
Modelo usado para cultivar também frutas, flores e cogumelos avança com supermercados, hotéis e restaurantes como clientes Aos poucos, projetos de fazendas verticais têm se espalhado pelo país. Embora não existam dados oficiais sobre o tamanho do mercado, nos últimos cinco anos, cidades como Rio, São Paulo, Manaus, Florianópolis e Campinas ganharam estruturas do gênero. Estima-se que, atualmente, haja cerca de 20 fazendas verticais em funcionamento no Brasil.
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Nelas, se faz o cultivo em galpões ou salas comerciais de itens como hortaliças, cogumelos, flores, frutas e microverdes (plantas jovens, cultivadas e colhidas muito cedo), com o uso de sistemas de automação e controle, que operam 24 horas por dia, sete dias por semana.
“O crescimento da produção vertical em ambiente controlado tem sido muito rápido”, afirma Ítalo Guedes, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Um dos projetos que engordaram as estatísticas é o da Fazenda Cubo, de São Paulo. Criada em 2019 por um engenheiro ambiental apaixonado por gastronomia e infraestrutura, a Cubo produz, em ambiente controlado, microverdes e hortaliças em um espaço de 90 metros quadrados no bairro de Pinheiros, na zona oeste da cidade, onde também funciona uma pequena loja.
Fazenda Cubo oferece mais de 40 variedades de folhas, plantas alimentícias não convencionais, flores comestíveis e ervas
Thiago de Jesus/Globo Rural
Hoje, a empresa conta ainda com uma unidade em Franco da Rocha (SP), que tem 2 mil metros de estufas climatizadas, em que o plantio ocorre em plano horizontal e com luz natural.
“As duas unidades se complementam: Pinheiros é para itens mais sensíveis e exclusivos, Franco da Rocha, para mais escala e diversidade”, conta o proprietário da Cubo, Paulo Bressani.
A empresa oferece mais de 40 variedades de folhas, plantas alimentícias não convencionais, flores comestíveis e ervas. A produção mensal de hortaliças é 1,5 mil quilos.
Cosmética e farmacêutica
A 100% Livre, de São Paulo, nasceu em 2020 por meio de uma parceria com a Embrapa. A unidade instalada no bairro do Ipiranga produz cerca de 100 mil cabeças de alface por mês, em uma área de 250 metros quadrados e 14 metros de altura.
A segunda unidade, em Osasco, na região metropolitana, ocupa 1,5 mil metros quadrados, em uma área com 21 metros de pé direito. Ela dedica-se exclusivamente ao cultivo de plantas de alto valor agregado, produzidas sob encomenda para indústrias farmacêutica e cosmética, além de cogumelos e morangos.
Diego Gomes, fundador da fazenda urbana 100% Livre
Thiago de Jesus/Globo Rural
“No início experimentamos de tudo. Fizemos testes com diversas culturas, diferentes tipos de nutrição para as plantas, lâmpadas e calhas de hidroponia, até chegarmos ao modelo atual”, conta Diego Gomes, fundador da 100% Livre.
Restaurantes de alta gastronomia, empórios, hotéis, supermercados e escolas são alguns dos principais clientes das fazendas verticais brasileiras.
“O futuro desse modelo de negócios está em nichos específicos, com produtos de valor agregado e demanda contínua”, avalia Gomes.
Esse mercado começou a tomar forma no país há dez anos, quando surgiu a Pink Farms, que, em 2015, criou, em São Paulo, a primeira fazenda vertical do país.
A Fazenda Bioma, de Florianópolis, nasceu por iniciativa da advogada Laila Ribeiro. Depois de fazer testes em um quarto de apartamento, a empresária desenvolveu minifazendas móveis, que podem ser instaladas em qualquer lugar.
O passo seguinte foi a parceria com varejistas locais para a instalação das estufas em supermercados. Essas fazendas-vitrine abastecem o ponto de venda com itens frescos e educam o público sobre as possibilidades da agricultura em ambientes fechados.
Fazenda Bioma, de Florianópolis, fez parcerias para a instalação de estufas em supermercados
Divulgação
Em sua unidade própria, a Bioma concentra a produção de mais de 20 espécies de folhas e hortaliças. A empresa já faz planos de atuar em outras regiões por meio de franquias, voltadas a pequenos empreendedores. Hoje, os supermercados vendem cerca de 40% da produção.
“Nosso diferencial está na constância, na padronização da qualidade, no abastecimento sob demanda e na sustentabilidade”, diz a fundadora.
A expansão das fazendas urbanas no Brasil segue tendência global. No mundo, o mercado de fazendas verticais deve crescer 19,7% entre 2024 e 2029, quando a receita deverá alcançar US$ 13,7 bilhões, segundo a empresa de consultoria Markets & Markets.