Montante saiu de R$ 600 milhões para R$ 1,4 bilhão, aumentando as opções de funding A Bayer e o Citi ampliaram a carteira do fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) criado há dois anos para financiar distribuidores de insumos agrícolas. O montante saiu de R$ 600 milhões para R$ 1,4 bilhão, aumentando as alternativas de financiamento para o segmento, em um ambiente de juros altos e de restrição ao crédito após episódios de insolvência registrados recentemente.
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Todos os recursos do fundo são integralizados pelo Citi, que também fica a cargo do trabalho operacional, mas a análise de crédito passa pelos critérios da Bayer, que oferece outras alternativas de financiamento às distribuidoras de insumos com as quais têm relacionamento.
“Toda a interface operacional, de manutenção do FIDC, fica no colo do Citi. Isso facilita para o foco da Bayer se relacionar com o distribuidor e não ficar preocupado com a infraestrutura”, afirma ao Valor Adriano Milani, líder de tesouraria e soluções comerciais do Citi Brasil.
Hoje, praticamente todas as distribuidoras parceiras da Bayer já tiveram alguma parte das aquisições de insumos feitas junto à multinacional alemã financiada por meio do FIDC. Em 2023, quando o fundo foi lançado, 51 empresas acessaram os recursos do fundo.
As empresas não abrem detalhes como custo de financiamento nem taxa de inadimplência das operações, mas afirmam que o índice de descumprimento dos pagamentos nesses dois anos foi menor do que a média da indústria. “Principalmente em um contexto em que vemos um crescimento bastante grande de recuperações judiciais no último ano”, afirma Marcos Arruda, diretor financeiro da Bayer CropScience no Brasil.
Segundo o executivo, a menor taxa de inadimplência reflete “decisões estratégicas da Bayer de buscar fidelização dos canais de distribuição e relações de longo prazo, o que acaba se refletindo na carteira do FIDC”.
Para as distribuidoras, a vantagem de acessar o recurso do FIDC em comparação com instrumentos de financiamento bancário, é que não incide IOF sobre a operação — como ocorre com uma antecipação de recebíveis junto a uma instituição financeira.
Além disso, o pagamento é feito em uma parcela somente após cada safra de verão e inverno, enquanto em contratações de linhas de capital de giro, o pagamento pode ser trimestral ou até mensal, o que pode provocar um descasamento no fluxo de caixa.
Já a opção do crédito rotativo, outra forma de financiamento tradicional, acaba sendo mais cara, observa Adriano Milani. Além disso, em todas as opções de financiamento bancário, as operações ainda tomam espaço no limite de crédito do tomador, enquanto a operação com o FIDC não ocupa esse espaço.
Mesmo em relação a outros instrumentos de mercado de capitais, a contratação do recurso junto ao FIDC é simplificada, afirma Arruda. Inicialmente, a Bayer chegou a trabalhar com Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), mas a emissão desses títulos tem um custo maior do que o custo da estruturação do FIDC, até por demandar uma oferta pública, e que ainda foi crescendo com o tempo.
“A complexidade [com o FIDC] diminui e fica mais ágil e mais simples para o produtor. Tudo é digitalizado, o aceite é um simples contrato”, explica o executivo da multinacional alemã.
Apesar dos diferenciais, Milani ressalta que o FIDC é uma alternativa “complementar” para a estrutura de financiamento das distribuidoras de insumos.
“Na nossa concessão de crédito, tentamos convencer o distribuidor a não contar só com o crédito Bayer, e sim ter uma composição de ferramentas que inclui vendas à vista, crédito Bayer ou FIDC, para podermos fazer uma negociação saudável para o distribuidor”, afirma Arruda, da Bayer CropScience . “Não vamos aumentar o crédito na mesma intensidade da demanda do distribuidor, mas vamos dar alternativas que permitam a ele ter um plano sustentável”, defende.