Com alto valor de mercado e comportamento dócil, os pequenos caprinos se tornam estrelas de sítios, chácaras e até projetos de turismo rural Por trás dos olhos vivos e do comportamento brincalhão das minicabras, há um universo em expansão que une genética, empreendedorismo, turismo e até gastronomia. Apesar de ainda não haver uma associação oficial de criadores, um grupo com mais de 300 membros espalhados por todo o país se articula para fortalecer o segmento. E o que começou como uma curiosidade, hoje é negócio sério, com animais valendo até R$ 30 mil em leilões.
Animais podem valer até R$ 30 mil em leilões
Arquivo pessoal
Pesquisa inédita
A crescente popularidade das minicabras chamou a atenção do pesquisador Ricardo Lopes Dias da Costa, do Instituto de Zootecnia do Estado de São Paulo. Há cerca de um ano, ele iniciou um estudo pioneiro com base em um projeto de iniciação científica, com o objetivo de formar o primeiro banco de dados genético das minicabras criadas no país.
Investimentos fortalecem a criação de caprinos e ovinos
“Ainda não temos uma associação que padronize ou registre os animais. Nossa ideia é identificar as raças existentes, estabelecer padrões morfológicos e genéticos e, principalmente, orientar os criadores para evitar cruzamentos consanguíneos”, explica Ricardo. A equipe já colheu amostras de sangue e pelagem de dezenas de animais, e agora se prepara para as análises laboratoriais.
Caprinos em miniatura, lucros em grande escala
As minicabras chamam atenção pelo tamanho reduzido — variando de 40 a 55 cm de altura e pesando entre 23 kg e 30 kg —, mas são rústicas, brincalhonas e cheias de energia. Com expectativa de vida de até 16 anos, requerem cuidados específicos, acompanhamento veterinário e um ambiente adequado, mesmo quando adquiridas como pets.
O criador Marcelo Antonio Doneda, de Monte Mor (SP), é um dos que embarcaram nessa onda. Inspirado por uma reportagem exibida na televisão, visitou o Capril Aroeira e adquiriu seus primeiros animais. Hoje, administrando o Capril Vó Joana, vende entre sete e dez animais para todo o país com preços entre R$ 1,2 mil e R$ 1,5 mil. Segundo ele, a demanda tem sido maior do que a sua capacidade de produção.
Marcelo Antonio Doneda: demanda pelos animais é grande
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“Nosso público vai desde famílias que querem um pet diferente até empreendedores rurais. Sempre recomendo que levem pelo menos dois animais para que não fiquem sozinhos, e explico a importância de não cruzar parentes próximos”, conta Marcelo, que até desenvolveu com o irmão o aplicativo Capril Digital, para facilitar o controle e registro da criação.
Leite: sabor, leveza e oportunidade
Thaís Tantini, do Capril Aroeira, começou sua criação em 1993, por necessidade: seu filho era intolerante ao leite de vaca. Com o tempo, viu na produção leiteira uma nova frente de trabalho. Suas cabras produzem até 3 litros de leite por dia, com ordenha manual, e o foco agora é transformar essa produção em queijos especiais.
“Estamos trabalhando junto ao Instituto do Leite para análises do produto, e tenho feito queijos artesanais com minha irmã, que tem uma rotisseria. A ideia é expandir e desenvolver queijos com grandes nomes da gastronomia”, conta. O leite das minicabras é descrito como delicado, de sabor adocicado, e suas cabras têm alto índice de partos múltiplos.
Thaís Tantini iniciou a criação porque seu filho era intolerante ao leite de vaca
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Turismo rural e redes sociais
A fama das minicabras também ganhou força nas redes sociais. O criador Vinícius Souza Pestana, de Santa Bárbara d’Oeste (SP), investiu em um espaço de turismo rural após perceber a demanda crescente por experiências com os animais. Seu criatório reúne 16 cabras cuidadosamente selecionadas, algumas das mais pequenas do mercado, com 40 cm de altura.
Com restaurante, pôneis, iguanas, aves ornamentais e até mini vacas, o local virou atração turística. Um vídeo com um dos “bodinhos” alcançou mais de 7 milhões de visualizações.
Minicabras são dóceis e têm comportamento bastante ativo
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Leilões movimentam mercado
O aumento da procura também aqueceu o mercado de leilões. Fernando Montenegro, da Haram FOM e FOM Assessoria, cria minicabras há nove anos, mas viu a atividade crescer exponencialmente a partir da pandemia. Com 45 animais e um dos menores padrões de tamanho do mercado (42 cm), ele organiza leilões para outros criadores e alerta para as responsabilidades da criação.
“Apesar do tamanho, elas são ruminantes, precisam de alimentação adequada, espaço, e têm comportamento ativo. São dóceis, sim, mas é importante que o comprador entenda que está adquirindo uma cabra — e não um cachorro”, diz.
Hoje, o custo médio mensal de um animal gira em torno de R$ 50, com alimentação baseada em ração, capim e sal mineral. E o valor de mercado impressiona: fêmeas já foram vendidas por até R$ 30 mil em leilões especializados.