Os embargos às exportações brasileiras de frango e ovos vão ter como consequência, pelo menos em um primeiro momento, reduzir os preços desses produtos no Brasil. Essa é a visão do economista André Braz, coordenador de Índices de Preços na Fundação Getulio Vargas (FGV) e um dos principais especialistas em inflação do país.

“O excedente saudável que não for para o exterior irá para as prateleiras do supermercado, o que é um alívio, principalmente nos preços dos ovos, que subiram fortemente neste ano”, afirmou ao Valor/Globo Rural. O ovo de galinha subiu 30% neste ano até abril, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), enquanto o frango inteiro teve alta de 3,26% e, em pedaços, 5,59%

Entretanto, esse alívio deve ser momentâneo, porque os criadores de aves ajustarão a oferta a depender demanda. “Ninguém trabalha no prejuízo. Se diminuírem as exportações, vão criar menos aves e diminuir as matrizes”, afirmou.

Restrições de vendas
Até este domingo, 18 de maio, a União Europeia e cinco países restringiram as compras de carnes de frango e ovos do Brasil. São eles: México, Chile, China, Argentina e Uruguai.
O Japão restringiu as importações apenas de Montenegro (RS), cidade onde foi encontrado o foco de gripe aviária.

Em abril, o Brasil exportou 4,3 mil toneladas de ovos, sendo o Japão os maiores compradores (371 toneladas), seguido por México (242 toneladas), Chile (638 toneladas), Uruguai (83 toneladas) e a União Europeia (22 toneladas), segundo Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Líder das compras, com 2,8 mil toneladas adquiridas, os EUA ainda não aderiram à suspensão.

No caso da carne de frango, os maiores importadores de carne de frango do Brasil em 2024 foram a China (562,2 mil toneladas), os Emirados Árabes Unidos (455,1 mil ) e o Japão (443,2 mil), Arábia Saudita (370,8 mil ) e África do Sul ( 325,4 mil). Não há dados disponíveis mensais.

“Ainda é cedo para avaliar as consequências no longo prazo porque tudo dependerá em quanto tempo o Brasil conseguirá resolver essas restrições internacionais e se a doença irá se espalhar ou se conseguiremos contê-la”, acrescentou o economista.

Para o consumidor, substituir essas proteínas por carne bovina, por exemplo, é mais difícil porque os cortes de boi são tradicionalmente mais caros e com peso mais caro no orçamento familiar.

Remanejamento de oferta
Para o economista e sócio da MB Associados José Roberto Mendonça de Barros, haverá um remanejamento dos fluxos de exportação, e “o Rio Grande do Sul é um exportador razoável, mas não é o coração do sistema de exportação”, diz. “Tem uma descontinuidade temporária, mas o custo não não vai ser tão grande”, explica.
De acordo com dados de 2024 da ABPA, o Rio Grande do Sul concentra 11,5% dos abates de frango, ficando atrás do Paraná (39,3%) e de Santa Catarina (13,9%). Na visão do ex-secretário de política agrícola, os produtores paranaenses e catarinenses devem absorver a demanda que era atendida pela produção gaúcha enquanto vigorar a paralisação.
“Por mais rápido que seja e por menor que seja o acúmulo de estoques, vai ter uma oferta que vai entrar no mercado interno e que não estava programada para entrar. Em princípio, o consumidor vai ser beneficiado por uma queda que deve aparecer nos preços rapidamente. Esse ciclo é muito rápido e, talvez, durante dois meses a gente vai ver isso”, diz.
O fato do Brasil estar no início de uma boa safra de grãos também ajuda neste cenário, na visão do economista, por um momento favorável no preço da ração das aves, o que favorece a reorganização das exportações para o fluxo nacional. “O maior custo da produção de aves, que é a ração, não está num momento de pressão e elevação de custos. Ao contrário, é um bom momento do ponto de vista das margens na produção avícola”.
O economista relembra os dois casos de vaca louca registrados no Brasil em 2021, em Minas Gerais e no Mato Grosso, como exemplos em que o país conseguiu se recuperar sem grandes problemas. “Teve um bloqueio temporário das exportações e, à medida que os exames mostraram que era um caso excepcional, tudo voltou lentamente à normalidade. Hoje, ninguém lembra desses casos”.