
Mais de 90% da produção brasileira é de maracujá-azedo Com uma produção estimada em cerca de 540 mil toneladas em 2023, segundo o IBGE, o Brasil se destaca como o maior produtor e consumidor de maracujá no mundo. As condições de clima e solo favorecem o cultivo da fruta de norte a sul do país, com destaque para Bahia, Ceará, Santa Catarina, Minas Gerais e Pernambuco, que juntos, respondem por mais de 70% da safra nacional.
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Essa expressiva produção está concentrada principalmente em uma espécie, como explica o pesquisador Fábio Faleiro, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados (DF).
Segundo ele, mais de 90% dos pomares brasileiros são ocupados pelo maracujá-azedo (espécie Passiflora edulis Sims). Os outros 10% são formados por espécies como o maracujá-doce (Passiflora alata Curtis), o maracujá-pérola (Passiflora setacea DC.) e o maracujá-da-caatinga (Passiflora cincinnata Mast.).
Diferenças entre o maracujá-doce e o maracujá-azedo
Segundo Faleiro, as diferenças são marcantes. O maracujá-doce tem flores vermelhas e frutos de polpa adocicada, sendo mais apreciado para consumo in natura. Já o maracujá-azedo possui flores brancas com centro roxo e uma polpa ácida, ideal para o processamento industrial em sucos, mousses e geleias.
Quais partes da fruta podem ser aproveitadas além da polpa?
Além da tradicional polpa, o pesquisador explica que outras partes do maracujá têm usos importantes. As sementes são destinadas à extração de óleos nobres, utilizados nas indústrias alimentícia e cosmética.
A casca serve tanto para a alimentação animal quanto para a extração de pectina e produção de farinhas funcionais e medicinais. As flores são aproveitadas para a extração de aromas, enquanto as folhas servem como matéria-prima para a fabricação de fitoterápicos e outros produtos medicinais com efeito calmante.
No entanto, nem todas as espécies e partes do maracujá possuem as mesmas propriedades calmantes. Faleiro explica que essas características variam, podendo estar presentes nas folhas, sementes, polpa ou casca. Um exemplo é a espécie Passiflora setacea DC., que possui compostos calmantes na polpa, sendo conhecida popularmente como “maracujá do sono”.
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Essa diversidade de características também orienta o desenvolvimento de cultivares específicas para diferentes finalidades de uso e mercado. Entre as variedades destinadas ao consumo fresco, destaca-se o BRS Mel do Cerrado, um maracujá-doce desenvolvido pela Embrapa.
Já no caso do maracujá-azedo, existem cultivares de dupla aptidão, como o BRS Gigante Amarelo e o BRS Sol do Cerrado, que podem ser comercializadas tanto como frutas frescas quanto destinadas à indústria para a extração de polpa.
O pesquisador também menciona variedades mais voltadas à indústria, como o BRS Rubi do Cerrado, que produz frutos com casca avermelhada e polpa mais alaranjada, e o FB 300, conhecido por gerar frutos pequenos, mas com alto rendimento de polpa — fator essencial para a produção de sucos.
Quais espécies são mais resistentes a pragas e doenças?
Fábio explica que algumas espécies silvestres, como a Passiflora setacea DC., também apresentam alta resistência e tolerância a pragas e doenças. Essas espécies são fundamentais tanto para o cultivo comercial direto quanto para programas de melhoramento genético, que buscam tornar o maracujazeiro-azedo mais resistente.
Algumas dessas espécies são imunes a doenças graves, como as que afetam as raízes e o sistema vascular, sobretudo as causadas pelo fungo Fusarium. Por isso, também são usadas como porta-enxertos, contribuindo para a longevidade e produtividade das plantações.