
Produção nacional deverá crescer 14,8% em 2024/25, para 12,1 milhões de toneladas; segundo agricultores, margens estão negativas A combinação entre safra cheia, demanda externa enfraquecida e queda de preços deixou boa parte dos produtores brasileiros de arroz no prejuízo na temporada 2024/25. A colheita, que está praticamente encerrada, deverá chegar a 12,1 milhões de toneladas, um volume 14,8% maior do que o do ciclo anterior, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
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“Estamos realmente no vermelho”, diz André Matos, produtor em Arroio Grande (RS) e presidente da associação de arrozeiros local. Segundo ele, o custo de produção em 2024/25 ficou entre R$ 16 mil e R$ 17 mil por hectare. “Precisaríamos colher 220 sacas por hectare para empatar, mas a média estadual deve ficar em 180”, afirma. “A conta não fecha”.
Matos cultiva 200 hectares de arroz e 250 de soja em sistema de rotação. “A soja de várzea paga o próprio custo, mas não compensa as perdas do arroz”, relata.
Ontem, a saca de 50 quilos do arroz em casca foi negociada, em média, por R$ 71,34 no Rio Grande do Sul, o principal Estado produtor, de acordo com o Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea). A cotação, que está abaixo do custo de produção estimado por entidades do segmento, caiu 6% na parcial de maio e 37,73% nos últimos 12 meses.
“O custo total por saca — incluindo, por exemplo, arrendamento de terras e financiamento de máquinas — nesta safra está na faixa de R$ 90. Com o arroz sendo vendido por R$ 75, estamos operando com prejuízo efetivo, não apenas baixa rentabilidade”, afirma Alexandre Velho, presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz). “Mesmo se levarmos em consideração apenas o desembolso, o custo está em torno de R$ 80”.
Como o Instituto Riograndense do Arroz (Irga) termina o cálculo efetivo de custo de produção no fim de cada safra, o balanço dos valores para 2024/25 ainda não está pronto. Na safra anterior, o custo ficou em R$ 99,74 por saca
(US$ 19,43, com o dólar a R$ 5,13).
A Conab adota uma metodologia mais conservadora, que considera apenas os desembolsos diretos. “A metodologia da Conab precisa ser revista. Não considerar arrendamento, máquinas financiadas e mão de obra própria distorce a realidade econômica do produtor”, completa o presidente da Federarroz.
As exportações, que funcionam como importante regulador de preços no mercado interno, também têm decepcionado. Entre janeiro e março, o volume dos embarques de arroz até chegou a ter um aumento expressivo, de 19,5%, para 33,7 mil toneladas, mas, segundo Velho, como o Brasil teve supersafra, esperava-se mais.
“Os preços mais baixos no Mercosul têm feito o Brasil perder espaço para Paraguai e Uruguai, que têm custos menores e câmbio favorável. A janela de exportação brasileira está se fechando com a chegada da safra dos Estados Unidos, a partir de agosto”, observou o Itaú BBA, em relatório.
Analistas projetam redução da área de plantio nos EUA. Isso pode prejudicar a oferta na América Central e ser um possível fator de alívio no segundo semestre.
Para Evandro Oliveira, analista da consultoria Safras & Mercado, a proximidade do vencimento de parcelas de custeio pode pressionar ainda mais os preços nas próximas semanas. “A evolução das exportações e a gestão dos estoques serão determinantes para evitar uma deterioração maior nos preços no segundo semestre”, diz.
Produtores veem, além disso, distorções na formação de valores ao longo da cadeia. Enquanto o arroz em casca tem forte desvalorização na origem, os preços ao consumidor estão praticamente estáveis no varejo. “A margem de comercialização está concentrada no fim da cadeia. A indústria também está pressionada. Quem tem se beneficiado é o varejo”, critica Alexandre Velho, da Federarroz.
Nos próximos dias, a entidade deve apresentar ao Ministério da Agricultura uma série de propostas para mitigar os impactos da atual crise e defender políticas estruturantes para o segmento.