Produtores rurais aumentaram sua alavancagem durante os anos de bonança dos preços da commodities, mas agora podem ter dificuldade para cumprir com seus compromissos financeiros Uma escalada generalizada dos juros do crédito rural pode piorar o cenário de liquidez no campo, segundo executivos do sistema financeiro. A preocupação é com o crescimento da inadimplência no agronegócio, puxada pela alta da Selic. Os produtores rurais aumentaram sua alavancagem durante os anos de bonança dos preços da commodities, mas agora podem ter dificuldade para cumprir com seus compromissos financeiros.
Juros para médios produtores rurais podem ficar em um dígito na safra 25/26
Novo Plano Safra pode ter recorde de R$ 600 bi em recursos
O índice de atrasos entre agricultores era de até 1% nos principais bancos financiadores do setor, mas houve uma mudança de patamar com o salto da Selic, disse um executivo financeiro, que não quis ser identificado. O “novo normal”, afirmou, está em patamares de 1,5% a 2%, o que é considerado alto para o agronegócio.
A inadimplência no campo já afetou os resultados do Banco do Brasil, maior financiador do setor agropecuário. A taxa de pagamentos com atraso acima de 90 dias subiu para 3,04% no primeiro trimestre de 2025. No período anterior, o índice estava em 2,45%. Em 2024, o percentual era ainda menor, de 1,19%.
“Os bancos estão mais exigentes na concessão, pois estão arrepiados com o aumento das recuperações judiciais de produtores”, disse Carlos Ernesto Augustin, assessor especial do Ministério da Agricultura.
Para Renato Naegele, ex-vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, algumas ações governamentais estão resultando no aumento da inadimplência do setor produtivo e no crescimento das recuperações judiciais. “Restrição do crédito, aumento da Selic e taxação das fontes de recursos formam a receita certa para aumento dos custos dos alimentos e mais inflação. O único caminho é ter um Plano Safra robusto e com taxas competitivas”, afirmou ele ao Valor.
As novas alíquotas serão divulgadas no início da próxima semana. Antes, devem ser aprovadas em reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional (CMN). A Casa Civil tem convocado reuniões para discutir detalhes e articular decisões políticas.
Pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, as propostas são lideradas pela secretária-executiva Fernanda Machiaveli e pelo ministro Paulo Teixeira. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Campos, representou a Pasta nos primeiros encontros nesta semana. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, estava de folga em Mato Grosso até ontem, quando retornou a Brasília a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e foi direto ao Palácio do Planalto.