Analistas ainda veem impacto limitado para comercialização e exportações do cereal após novo foco da doença Às vésperas do início da colheita de milho safrinha no Brasil, do ciclo 2024/25, o foco de gripe aviária em granja comercial no Rio Grande do Sul não deve trazer reflexos na demanda interna pelo cereal. Segundo analistas, a procura seguirá firme, inclusive na avicultura, setor que mais demanda milho no país.
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Levantamento feito recentemente pelo Rally da Safra, expedição que percorre as principais lavouras do país, organizada pela Agroconsult, mostra que o país deverá produzir 112,9 milhões de toneladas de milho safrinha, volume 10,5% superior à safra 2023/24. Desse total, 96,7 milhões de toneladas serão destinadas para o consumo interno, com elevação de 10% em comparação com a safra anterior.
André Debastiani, coordenador do Rally da Safra, destacou que o acréscimo na demanda se dará a partir da procura para a produção de etanol de milho, e ainda pelas compras do grão para ração de aves e suínos, a despeito das incertezas causadas pela questão sanitária.
“Por enquanto é cedo para dimensionar quanto o surgimento desse foco poderá reduzir a demanda por milho. Caso apareçam novos casos ou as barreiras sanitárias se estendam demasiadamente, é bem possível que o alojamento de aves caia e, por consequência, o consumo de milho”, afirmou Debastiani.
Para a StoneX, o foco de gripe aviária terá impacto limitado na demanda por milho pelo setor de proteína animal. Levantamento recente feito pela consultoria mostrou que, considerando uma perda de até 5% do rebanho nacional de aves devido ao vírus, o consumo total de milho no segmento, estimado em 34,3 milhões de toneladas, cairia 1,7 milhão de toneladas.
“Considerando esse cenário, não sobraria milho a ponto de derrubar os preços no Brasil. Essa quantidade que deixaria de ir para a indústria de aves seria facilmente absorvida pelo setor de etanol e ainda destinada para exportação”, disse Leonardo Martini, analista em gerenciamento de risco da StoneX.
A consultoria estima a demanda doméstica por milho brasileira em 87 milhões de toneladas neste ciclo, acima das 84,50 milhões projetadas pela empresa na temporada 2023/24.
De acordo com Debastiani, do Rally da Safra, o foco de gripe aviária também não deve provocar grandes mudanças nas exportações de milho, que têm potencial de alcançar 42,8 milhões de toneladas, mostram dados da expedição.
“Na safra passada exportamos 37,4 milhões. O resultado desta temporada vai depender de vários outros aspectos, como oferta e demanda interna, competitividade do milho brasileiro e desempenho da safra americana”, observou Debastiani.
Impactos na comercialização
Analistas também descartam impactos da questão sanitária na comercialização de milho. Segundo a StoneX, o ritmo é lento atualmente por conta do recuo nos preços, visto antes mesmo do foco da gripe aviária no Brasil. O atraso nas vendas da safrinha fica mais evidente no Paraná. Enquanto na média brasileira o ritmo de negócios é de 37%, no Paraná o índice é de 23%.
De acordo com Martini, no Paraná, enquanto o valor da saca chegava a R$ 69 há um mês, atualmente os compradores estão ofertando R$ 52, em meio a uma ampla oferta do cereal batendo a porta do mercado.
“O produtor se mantém retraído [na comercialização] não por causa da gripe aviária e sim porque o preço derreteu. Quem não vendeu agora terá que esperar uma nova oportunidade, que só deve acontecer no segundo semestre”, disse.
Para além da gripe aviária, as incertezas sobre a guerra comercial, e o tamanho das exportações do Brasil também favorecem a lentidão nas vendas do milho no Brasil, conforme avaliação de Ale Delara, diretor da Pine Agronegócios.
“Com uma safrinha estimada acima de 100 milhões de toneladas, os produtores já negociaram 22 milhões. Ainda há muito para se avançar nas vendas, porém, com esse quadro de preços, esse não é o momento de travar negociações”, observou.