Pressão de importadores noret-americanos pode influenciar na decisão de Donald Trump, avaliam fontes Empresários do agronegócio passaram a considerar a possibilidade de um recuo do governo dos Estados Unidos na taxação de 50% aos produtos brasileiros ou de um adiamento da entrada em vigor da nova tarifa, inicialmente prevista para 1º de agosto. A pressão de importadores americanos, principalmente de suco de laranja e de carne bovina, e de exportadores que temem as ações de reciprocidade do Brasil pode surtir efeito no curto prazo e interferir na decisão do presidente Donald Trump, avaliam fontes.

“Os sinais são de que ele [Trump] pode recuar ou postergar a data”, disse um executivo brasileiro após contato com empresários americanos.

A pressão dos importadores de suco de laranja sobre Trump deve aumentar com o anúncio da taxação de 30% sobre o México feito neste sábado (12/7). Empresas da Flórida, por exemplo, que ainda podiam comprar parte da sua matéria-prima dos produtores mexicanos com isenção, terão os custos elevados. As companhias já haviam sido afetadas pela tarifa de 50% sobre as importações do Brasil. O cenário muda totalmente com a nova alíquota sobre os produtos do país vizinho, relatou uma fonte.

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No caso da carne bovina, o receio é com o aumento do preço dos hambúrgueres, meio pelo qual 68% dos americanos consomem a proteína. Com a produção pecuária interna em queda e custo alto, as empresas dos EUA têm usado a carne brasileira de forma complementar para baratear o produto final.

Na sexta-feira (11/7), o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carne (Abiec), Roberto Perosa, disse que a carne bovina produzida nos EUA custa cerca de US$ 80 o quilo, enquanto o produto brasileiro é vendido, em média, a R$ 50.
Imprevisibilidade
Mesmo se houver recuo ou adiamento da taxação, o cenário não é favorável, ressaltou outro executivo. O clima de “imprevisibilidade total” deixa dúvidas sobre os próximos passos do governo dos EUA, cujo mandato começou há apenas meio ano.

Segundo ele, criou-se um “risco Trump” no mercado global que ainda não está precificado, mas que já atrapalha os negócios do mundo inteiro. “Não dá para ter certeza como ficarão os negócios nos próximos seis meses”, afirmou.

Exemplo dessa imprevisibilidade é a nova taxação ao México e à União Europeia, disse esse executivo, com quem os EUA mantinham negociações em andamento. A sensação no empresariado brasileiro é a de que recuos ou adiamentos podem ser só temporários e que alguma nova medida pode ser anunciada a qualquer momento.

Taxação injustificada
O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua, afirmou ao Valor que a taxação de 50% ao Brasil pegou a todos de surpresa. Ele classificou a medida como “injusta e injustificada”.

As tratativas com os EUA estavam mornas. O Brasil, até então, não era prioridade de Trump, já que a relação comercial é superavitária para os americanos. No acumulado de 15 anos, a balança é deficitária para o lado brasileiro em US$ 90,2 bilhões.

“Vamos conversar o possível e tentar encontrar o consenso”, afirmou Rua. Após o anúncio da taxação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que poderá usar a Lei de Reciprocidade Econômica para retaliar os EUA se não houver um acordo. Os alvos devem ser patentes e propriedade intelectual.

“Não faz sentido da lógica econômica a imposição das tarifas, parece haver evidências de uma lógica política”, comentou Rua. O ministério mapeia outros mercados para redirecionar produtos que deixarão de ir para os EUA.

Na área agrícola, as negociações entre Brasil e EUA envolvem dois produtos, basicamente. Os americanos querem ampliar as exportações de etanol para cá enquanto as usinas brasileiras pleiteiam aumento da cota para embarque de açúcar para lá.

“O governo está tentando entender o que aconteceu, o que pretendemos colocar na mesa e o que faremos daqui para frente. Temos menos 20 dias, é um tempo curto, mas entendemos que, se houver interesse da parte americana, podem alcançar algum consenso”, afirmou.

O Brasil também quer ampliar a cota de exportação de carne bovina para os EUA e a abertura de mercado para o limão taiti, metas que ficam ainda mais difíceis de serem alcançadas nesse cenário.

“Dada a forma como foi divulgada a carta, não sabemos exatamente se isso continua em cima da mesa ou não, se faz sentido ou não. Mas estamos dispostos a conversar em linha de civilidade”, disse Rua.