Peixe pede atenção com qualidade da água É da Bacia Amazônica, berço de grande diversidade de peixes no país, a origem de uma das espécies de pescado de água doce mais famosas e apreciadas nos pratos dos brasileiros. Fornecedor de carne de qualidade, sem espinha e saborosa, o pirarucu (Arapaima gigas), um dos maiores peixes de água doce do mundo. conquistou consumidores em todo o território nacional, principalmente nas últimas décadas, com o aumento da participação que vem registrando na piscicultura comercial.
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Com bom potencial de demanda, o pirarucu ainda reúne outras características consideradas ideais para gerar renda ao criador. Além do alto rendimento em filé que possui e dotado de pele e escamas com uso na confecção de roupas e acessórios, o peixe tem rusticidade, que facilita o manejo em cativeiro e crescimento rápido, podendo chegar a cerca de 10 quilos de peso (que já libera a despesca) no primeiro ano de vida em criatório.
A lida do pirarucu ocorre em três fases, que incluem treinamento alimentar e recria dos alevinos, engorda dos exemplares e manutenção dos reprodutores. Sem muitas exigências, todas permitem ser conduzidas até por um pequeno produtor, pois podem ser desenvolvidas em propriedades não necessariamente grandes, devido à possibilidade de se adequarem a algum espaço ocioso em sítios ou chácaras. Nesse caso, o mais indicado é contar com um responsável técnico para a elaboração do projeto das instalações.
Independentemente do porte, o piscicultor também tem a opção de se dedicar a apenas uma das etapas, tornando-se especialista em uma atividade específica do ciclo de produção. De acordo com o orçamento disponível, ainda é possível escolher o modelo de tanque para utilização no empreendimento. As alternativas são o escavado, o de lona e, na existência de algum curso d’água no local, o tanque-rede. Lago e açude, inclusive, oferecem vantagem financeira se transformados nos próprios viveiros para o peixe.
Exemplar de fisóstomo – que consegue encher a bexiga respirando o ar na superfície –, o pirarucu vive bem em água calma, com concentração de sais minerais e diferentes níveis de pH. De hábito diurno e carnívoro, no ambiente natural se alimenta de zooplâncton, insetos, moluscos e pequenos peixes. Quando bodeco, como é conhecido na idade jovem, piraruco e pirosca são nomes regionais que recebe. Adulto, é piscívoro, porém, após passar por um treinamento alimentar, em tanques tem boa adaptação à ingestão de rações industrializadas.
Secular peixe amazônico e de importância econômica na região, o pirarucu teve sua criação iniciada na piscicultura intensiva por uma unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Norte e Nordeste nos anos de 1940.
Porém, a criação manteve-se incipiente, enquanto a pesca predatória, sobretudo a partir da década de 1960, reduzia a população natural, capaz de ultrapassar 2 metros de comprimento e pesar mais de 200 quilos. Contudo, a conservação da espécie se ampliou com ações de comunidades ribeirinhas, que começaram a monitorar os estoques no início dos anos de 1990.
Início
Antes de tudo, é importante solicitar autorização para criar pirarucu ao órgão ambiental da região, que é o responsável pelo manejo sustentável da espécie local. Com a documentação liberada, compre juvenis de criadores profissionais, experientes e com referências.
Ambiente
Não deve ser exposto a grandes variações de temperaturas, pois abaixo ou acima da faixa entre 26°C e 32 °C o pirarucu reduz o consumo de alimentos. Se a amplitude for ainda maior, pode morrer.
Água
Monitore a qualidade em todas as fases de criação. Quanto mais intensivo for o sistema de criação, maior é a necessidade de verificação, devido à alta produção de resíduos. Água ligeiramente alcalina é a mais indicada. Se usar tanques-rede em curso d’água, deve ter, no máximo, uma correnteza fraca.
Estrutura
Tanques escavados na terra devem ser retangulares, com 500 a 10.000 metros quadrados de lâmina d’água e profundidade de 1 a 1,5 metro. De lona e com dimensões de 30 a 50 metros cúbicos, são circulares, desmontáveis e fáceis de instalar, podendo utilizar o sistema de aquaponia – associação da aquicultura com a hidroponia – e reaproveitar os dejetos dos peixes para nutrição das plantas.
Entretanto, necessitam de um galpão para proteção contra a luz solar e animais predadores. Há ainda viveiros escavados cobertos de lona com 300 a 500 metros quadrados de tamanho e profundidade de 1 a 1,2 metro, os quais devem ser equipados com tubos de abastecimento e drenagem de água como os demais modelos. Feitos de redes ou telas, os tanques-rede adequados para o pirarucu são os de 3 x 3 x 2 metros ou 4 x 4 x 2 metros e precisam de flutuadores, que são vendidos no varejo especializado.
Alimentação
Define a escolha pelo sistema intensivo – o alimento oferecido é a única refeição e o manejo, diário – ou semi-intensivo – o peixe pode se nutrir de outras fontes naturais disponíveis no tanque, como invertebrados aquáticos e peixes nativos de pequeno porte, e a lida é esporádica.
Na alevinagem, a partir do quinto dia da eclosão, ou quando observado o consumo do saco vitelínico, forneça a cada duas horas zooplânctons em quantidade que os alevinos consigam consumir em dez minutos.
Com 7 centímetros de comprimento, se inicia o treino alimentar para a adaptação à ração comercial na fase de recria, que dura cerca de cem dias até o pirarucu atingir 1 quilo. Em seguida, a etapa de engorda leva de 12 a 14 meses.
Reprodução
É sazonal e possível para o pirarucu quando o peixe se torna adulto com 3 para 4 anos de idade, peso de 25 a 35 quilos e 1,2 metro de comprimento. A desova é parcelada, pois os machos e as fêmeas liberam aos poucos os espermatozoides e óvulos, respectivamente. São gerados de 3.000 a 10.000 alevinos por desova.
Mais informações
Criação mínima: em termos produtivos, indicam-se 100 animais, que podem ser levados no tamanho de abate a um viveiro escavado de 1.000 metros quadrados;
Custo: após o treinamento alimentar, os alevinos são vendidos por valores entre R$ 1 e R$ 1,50 o centímetro;
Retorno: as vendas podem começar quando o pirarucu atingir de 10 a 12 quilos de peso;
Onde adquirir: de criadores idôneos e com referências instalados na região.
Consultor: Lucas Simon Torati, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura