
O caminho rumo à alta eficiência está cada vez mais íngreme, lento e exigente Que o universo do agronegócio se assemelha a uma montanha-russa, com altos e baixos, momentos de calmaria e outros de intensa movimentação, todo mundo sabe. Mas outro consenso começa a se formar entre as lideranças do setor: o caminho rumo à alta eficiência está cada vez mais íngreme, lento e exigente. Até quem ainda tinha dúvidas quanto à premência do tema, já acordou para o fato de que é hora de apertar o botão de emergência e repensar os rumos.
Ainda que um rápido olhar para alguns indicadores do mercado, como as boas perspectivas para as próximas safras ou o aumento nas exportações de carne bovina, dê margem a que se acredite que, em breve, os caixas das empresas ganharão algum fôlego, a realidade não é bem assim.
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Quem presta atenção aos detalhes que, muitas vezes, passam despercebidos, constata que caixa positivo não é necessariamente sinônimo de saúde financeira. Muito menos licença para gastos não prioritários ou mesmo desnecessários, que não passaram por uma avaliação crítica para levantar possíveis riscos e oportunidades.
Vale lembrar que, assim como uma montanha-russa precisa de impulso nos momentos de baixa para alcançar velocidade, o agro também vive seus ciclos. Um exemplo claro são os períodos de entressafra, quando os caixas ficam mais vazios e é necessário pisar no freio, à espera dos ganhos futuros. Ou, ainda, situações desafiadoras como a enfrentada recentemente por produtores de aves no Sul do país, diante do risco iminente da gripe aviária.
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Vale lembrar: com a contaminação dos frangos, mais de 60 países impuseram restrições à compra de frangos e subprodutos do Brasil, com a estimativa de que entre 50 e 100 mil toneladas de carne deixem de ser exportadas, segundo o Ministério da Agricultura.
De toda forma, o que mais se vê nos momentos de bonança, quando o setor atinge seu pico, é o investimento em novos equipamentos, aquisição de terras, contratação de novas equipes, ou até o lançamento de produtos inovadores. No entanto, é fundamental lembrar que o ciclo sempre se repete, e a descida antes da próxima subida pode ser cada vez mais desafiadora.
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Ao observar o cenário macroeconômico, com juros elevados, pressões ambientais e concorrência internacional, gastar de forma consciente é algo que tem de estar mandatoriamente no centro das decisões estratégicas. Pode parecer básico, até redundante, mas o uso desenfreado de capital tem sido, em muitos casos, um dos principais entraves à evolução das empresas.
Vale mesmo expandir o quadro de funcionários agora? Este é o momento ideal para investir em tecnologia de ponta para monitoramento de pragas? A compra de um novo silo para aumentar os estoques vai gerar impacto em toda a cadeia de produção e vendas? O olhar crítico sobre os gastos é urgente hoje e será sempre crucial.
Pode parecer fácil, de fora, apontar falhas ou acertos em modelos de negócio já consolidados. Mas o óbvio nem sempre é tão claro, especialmente quando se trata de decisões financeiras. A verdadeira eficiência não está apenas nos retornos rápidos, mas nos melhores resultados obtidos com os recursos já disponíveis.
No agro, eficiência não é mais uma vantagem competitiva, mas uma condição de sobrevivência.
*André Paranhos é vice-presidente da unidade de negócios da Falconi especializada em agronegócio
As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural.