
Cooperativa de produtores reúnem café conilon para marca própria Manuel Domingues, de 53 anos, trabalha com café desde os 16 em um assentamento na cidade de Itamaraju e Prado, no extremo sul da Bahia. Ele faz parte de uma rede de agricultores que possuem café em seus quintais produtivos e reúnem toda a produção do grão conilon para entregarem a cooperativas.
Initial plugin text
A iniciativa agroecológica que Mauro faz parte inclui 62 famílias assentadas, que participam diretamente da produção da marca regional Café Terra Justa, produzido pela Cooperativa Agropecuária do Extremo Sul da Bahia (Coopaesb) – que tem quase 300 associados.
Hoje, essas dezenas de famílias respondem pelo cultivo de mais de 4 milhões de pés de café em áreas de assentamento na região.
Domingues conta à Globo Rural que planta no sistema de integração lavoura e floresta, com as plantas de cafés adensadas nos talhões, mas protegidas por nativas da Mata Atlântica. Além do café, cultiva frutas e hortaliças para comercializar localmente.
O produtor é integrante do Movimento dos Sem Terra, o que dá apelido a ele entre os assentados de Lapinha do MST. No assentamento onde mora, ele conta que há 1,2 milhão pés de cafés com o auxílio da Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, localizada no Assentamento Jacy Rocha, em Prado.
A instituição, além de dar auxílio técnico aos produtores que já trabalham com café e aqueles que estão começando a plantar suas mudas, contribui para o processamento do grão e industrialização.
De acordo com o produtor representante, que participa da 5ª Feira Nacional de Reforma Agrária, no Parque da Água Branca, em São Paulo, a produção do café segue princípios agroecológicos, sem o uso de agrotóxicos com o objetivo de recuperar áreas degradadas e conservar a biodiversidade do extremo sul baiano.
O manejo foi crucial para passar por condições climáticas adversas, diz ele. Diferente do que aconteceu com muitos produtores mineiros e paulistas, que padeceram com a seca, Domingues celebra que a safra 2024/25 rendeu bons frutos.
“O clima ano passado e o começo desse ano foi tão bom pra gente, que todos os produtores do Sul da Bahia estão felizes que o café carregou [de frutos]. Também deu aquele retorno financeiro, pois o preço está bom”, explica.
Segundo ele, o cenário deste ano ajuda a compensar o problema de seca de dois anos atrás, quando a produtividade foi menor. O cultivo é realizado em sistemas agroflorestais, integrando o café a outras culturas e espécies nativas da Mata Atlântica.
O terroir do extremo sul da Bahia
A região inclui municípios como Prado, Itamaraju e Teixeira de Freitas. O local tem o predomínio do clima tropical úmido. Os solos férteis e a proximidade com remanescentes de Mata Atlântica vão dar sabor à bebida na xícara.
O produtor lembra que o blend desse café é composto por 70% de café arábica e 30% de café conilon. O grão arábica também é baiano, oriundo principalmente de assentamentos e agricultura familiar da Chapada Diamantina. Já a torrefação, moagem e embalagem são realizadas em parceria com a Cooperativa Mista dos Cafeicultores de Barra do Choça e Região (Cooperbac).
Venda dos lotes de café é feita em feiras e mercearias regionais. Na imagem, Jaqueline e Leinha, que também produzem café
Globo Rural/Isadora Camargo
Cafés agroecológicos
Os cultivos de cafés agroecológicos têm crescido no Brasil. A apuração da Globo Rural lista algumas iniciativas que geram renda para comunidades rurais, que tem apoio do MST e assistência técnica de institutos federais e da Embrapa, embora não haja um levantamento oficial consolidado sobre o número total dessas produções.
Confira:
Amazonas – Café Apuí Agroflorestal (Idesam): em Apuí, no Amazonas, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) coordena o projeto Café Apuí Agroflorestal desde 2012. Com a participação de 59 famílias, o projeto promove a produção de café para regenerar florestas e fortalecer a descarbonização, segundo o relatório do Instituto de Estudos Amazônicos.
Minas Gerais – Quilombo Campo Grande (Café Guaií): localizado no Sul do Estado, na cidade de Campo do Meio, o quilombo é formado por aproximadamente 450 famílias que produzem o Café Guaií.
São Paulo – Projeto Café com Floresta (IPÊ): O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) desenvolve o projeto Café com Floresta desde 2001 em assentamentos de reforma agrária no estado paulista, também consorciado com espécies nativas da Mata Atlântica, conforme divulgado pela entidade.
Rondônia – Produção Indígena de Café Agroecológico: Na Terra Indígena Sete de Setembro, localizada entre Rondônia e Mato Grosso, o povo Paiter Suruí cultiva o robusta amazônico, um café agroecológico reconhecido como patrimônio cultural e imaterial de Rondônia. A produção envolve 150 famílias em 25 aldeias, utilizando práticas sustentáveis e conhecimentos tradicionais.




