
Apesar da retração, executivos estão otimistas com uma recuperação gradual ainda neste ano Em linha com a maior parte das empresas do agronegócio, a Kepler Weber registrou queda nos resultados do primeiro trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024. O lucro líquido da companhia, que produz silos e soluções pós-colheita, caiu 51% e somou R$ 25,6 milhões. A receita operacional líquida recuou 6,1%, para R$ 357,2 milhões.
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Apesar da retração, os executivos da Kepler estão otimistas com uma recuperação gradual ainda neste ano. A expectativa é de retomada das margens e do volume de negócios, especialmente entre abril e outubro, período da principal colheita do país e de liberação dos recursos do Plano Safra.
Segundo Bernardo Nogueira, CEO da companhia, a queda no preço das commodities reduziu as margens dos produtores e agroindústrias no ano passado, enquanto os juros altos afastaram investimentos. “Além disso, a base de comparação é bastante desafiadora, já que o primeiro trimestre de 2024 foi impulsionado por pedidos relacionados à safra recorde do ciclo 2022/23”, afirmou.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da Kepler totalizou R$ 52,9 milhões, queda de 41,5% na comparação anual. A margem Ebitda recuou 9 pontos percentuais, ficando em 14,8%.
“A última vez que tivemos a Selic na casa dos 14%, entre 2015 e 2017, nossa margem ficou negativa. Agora estamos falando de 15% — o que mostra que a companhia alcançou um novo patamar de rentabilidade”, disse Renato Arroyo, diretor financeiro e de relações com investidores.
Um dos fatores que explicam essa resiliência, segundo Nogueira, é a diversificação do portfólio e das atividades da companhia. O setor de Reposição e Serviços registrou alta de 28,6% na receita líquida no trimestre, com R$ 73,1 milhões. Nessa divisão estão incluídas as operações da Procer — empresa de monitoramento de grãos armazenados — que contribuiu com R$ 13,3 milhões, em linha com o mesmo período do ano anterior.
Sobre a Procer, a Kepler anunciou nesta terça-feira uma parceria com a XP Investimentos. Pelo acordo, os clientes da Procer serão prospectados para utilizar serviços da corretora, como operações de hedge, proteção de margens, gestão de caixa e investimentos. Segundo Nogueira, o contrato prevê remuneração por performance e pode gerar incremento superior a 20% no lucro líquido anual da companhia.
A Procer atende atualmente 1,5 mil clientes, com 2 mil unidades de armazenagem conectadas. Em 2024, a plataforma monitorou cerca de 60 milhões de toneladas de grãos, movimentando valor superior a R$ 120 bilhões. A meta da XP é alcançar 100% da base de clientes da empresa.
Na frente internacional, a Kepler Weber registrou crescimento de 5,6% na receita do primeiro trimestre, somando R$ 41 milhões. A atuação concentra-se na América Latina, com destaque para Paraguai e Uruguai, e prevê aumento das vendas para a Argentina. “A Argentina ficou anestesiada, sem investimentos, durante os últimos 20 anos e não tivemos nenhum faturamento no país. Em 2024, registramos R$ 5 milhões e devemos chegar a R$ 20 milhões neste ano, fruto de mudanças de política recente”, explicou Nogueira. A companhia está presente em 53 países.
Por outro lado, a receita caiu nos demais setores, com pior desempenho em Portos e Aeroportos, que recuou 77%. “A característica desse segmento são projetos de grande porte que dependem de licitações complexas e prazos longos de execução”, afirmou o CEO.
No segmento de fazendas, o mais representativo do faturamento, com 30% do total, a receita recuou 0,2%, para R$ 131,7 milhões. Na área de agroindústrias, houve queda de 4,9%, para R$ 100,8 milhões.
Com relação às expectativas para 2025, a projeção é que o PCA — linha do Plano Safra destinada à armazenagem — tenha mais que os R$ 7,8 bilhões disponíveis em 2024 (dos quais R$ 2,95 bilhões foram contratados), ainda que com juros mais elevados. “Trabalhamos com taxas próximas de 10,5%. Entretanto, se o produtor estiver capitalizado, mesmo que os juros não sejam atrativos, as vendas ocorrem”, disse Arroyo.
A tese da Kepler é que o déficit de armazenagem — estimado em 30% da produção nacional — exige investimentos contínuos de indústrias, cooperativas e produtores. Além disso, a safra recorde amplia o volume financeiro disponível para novos aportes. “Também dependemos dos acordos comerciais entre Estados Unidos e China e de como isso impactará o Brasil. Se nossas exportações de grãos crescerem, veremos ainda mais investimentos no setor”, concluiu Nogueira.
Sobre o “tarifaço”, Nogueira lembrou que a Kepler não é afetada diretamente pelas decisões de outros governos, pois suas operações estão concentradas no Brasil e a atuação internacional ocorre por meio de exportações.




