
Mesmo com juro alto e incertezas sobre o próximo Plano Safra, feira teve resultado bastante positivo, segundo representantes do agro O movimento na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), sinalizou uma recuperação do segmento de máquinas agrícolas, ainda que os juros estejam altos no Brasil e que haja incertezas sobre o Plano Safra 2025/26, disseram representantes do agro. A edição deste ano da feira terminou na sexta-feira (2/5).
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Produtores que fizeram uma boa gestão financeira na última safra e foram ao evento para renovar frota, investindo milhões, animaram os fabricantes. É o caso do agricultor José Reis Vilela, de General Carneiro (MT), que investiu R$ 3,15 milhões em uma plantadora lançada na feira e um subsolador, um equipamento para aplicação de adubo. Com as compras, o produtor de grãos e gado de corte quer melhorar a qualidade de suas áreas. Ele e o genro, Nataniel Vilanova, fecharam a compra de um equipamento da holandesa Fendt, do grupo AGCO, que é considerada a marca de luxo das máquinas agrícolas.
Vilela participa da feira há alguns anos, e o negócio fez parte de uma renovação de frota que Vilela planejou com antecedência. Ao Valor, o produtor contou que aproveita a ocasião para se informar sobre as tendências do segmento em cada ano.
Ele é da terceira geração de uma família com tradição na pecuária, mas que em 2022, sob seu controle administrativo, decidiu migrar do cultivo de arroz para a soja de verão e milho safrinha. A razão foi estratégica, disse ele: preços e cultivares melhores nos grãos, além de as exportações do produto brasileiro estarem aquecidas. Vilela, que participou de todos os dias da feira, só fechou o negócio na quinta-feira (1°/5), depois de levantar alguns orçamentos.
O mineiro William Parreira saiu feliz da Agrishow. Produtor de silagem de milho em Piedade, ele comprou dois tratores Massey Ferguson, de 250 cv e 80 cv, para renovar sua frota. “Não fiz financiamento porque os juros estão impeditivos. Comprei com recursos próprios, dei entrada e vou terminar de pagar até novembro”, disse Parreira, que ainda tinha planos de comprar uma forrageira. O produtor, dono também de uma agropecuária em Igarapé, não revelou quanto pagou pelos tratores, mas garante que fez um bom negócio.
À espera do novo Plano Safra
Os investimentos dos produtores também entram na soma final da feira, que resultou em R$ 14,6 bilhões de “intenções de negócios”, o que representou um aumento de 7% em relação a 2024, quando os negócios somaram R$ 13,6 bilhões. “Os pedidos foram feitos, mas grande parte das intenções de vendas está vinculada ao novo Plano Safra. Esse valor anunciado depende das condições das taxas e do volume de juros para se confirmar”, disse João Carlos Marchesan, presidente da feira, em entrevista coletiva.
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Ele ressaltou que os números referem-se apenas às vendas de máquinas agrícolas, equipamentos de irrigação e armazenamento. Caminhões, picapes, aviões, insumos, agricultura de precisão e outros itens não entram na conta.
Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), disse que o desempenho ficou próximo do que se previa antes da feira. A projeção da entidade era de aumento de 8,2% em relação à edição de 2024.
“A maioria dos fabricantes de máquinas agrícolas está saindo feliz porque vendeu mais do que no ano passado”, afirmou. Em 2024, as intenções de negócios cresceram 2,4% em comparação com o ano anterior.
Juro alto
Ainda que tenham ficado satisfeitos com os resultados da feira, os representantes da Abimaq também observam que, com a taxa Selic em 14,25%, o aporte de recursos para a equalização de juros terá que ser maior no próximo Plano Safra. “Com taxas que chegam a 21% no banco privado, fica difícil para o produtor investir”, disse Marchesan.
Ressabiado com as incertezas da economia, o produtor Mauro Minoru Yamauti, que cultiva cana-de-açúcar e amendoim em Pirangi (SP), decidiu não fechar compras durante a Agrishow. Recentemente, ele investiu R$ 400 mil no plantio do amendoim, que não se desenvolveu, o que fez Yamauti ter prejuízo. “Como as condições de crédito estão difíceis, neste ano, só vou ficar de curioso, vendo se tem novidade, outras cultivares, para me preparar para a próxima edição”, contou.
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Para Carlos Aguiar, diretor de Agronegócio do Santander, o ambiente não é ideal para os produtores tomarem novos empréstimos, já que o setor vive uma “ressaca” de endividamento. Em parte, diz ele, esse quadro é consequência de um descompasso entre os custos de produção e a renda dos produtores, o que deve perdurar por até três safras.
Boas colheitas
Ainda assim, Leonildo Colombo Neto, diretor de operações da fabricante de máquinas e equipamentos Indústrias Colombo, aposta em recuperação. Para ele, 2025 é um ano de retomada de negócios para indústria de máquinas, em especial porque a colheita de várias culturas será maior do que a da safra passada. É o caso de grãos como a soja e de cultivos de alto desempenho, como feijão e amendoim, que são mercados-chave para o grupo.
As vendas da companhia na feira cresceram 7% em comparação com o resultado de 2024. Além disso, afirmou o executivo, foi possível ampliar as “conexões internacionais, com visitantes de dez países”.