Objetivo também é transferir tecnologias aplicadas na agricultura e pecuária, além de apoiar a produção de alimentos no país africano Brasil e Angola buscam estreitar relações para além dos laços culturais e da língua portuguesa que une os dois países e dos US$ 347 milhões provenientes de exportações do agro brasileiro para o parceiro africano, principalmente carne bovina e açúcar, em 2024. A meta agora é transferir tecnologias aplicadas na agricultura e pecuária ao outro lado do Atlântico e apoiar a expansão da produção de alimentos no país africano, com o objetivo de atingir a autossuficiência nos próximos dez anos.
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Mas não é apenas o conhecimento gerado no setor produtivo do Brasil que os angolanos buscam. Eles querem que agricultores brasileiros invistam no país. Áreas mapeadas em ao menos quatro províncias podem ser concedidas a estrangeiros para cultivo de grãos e fibras e criação de animais.
Uma missão de empresários brasileiros está em Angola nesta semana para reuniões com autoridades locais, empresas e produtores do país. O foco é encontrar oportunidades de parcerias para atuação dos brasileiros no setor agrícola angolano.
“Esta missão pretende familiarizar os empresários com a nossa realidade agrícola e nosso potencial. Temos disponíveis áreas em várias partes do país. São de 120 mil a 140 mil hectares. As áreas existem, mapeadas, e existem em outros corredores de desenvolvimento”, disse Castro Camarada, secretário de Estado de Agricultura e Pecuária de Angola do Ministério da Agricultura e Florestas, após reunião com os brasileiros.
O governo local lançou planos para fomentar a produção e atrair investidores com know-how, como os brasileiros. O país é deficitário na produção de trigo e arroz.
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“Queremos intensificar a produção dos principais produtos da cesta básica. Em raízes e tubérculos, temos uma produção considerável, como de mandioca e batata-doce, de fruteiras também, como banana, que já exportamos”, disse Camarada. “Mas em culturas como o arroz, temos déficit. A produção é de 50 mil toneladas e temos necessidade da ordem de 300 mil a 350 mil toneladas”, completou.
Também há déficit em carnes. Angola importa muita carne de frango, pois não há criação de aves comerciais em larga escala. A produção de ovos tem crescido, mas ainda é tímida, até mesmo para atender à demanda dos programas de alimentação escolar, ressaltou a embaixadora do Brasil em Angola, Eugênia Barthelmess.
O processo de concessão das terras, porém, não é simples. Depende do aval de algumas instâncias do governo — desde lideranças tribais locais ao governador — e pode chegar ao presidente da República caso ultrapasse 10 mil hectares. São contratos que podem ser renovados e sem apresentação de grandes garantias reais. Atualmente, o preço do hectare de terra rural em Angola está em menos de R$ 1, mas não é possível adquirir áreas diretamente. Esse valor será reajustado em breve, mas mesmo assim o processo pode ser atrativo, disseram autoridades angolanas em conversa com brasileiros ontem em Luanda.
A operação de investimento demanda atenção dos produtores brasileiros. Não é possível dar fazendas no Brasil como garantia. Os financiamentos oferecidos contemplam carência de três anos e até juros negativos, já que a inflação do país beira os 30% ao ano. Angola também não tem regras ambientais definidas.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, participa de parte da viagem, antes de ir para a China e se juntar à comitiva presidencial. Cerca de 30 empresários brasileiros fazem parte da comitiva. “Entendemos que há oportunidades recíprocas para os dois países. Temos semelhança de clima, terra, água, oportunidades na agricultura tropical”, disse Fávaro.
Segundo ele, há avanços em protocolos e memorando assinados com Angola para viabilizar a presença de pesquisadores da Embrapa no país em breve.
A missão irá percorrer 1,4 mil quilômetros para visitar fazendas em duas províncias do país, onde há grãos e pecuária de corte. Os empresários também visitarão ao menos três áreas já selecionadas pelo governo de Angola para implantação de projetos agrícolas.
O jornalista viajou a convite do Mapa