
Já foram feitas negociações com BASF, UPL Brasil, FMC e Eurochem A Lavoro, holding de distribuição de insumos brasileira com ações listadas na Nasdaq, protocolou na Justiça de São Paulo um acordo extrajudicial para repactuar cerca de R$ 2,5 bilhões em dívidas já vencidas com fornecedores de insumos.
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A companhia já acertou a repactuação de sua dívida com fornecedores que representam entre 36% e 40% do passivo que tem com esse tipo de credor. Já foram feitas negociações com BASF, UPL Brasil, FMC e Eurochem.
Para que um acordo extrajudicial seja homologado na Justiça, é preciso que credores responsáveis por ao menos 50% da dívida concordem com os novos termos de pagamento. A homologação de um acordo extrajudicial por um juiz estende as condições do acordo para o restante dos credores da mesma classe — no caso, a todos os fornecedores de insumos.
Ruy Cunha, CEO da Lavoro, disse à reportagem que há mais negociações com fornecedores em andamento e que a expectativa é chegar no patamar de 50% nos próximos “dias” ou “meses”.
Caso a companhia não alcance os 50% de créditos com fornecedores renegociados, Cunha admitiu que a empresa pode ter que recorrer a um pedido de recuperação judicial. Porém, ele afirmou que “a chance é remota de não assinar” os acordos com mais credores e que uma recuperação judicial é “improvável”. “Nunca foi a alternativa que trabalhamos”, atestou.
As empresas da holding que realizaram as negociações foram a distribuidora de insumos da Lavoro no Brasil e a Perterra, empresa do negócio de Crop Care que importa agroquímicos da China e revende ao negócio de distribuição no país. Ficaram de fora o restante das negociações com fornecedores o negócio da Lavoro de Crop Care e a Lavoro Latam, que atua na América Latina.
O acordo prevê, no geral, um alongamento das dívidas já vencidas pelos próximos quatro anos, com pagamentos semestrais, em abril e setembro de cada ano, com correção pelo IPCA.
A companhia negociou diferentes prazos com diferentes tipos de credores dentre seus fornecedores, mas não negociou redução do valor devido com nenhuma das contrapartes até agora. O acordo só prevê desconto na dívida para os credores “não apoiadores” no valor de 50%, sendo que neste caso o valor devido será pago em uma única parcela somente em 2032, com valor corrigido pelo IPCA.
O acordo também prevê que os fornecedores de insumos vão continuar vendendo seus produtos à Lavoro nesse período, com a concessão de garantias e colaterais pela companhia para assegurar esse fluxo de mercadorias e, portanto, a preservação do negócio.
O escritório Pinheiro Neto atuou como assessor jurídico da operação.
Outros credores
A negociação do acordo extrajudicial deu-se exclusivamente com fornecedores de insumos. A Lavoro também já negociou R$ 1,2 bilhão em dívidas de forma bilateral com bancos nos últimos meses, e agora o próximo passo é pedir aos detentores de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) a concessão de “waivers” de indicadores financeiros (“covenants”) que não deverão ser atingidos, para evitar um resgate antecipado dos títulos. A companhia deve R$ 450 milhões aos detentores de CRAs (sem contar juros).
“A ideia é passar [aos detentores de CRA] segurança e a notícia de que vamos manter os pagamentos conforme o programado”, disse o CEO.
Balanço não auditado
A Lavoro também divulgou alguns indicadores financeiros não auditados do segundo trimestre do exercício de 2025 (de outubro a dezembro de 2024). A receita caiu 27% na comparação anula, para R$ 2,25 bilhões, devido à redução dos estoques do negócio de distribuição no Brasil.
A receita do negócio de distribuição no Brasil caiu 30%, a R$ 1,84 bilhão; a de Crop Care recuou 30%, para R$ 251,5 milhões; e a de distribuição na América Latina subiu 4%, a R$ 287,3 milhões.
Já o lucro bruto recuou 28%, para R$ 366,9 milhões, e a margem bruta caiu 40 pontos, para 16,3%. Esse resultado refletiu as menores margens de distribuição no negócio no Brasil e ao “efeito adverso do mix de produtos” no segmento de Crop Care.
Perspectivas
A Lavoro retirou sua previsão de resultados para o ano diante das incertezas a respeito das negociações de seus passivos. Ao Valor, o CEO ressaltou que companhia continua em seu plano de enxugamento de lojas, embora ele ainda veja um cenário estrutural no mercado de distribuição favorável a futuras consolidações.
Caso os planos de negociação da Lavoro sigam conforme o esperado, a companhia também deve se preparar agora para fortalecer soluções de capital de giro, como novos fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), como o lançado em 2024.
Para a próxima safra (2025/26), Cunha reconheceu que há novas incertezas geopolíticas que podem provocar oscilações nos preços de insumos, mas não descartou que também pode ocorrer uma alta dos grãos, e avaliou que há uma perspectiva de melhoria da situação dos produtores.
“Em abril e maio, o produtor fechou a safra de soja, e o recebimento de contas foi melhor do que no ano anterior. O produtor terminou a safra com melhor produtividade e mais capitalizado, o que tende a mover a coisa na direção certa”, avaliou. “Estamos cautelosamente otimistas”, resumiu.