No mercado financeiro e até nos ministérios, a avaliação é de que haverá aumento quase generalizado, acompanhando o compasso da taxa básica As taxas de juros das linhas de financiamento são os números mais aguardados do Plano Safra 25/26, que será anunciado na próxima semana. No mercado financeiro, entre especialistas em crédito rural e até nos ministérios em Brasília, a avaliação é que as alíquotas vão subir de forma quase generalizada e acompanhar o compasso dado pela Selic, que saiu de 10,5% em julho do ano passado para 15% agora.
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As apostas no mercado financeiro são que as taxas de juros do crédito rural vão ser elevadas entre 1 e 2 pontos percentuais na temporada que começa em julho. Há quem acredite que algumas alíquotas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) possam ser preservadas, como as cobradas para o custeio de produtos da cesta básica, de 3% ao ano.
Se a previsão de alta nos juros for confirmada, as taxas das operações de custeio e comercialização para médios produtores sairiam de 8% para 9% ao ano. Já para os grandes produtores as novas taxas podem ser de 13,5% ao ano, segundo as apostas entre bancos que operam o Plano Safra.
Na agricultura familiar, os juros “normais” são de 4% a 6%, e também podem aumentar entre 1,5 ponto porcentual e 2 pontos, acredita João Luiz Guadagnin, consultor em crédito e ex-diretor do MDA. O esforço do governo também é para manter taxas diferenciadas para a compra de máquinas de pequeno porte (atualmente em 2,5% ao ano) e para a agroecologia (2%).
“Creio que o Pronamp passará a ter taxas de 9% para alimentos de consumo interno, como arroz, feijão e mandioca, e de 11% para os demais”, disse Guadagnin.
A principal preocupação do governo é com a inflação dos alimentos, tema que afetou a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início deste ano. A taxa de 9% ao ano também deve atender produtores que adotam boas práticas ou têm certificações sustentáveis.
Um executivo do setor financeiro disse que os médios produtores tendem a ser o público com maior escassez de recursos na nova safra e que, por isso, precisa haver aumento de taxas. “Não há orçamento para bancar a necessidade”, afirmou.
Não deverá haver espaço para juros controlados no custeio e comercialização de grandes produtores, que deverão ter taxas de 13,5%, acima dos atuais 12%, avaliou Guadagnin. Nos programas de investimentos, com equalização, os juros devem subir para 12,5% e 13,5%. Linhas diferenciadas, como o RenovAgro, podem ter juros mais baixos, de 9% a 10,5%, segundo ele. Já para a construção de armazéns, a estimativa é que as taxas fiquem entre 9% e 10,5%.
Tamanho dos juros
A definição dos juros depende essencialmente do espaço orçamentário que o governo terá neste e nos próximos anos para pagar a equalização, que é o gasto referente à diferença entre o custo que os bancos têm para captar dinheiro no mercado mais os seus spreads e as taxas que são cobradas dos agricultores na ponta. Com a alta da Selic, a distância desses dois índices aumenta, e isso significa gasto a mais para a União.
Há cerca de R$ 1,3 bilhão reservados no orçamento para a subvenção entre julho e dezembro. A definição, no entanto, passa pelo compromisso do governo de garantir espaço para esse custo nos orçamentos dos próximos anos.
A tentativa é de se buscar um equilíbrio para não elevar tanto as taxas a ponto de torná-las impeditivas aos agricultores nem mantê-las em patamar considerado baixo para o momento da economia, o que pode dificultar a capacidade de subvenção do governo e tornar o alcance das linhas de crédito limitado a poucos produtores.
No início desta semana, o Tesouro Nacional ainda fazia os cálculos de quanto irá custar a equalização do crédito para definir as alíquotas a serem cobradas dos produtores.
Saiba-mais taboola
Sem esse espaço para ofertar juros mais baixos aos grandes produtores, o Ministério da Agricultura tenta convencer os bancos a destravarem linhas de financiamento em dólar. O receio das instituições é com iniciativas adotadas no passado que não deram tão certo.
“Não vai ter dinheiro menor no Plano Safra, vai ter mais do que ano passado”, disse Carlos Augustin, assessor especial da Pasta. “O melhor dinheiro para o agricultor tomar hoje é o dólar. Qualquer um sabe fazer essa conta, todos os bancos podem e deveriam fazer. Todo mundo que é a favor da agricultura deve recomendar. Essa é a única saída que nós temos”, afirmou.
Recentemente, Augustin, o ministro da Agricultura Carlos Fávaro e o secretário de Política Agrícola Guilherme Campos se reuniram com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para buscar melhorias para as linhas dolarizadas. Não há impedimentos legais para a liberação de recursos atrelados a moedas estrangeiras pelas instituições financeiras, mas a equipe da Pasta quer uma recomendação ou orientação formal do BC para o mercado financeiro sobre como atuar nessa frente.
“Não tem restrição, mas o banco precisa fazer swap cambial para corrigir o balanço dele que pode ser afetado pela mudança de cotação. O BC quer ajudar, essa é a melhor saída”, completou.
Fávaro se reunirá na manhã desta quinta-feira com o presidente Lula para discutir o Plano Safra. À tarde, terá reunião na Casa Civil.