
Ministério da Agricultura vai apontar opções para setores mais atingidos pelo tarifaço de Trump O Ministério da Agricultura já tem um mapeamento de destinos para onde os setores mais afetados pela taxação de 50% dos Estados Unidos poderão redirecionar as suas exportações. A Pasta aguarda avanços nas tratativas diplomáticas entre Brasília e Washington para reverter o quadro atual, mas admite que o prazo é curto para buscar uma solução sem impactos para os exportadores brasileiros.
O foco da equipe da área internacional da Pasta está em encontrar alternativas para a comercialização de suco de laranja, café, carne bovina, pescados e frutas, principais produtos agropecuários exportados para os Estados Unidos atualmente, cujos embarques serão inviabilizados a partir de 1º de agosto, com a entrada em vigor da nova tarifa.
Em alguns países, a estratégia do ministério será de promoção comercial para ampliar a presença desses produtos. Com outros, ainda há necessidade de negociações para aberturas de mercado, reduções tarifárias ou habilitação de frigoríficos, no caso das exportações de carne bovina.
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A avaliação do Ministério da Agricultura é que algumas ações podem ser feitas para dar vazão aos produtos que deixarão de ser exportados aos Estados Unidos. No caso da carne bovina, a Pasta voltou à carga nas negociações com as autoridades do Vietnã para a habilitação de 15 frigoríficos.
O mercado vietnamita foi aberto em março e a unidade da JBS em Mozarlândia (GO) recebeu aval para vender aos asiáticos. O primeiro embarque ocorreu no fim de semana passado. O país importa cerca de 300 mil toneladas por ano de outras origens e há expectativa do setor produtivo brasileiro de conquistar de 30% a 50% desse mercado no médio prazo. Para os Estados Unidos, o Brasil exportou 220 mil toneladas em 2024 e 181 mil toneladas nos primeiros seis meses de 2025. Com a taxação, as empresas interromperam a produção e processamento de cortes específicos destinados aos norte-americanos.
O México vai realizar uma auditoria em setembro em que pode ampliar em 45% o número de plantas habilitadas para a venda de carne bovina para lá. Atualmente, 31 frigoríficos são autorizados a exportar para os mexicanos. A missão do país latino deverá renovar o aval para essas unidades e credenciar outras 14, disse ao Valor o secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua.
Ele ressaltou também que foram abertos 19 mercados para a carne bovina brasileira desde 2023. O mais recente, oficializado nesta semana, foi o de El Salvador. Em breve, o Chile vai começar a receber cargas das empresas do Paraná. O reconhecimento do Estado como zona livre de febre aftosa sem vacinação e de peste suína clássica foi publicado no Diário Oficial do país nessa sexta-feira (11/7).
Para o café, uma das saídas é intensificar a promoção comercial na China, mercado que já tem crescido, mas que pode comprar muito mais do Brasil. Outra alternativa é a Austrália, disse Rua. “Os australianos importam 3,5 milhões de sacas de café por ano e o Brasil exporta apenas 400 mil sacas”, avaliou. A adida agrícola em Camberra, Daniela Aviani, já foi acionada para tentar ampliar a presença do setor cafeeiro no país.
No caso do suco de laranja, setor mais afetado pela taxação dos Estados Unidos, a Pasta tenta avançar nas negociações com a China para uma “equalização tarifária”. Atualmente, existem duas taxas de exportação, de 7,5% e de 20%, relacionadas à temperatura de chegada do produto nos portos asiáticos. Para entrar com a tarifa mais baixa, há custos adicionais, principalmente de energia elétrica e logística aos empresários brasileiros. A intenção é manter apenas a taxa de 7,5%.
A Pasta também mira mercados como a Arábia Saudita e outros países do Oriente Médio para vender suco de laranja. Rua citou ainda possibilidades de avançar em negociações de acordo com a Índia e a necessidade da ratificação do acordo Mercosul-União Europeia, que pode melhorar o acesso de vários produtos brasileiros.
Ampliar a presença na China também é a alternativa para o setor de frutas, que exporta quase US$ 150 milhões para os Estados Unidos, principalmente manga e uva. Uma parte deverá ser redirecionada para a Europa, maior compradora desses produtos, já que os embarques para os norte-americanos já foram paralisados. No caso dos pescados, ainda é preciso encontrar novos destinos para reduzir a dependência norte-americana. Quase 90% dos peixes exportados pelo Brasil vão para os portos do país da América do Norte. “Estamos pedindo para buscarem compradores”, disse Rua.
Busca ativa
Rua disse ainda que acionou a rede de 40 adidos agrícolas ao redor do mundo para intensificar a busca por novas oportunidades para esses setores. “A busca ativa está ainda maior. Os adidos estão com mandato de buscar toda e qualquer oportunidade para as exportações brasileiras”, afirmou. Ele também afirmou que vai intensificar as viagens para fazer a promoção comercial dos produtos brasileiros. “Faremos uma intensificação total com foco em buscar oportunidades”, disse.
Desde o anúncio de Donald Trump, Rua mantém contato diário com as associações dos produtores e exportadores de suco de laranja, café e carne bovina. “Estamos com contato estreito. Nos falamos duas a três vezes ao dia”, contou. “Vamos fazer essas ações juntos com setores privados, eles sabem onde estão as dificuldades e as oportunidades”, completou.