura.
Na feira, lança uma tecnologia importada da Alemanha de tubos que têm espessura menor e o dobro da resistência dos convencionais.
Outra novidade da Expo 2025 é o pavilhão em que 12 agroindústrias da região podem vender seus produtos artesanais como queijo, mel, castanhas, cachaças e outros. No estande da Terra Límpida, por exemplo, os visitantes podem degustar queijos especiais produzidos por uma família italiana no sítio de Cássia dos Coqueiros, com destaque para o premiado Bucaneve brie.