A Previ, fundação de previdência complementar dos funcionários do Banco do Brasil (BB), a maior do país, informou nesta segunda-feira (14/7) que concluiu na sexta-feira (11) o processo de desinvestimento do plano 1 (de previdência privada) na BRF, encerrando um ciclo de mais de três décadas no ativo. Procurada, a BRF ainda não se manifestou.
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No comunicado, o fundo relata questões de governança da fusão entre BRF e Marfrig e diz que a companhia combinada adiciona “uma camada de risco incompatível” para os seus investimentos.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu por unanimidade suspender a assembleia geral extraordinária da BRF que avaliaria sua incorporação pela Marfrig. A reunião para tratar da fusão estava marcada para esta segunda (14) e foi adiada pela segunda vez consecutiva. A decisão da Previ pode abrir caminho para que a transação seja aprovada, após a compra de mais participação na empresa pelos controladores da Marfrig.
A Previ afirma que os seus investimentos em renda variável precisam cumprir uma função no portfólio, tanto pela valorização do ativo quanto pelo recebimento de dividendos.
“Nesse contexto, a anunciada fusão entre a BRF e a Marfrig introduz um cenário de grande incerteza quanto à retomada de uma política de proventos consistente, uma prática que já não era uma realidade para os acionistas da BRF nos últimos anos”, informa.
Temores
Para o fundo, o histórico recente da BRF, marcado pela ausência de proventos por um longo período, gera ceticismo no mercado. “Analistas e investidores ponderam se a nova empresa, que nascerá da união, terá fôlego financeiro e uma política definida para manter uma remuneração regular aos seus acionistas, ou se a prioridade será a captura de sinergias e a gestão da dívida, adiando mais uma vez a expectativa de um fluxo de dividendos previsível”, diz no texto.
A BRF suspendeu a distribuição de dividendos em 2016 em meio frente a dificuldades financeiras, e sinalizou retorno aos pagamentos no fim de 2024.
Para a Previ, a Marfrig tem se mostrado uma pagadora de dividendos mais consistente nos últimos anos, mas as dúvidas sobre a governança, o elevado endividamento e a estrutura final da companhia combinada “adicionam uma camada de risco incompatível com o perfil do Plano 1”, afirma.
Em seu comunicado, o fundo de previdência lembra que a decisão de saída da BRF e a venda das ações foram negociadas por valor superior ao oferecido aos minoritários no caso de exercício do direito de recesso, se a fusão entre BRF e Marfrig se concretizar. E que a saída da empresa é “uma decisão estratégica e bem-sucedida”, que antecipa possíveis impactos negativos decorrentes da futura incorporação.
A Previ entende que a relação de troca proposta na fusão não reflete adequadamente o valor da BRF, o que poderia resultar em perdas para os acionistas minoritários e, consequentemente, para os associados.

Para complementar sua decisão, a Previ relata que a venda teve fundamentação em diversas áreas da Previ, seguindo os ritos e instâncias previstos na governança de investimentos, com apoio das áreas de risco, controladoria, jurídica e de participações. A decisão também contou com pareceres jurídicos e financeiros externos.
E que as decisões de investimentos e desinvestimentos são tomadas em alçadas colegiadas — a diretoria executiva e o conselho deliberativo aprovaram a venda na B3.