Principal desafio é o desenvolvimento da população humilde que circunda a propriedade rural, afirma produtor A infraestrutura ainda é um problema em Angola. Estradas ruins e trechos sem pavimentação dificultam o escoamento da produção agrícola e a chegada de insumos. Poucas fazendas têm estruturas completas de armazéns e silos. Propriedades como a Pipe, do goiano Altair Oliveira, visitadas pela reportagem do Valor, são exceção.
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Mas o maior desafio da atividade, na opinião do produtor, está na relação com a comunidade local, tanto para entender suas tradições, quanto para apoiar o desenvolvimento da população mais humilde que vive nos vilarejos que circundam a propriedade rural.
Parte dela mora em casas de barro, sem energia elétrica ou saneamento básico, e sobrevive de pequenos cultivos, como a mandioca, base do funge, um prato típico do país parecido com pirão ou polenta, ou da criação de animais, como suínos e cabras.
“O desafio maior é integração da população. Qualquer um que for investir em Angola tem que dedicar uma área da sua fazenda para apoiar a população, que é muito carente”, afirma Altair Oliveira. Na Pipe, 10% da área é cedida para exploração pelas comunidades locais para o plantio de batata doce, quase sem custo, de acordo com empresário.
A relação com a comunidade local também é um ponto de atenção na Fazenda Pungo Andongo, do empresário angolano Carlos Cunha, a cerca de 70 quilômetros da Pipe. Ele é assessorado pelo agrônomo paranaense Cézar Rizzi, da Campo Consultoria, que morou dois anos em Angola e fez estudos em outros países africanos.
Os planos na Fazenda Pungo Andongo são ambiciosos. São 25 mil hectares de potencial produtivo para milho, soja e feijão, boa parte com irrigação. O projeto inclui a construção de uma barragem de 196 hectares para reserva de água para 28 pivôs centrais. O empresário já tem uma fábrica de fubá e outra de ração animal, além da estrutura de armazenagem, e pretende construir uma planta para beneficiar e empacotar feijão.
Carlos Cunha também planeja investir em educação, para qualificar jovens da região para atuar na área agrícola e, potencialmente, trabalhar na fazenda. “Queremos crescer na expectativa econômica e social. Sentimos que a região precisa muito disso. As dificuldades não são pequenas, são enormes”, reconhece o empresário.
Uma das dificuldades na região é a falta mão de obra qualificada para operar máquinas agrícolas e realizar as tarefas de campo. “Ainda falta determinação aos operadores, mas já melhorou o sentimento de limpeza e conservação”, afirma Altair Oliveira, da Pipe. A fazenda tem outros dois funcionários brasileiros e um cubano.
As propriedades rurais da região também enfrentam problemas com pequenos furtos e roubos, segundo Oliveira. A Fazenda Pipe decidiu investir em segurança armada depois de ter parte de sua produção de milho furtada no ano passado. Na porteira da fazenda, há homens armados, e outro grupo faz ronda em camionete pela área. (RW)
O jornalista viajou a convite do Ministério da Agricultura