Empresa indiana, que se instalou no Brasil em 2016, passou de uma venda anual de 200 unidades para 2.980 no ano fiscal de 2024 Em menos de dez anos, a indústria indiana de tratores Mahindra, que se instalou no Brasil em 2016, passou de uma venda anual de 200 unidades para 2.980 no ano fiscal de 2024, encerrado em março passado. Enquanto o setor de máquinas agrícolas fechou com uma queda de quase 20% nas vendas, a Mahindra registrou um aumento de 44%, e projeta para este ano crescer mais 23%.
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Em meio a esse avanço, a empresa, que informa ter 7,8% do mercado, planeja acelerar a construção da nova planta em Dois Irmãos (RS), que teve problemas com enchentes e licenças ambientais. A obra vai triplicar a capacidade de produção da atual fábrica para 9.000 tratores por ano, com um investimento inicial de R$ 55 milhões e previsão de chegar a R$ 100 milhões em cinco anos. A nova fábrica, que vai substituir a atual, deve ser inaugurada em 2026.
“O foco da Mahindra sempre foi o agricultor familiar, com seus tratores na faixa de 25 cv a 110 cv, que foi o segmento que mais vendeu no ano passado, representando 78% das vendas [de todas as empresas] ante os 65% de 2023. Por isso, as marcas que nunca deram bola para o pequeno produtor, agora estão dando”, disse Jak Torreta, CEO da Mahindra no Brasil, em entrevista exclusiva à reportagem durante a Agrishow, feira de tecnologia agrícola, em Ribeirão Preto.
Segundo ele, a marca já acumula 12 mil tratores no Brasil, número alcançado graças à possibilidade de financiamentos pelas linhas com juros subsidiados, à economia e à resistência das máquinas. O preço dos tratores vai de R$ 100 mil (modelo de 25 cv) a R$ 420 mil (de 110 cv).
Outros números mostram o avanço da indiana no mercado desde que chegou ao Brasil. A indústria tinha seis concessionárias em 2016, chegou a 90 e espera fechar o ano com 100. A maioria das vendas está concentrada nas regiões Sul e Sudeste do país, mas a Mahindra também está no Centro-Oeste e desenvolve mercado no Nordeste, com destaque para Bahia, Pernambuco e Sergipe.
Comércio internacional
De acordo com Torreta, a unidade brasileira também passou a exportar tratores para outros países da América do Sul e vai administrar a venda das máquinas importadas da fábrica indiana. “O plano é simplificar bastante essa operação e desenvolver uma rede de distribuidores na América Latina. Na negociação com a Índia, tem a diferença de fuso de pelo menos oito horas e meia e a distância, sem falar no problema da língua”, disse.
Hoje, segundo o executivo, as vendas para a América do Sul não chegam a mil unidades, mas com a exportação direta pela unidade brasileira deve chegar a 2.000 tratores “em poucos anos”.
Juros altos
Apesar do otimismo com o futuro, Torreta não esconde a preocupação com o cenário atual de financiamento de máquinas agrícolas, com taxas de juros nos bancos privados que passam de 20% e dificuldade de acesso às linhas subsidiadas.
“No ano passado, tivemos um primeiro trimestre ruim de vendas, em abril e maio houve a reação porque o governo liberou dinheiro novo para financiamentos. Neste ano, inverteu. O primeiro trimestre foi bom, mas abril está difícil e acho que a reação só vem no segundo semestre, dependendo do volume e juros do novo Plano Safra”, relatou.
A ferramenta de financiamento que mais cresce atualmente, segundo Torreta, é o consórcio Mahindra, com taxas mais baixas e até 120 meses para o pagamento. Ele diz que o banco Mahindra Finance oferece juros menores, de 16% a 17%, com a ajuda da fábrica e do concessionário, mas o percentual ainda é muito alto para o agricultor familiar, comparado com os juros na casa de 5% do programa subsidiado pelo governo.
Diante da taxa Selic acima de 14% e da falta de dinheiro do governo até para completar as linhas que ele anunciou em 2024, Torreta diz que é preferível que o novo plano venha com juros um pouco maiores no Pronaf, menos subsídio e um volume maior de recursos para atender a mais produtores.
Na Agrishow, que se encerra nesta sexta-feira (2/5), a Mahindra apresenta três lançamentos: a retroescavadeira VX 90, primeira máquina fora da linha de tratores, implementos e pulverizadores, o Trator OJA 3140 de 40 cv e uma plantadora de batata. O equipamento da linha amarela foi um pedido dos concessionários e deve começar a ser vendido em julho.
Expectativa de vendas
O executivo diz que a expectativa de vendas na Agrishow não é alta neste ano.
“Nós participamos de mais três feiras nacionais (Coopavel, Expodireto e Afubra). Apesar de os organizadores sempre anunciarem recordes de vendas, eu não acredito muito nisso não. A gente sente que o agricultor usa a feira para conhecer os produtos, faz várias visitas, mas o apelo para vendas não é tão alto como foi no passado.”
Torreta não divulga o faturamento da Mahindra no Brasil, apenas o faturamento anual global de U$ 22 bilhões da marca, que fabrica 420 mil tratores por ano e é líder de mercado na Índia.